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Há que dar um salto para o sol e, na verdade, isso só será possível quando conseguirem saltar para fora da sombra. Zaratustra chama-lhes penitentes do espírito. Homens de faces pálidas que esperam por qualquer coisa que há-de vir, não se sabe quando, numa fome que quase os mata. Têm desdém no olhar, rugas de repugnância no canto dos lábios, nucas de touro. Seria interessante ver-lhes um olhar de anjo mas o seu conhecimento ainda não os ensinou a sorrir nem a sair da sombra das paixões que traem a ascensão ao éter da beleza. Deviam descansar, com braços negligentemente colocados atrás da nuca.
É assim o descanso dos heróis, dominando o seu repouso. Conservar os músculos descontraídos e a vontade desenvolta é o grande desafio que se impõe aos homens sublimes. Não será ao poder clemente e condescendente que se chamará beleza? A ninguém se exige tanta beleza como aos homens sublimes porque é nessa vaidade, ao olharem-se ao espelho, que residirá o verdadeiro segredo da alma. A derradeira bondade que se convola em virtude. Não podemos esperar de Zaratustra, um visionário do além, a quem o mundo parece por vezes saído de um sonho, que todos os sublimes sofram as metamorfoses desejáveis de modo a ascenderem ao patamar bafejado pelo sol das virtudes.
Zaratustra é um sonhador, que desce da solidão da montanha em passos de dança, com o olhar límpido e lábios virgens de qualquer desgosto. Zaratustra renasce quando se mistura com os homens e o seu espírito sofre as 3 metamorfoses: de besta de carga a leão e de leão a menino. Zaratustra é inocência e esquecimento, um novo recomeçar, uma roda que gira por si mesma, descoberta e conquista do seu próprio mundo.
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