quinta-feira, 29 de julho de 2010

Diotima e o nascimento de Eros

Quando nasceu Afrodite, banqueteavam-se os deuses entre os quais se encontrava também o filho da Prudência, Recurso. Depois que acabaram de jantar, veio para esmolar, os restos do festim, a Pobreza, e ficou na porta. Ora, Recurso, embriagado com o néctar, penetrou no jardim de Zeus e, pesado, adormeceu. Foi então que Pobreza o avistou e observando o jovem ali desavisado imaginou imediatamente remediar sua penúria concebendo um filho de Recurso. Deitou-se ao lado do deus e, enlaçando-o, a ele, que mal percebia o que se passava, conseguiu. Pobreza, seu intento e pouco depois deu à luz o filho dessa conjunção fortuita o qual foi chamado Amor. Eis porque ficou companheiro e servo de Afrodite o Amor, gerado no natalício da deusa da beleza, tornou-se amante do belo; e por ser filho de Recurso e Pobreza foi esta a condição, contraditória, que caracteriza sua essência.

Primeiramente, é sempre pobre, e longe está de ser delicado e belo, como a maioria imagina, mas é duro, seco, descalço e sem lar, sempre por terra e sem forro, deitando-se ao desabrigo, às portas e nos caminhos, porque tem a natureza da mãe, sempre convivendo com a precisão. Segundo o pai, porém, ele é insidioso com o que é belo e bom, e corajoso, decidido e enérgico, caçador terrível, sempre a tecer maquinações, ávido de sabedoria e cheio de truques; e sua natureza não nem mortal nem imortal. No mesmo dia, ora germina e vive, quando enriquece; ora morre e de novo ressuscita, graças à natureza do pai; e o que consegue sempre lhe escapa, de modo que nem empobrece o Amor nem enriquece, assim como também está no meio da sabedoria e da ignorância.
*Platão

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