Desde os tempos mais antigos, o homem indagou sobre a origem e o sentido do mundo, e frequentemente sobre o seu objetivo. As respostas, tentativas para essas questões, podem ser encontradas nos mitos, característicos de todas as culturas, mesmo as mais primitivas. Ele avançou além desses começos simples, em duas direções bem diferentes. Em uma delas, as suas ideias formalizaram-se em religiões, preconizando um conjunto de dogmas, usualmente baseados na revelação. O mundo ocidental, por exemplo, no final da Idade Média, era completamente dominado por uma confiança implícita nos ensinamentos da Bíblia e, além disso, por uma crença universal no sobrenatural.
A filosofia e, mais tarde, a ciência constituem o outro caminho para abordar os mistérios do mundo, embora a ciência não estivesse estritamente separada da religião, na sua história primitiva. A ciência encara esses mistérios como perguntas, com dúvidas, com curiosidade, e com tentativas de explicação, portanto, com uma atitude totalmente diferente da religião. Os filósofos pré-socráticos (jônios) iniciaram essa aproximação de modo diferente, buscando explicações “naturais”, nos termos das forças observáveis da natureza, como o fogo, a água e o ar. Esse esforço para entender a causalidade dos fenômenos naturais foi o início da ciência. Durante muitos séculos, depois da queda de Roma, essa tradição foi virtualmente esquecida; mas foi ressucitada na Alta Idade Média, e durante a revolução científica. Aumentou a crença de que a verdade divina não nos era revelada apenas por meio da Escritura, mas também pela criação de Deus.
É bem conhecida a declaração de Galileu sobre essa ideia:
“Eu penso que, na discussão dos problemas naturais, não devemos começar com a autoridade dos passos da Escritura, mas sim com experimentos sensíveis e demonstrações necessárias. Pois, do Verbo Divino procedem igualmente a Sagrada Escritura e a Natureza”.
E continuava dizendo que “Deus se nos revela igualmente e de modo admirável, tanto nas ações da Natureza, como nas sagradas sentenças da Escritura”. Ele pensava que um Deus que governa o mundo com o auxílio de leis eternas inspira, finalmente, tanta confiança e fé como um que intervém constantemente no curso dos eventos. Foi essa forma de pensar que ocasionou o nascimento da ciência, como agora podemos entender.
A ciência de Galileu não era uma alternativa para a religião, mas parte inseparável dela. Da mesma forma, muitos grandes filósofos, do século XVII ao século XIX – por exemplo Kant – incluíam Deus nos seus esquemas explicativos. A assim chamada teologia natural era, a despeito do seu nome, tanto ciência quanto teologia. O conflito entre ciência e teologia desenvolveu-se só mais tarde, quando a ciência explicava mais e mais processos e fenômenos da natureza por “leis naturais”, fenômenos e processos esses que anteriormente eram considerados inexplicáveis, a não ser pela intervenção do Criador, ou por leis especiais ordenadas por Ele.
Uma diferença fundamental entre religião e ciência reside, então, no fato de que a religião usualmente consiste em um conjunto de dogmas, dogmas muitas vezes “revelados”, diante dos quais não há alternativa, nem muita flexibilidade de interpretação. Na ciência, ao contrário, as explicações alternativas são virtualmente um prêmio, e com facilidade uma teoria é substituida pela outra. A descoberta de um esquema alternativo é muitas vezes fonte de grande exultação. O valor de uma idéia científica só em pequena escala é julgado por critérios extrínsicos à ciência, porque, no seu conjunto, é arbitrado inteiramente por usa eficácia na explicação e, às vezes, na previsão.
Curiosamente, os cientistas tem sido bastante desarticulados, quanto a uma definição abrangente da ciência. No auge do empirismo e do inducionismo, o objetivo era o mais das vezes descrito como sendo a acumulação de novos conhecimentos. Em contraste, quando se lêem os escritos de filósofos da ciência, tem-se a impressão que para eles a ciência é uma metodologia. Conquanto ninguém queira pôr em dúvida a indispensabilidade do método, a preocupação quase exclusiva de alguns filósofos da ciência com o mesmo desviou a atenção do objetivo mais fundamental da ciência, que é de aumentar nosso auto-entendimento e o do mundo em que vivemos.
A ciência tem diversos objetivos. Ayala (1968) descreveu-os da seguinte forma.
1 – A ciência procura organizar o conhecimento de forma sistemática, esforçando-se para descobrir padrões de afinidade entre fenômenos e processos.
2 - A ciência empenha-se no fornecimento de explicações para a ocorrência dos eventos.
3 - A ciência propõe hipóteses explicativas, que devem ser testadas, isto é, acessíveis à possibilidade de rejeição.
Mais amplamente, a ciência procura juntar a vasta diversidade dos fenômenos e processos da natureza, sob o menor número de princípios explicativos.
*Ernst Mayr
A filosofia e, mais tarde, a ciência constituem o outro caminho para abordar os mistérios do mundo, embora a ciência não estivesse estritamente separada da religião, na sua história primitiva. A ciência encara esses mistérios como perguntas, com dúvidas, com curiosidade, e com tentativas de explicação, portanto, com uma atitude totalmente diferente da religião. Os filósofos pré-socráticos (jônios) iniciaram essa aproximação de modo diferente, buscando explicações “naturais”, nos termos das forças observáveis da natureza, como o fogo, a água e o ar. Esse esforço para entender a causalidade dos fenômenos naturais foi o início da ciência. Durante muitos séculos, depois da queda de Roma, essa tradição foi virtualmente esquecida; mas foi ressucitada na Alta Idade Média, e durante a revolução científica. Aumentou a crença de que a verdade divina não nos era revelada apenas por meio da Escritura, mas também pela criação de Deus.
É bem conhecida a declaração de Galileu sobre essa ideia:
“Eu penso que, na discussão dos problemas naturais, não devemos começar com a autoridade dos passos da Escritura, mas sim com experimentos sensíveis e demonstrações necessárias. Pois, do Verbo Divino procedem igualmente a Sagrada Escritura e a Natureza”.
E continuava dizendo que “Deus se nos revela igualmente e de modo admirável, tanto nas ações da Natureza, como nas sagradas sentenças da Escritura”. Ele pensava que um Deus que governa o mundo com o auxílio de leis eternas inspira, finalmente, tanta confiança e fé como um que intervém constantemente no curso dos eventos. Foi essa forma de pensar que ocasionou o nascimento da ciência, como agora podemos entender.
A ciência de Galileu não era uma alternativa para a religião, mas parte inseparável dela. Da mesma forma, muitos grandes filósofos, do século XVII ao século XIX – por exemplo Kant – incluíam Deus nos seus esquemas explicativos. A assim chamada teologia natural era, a despeito do seu nome, tanto ciência quanto teologia. O conflito entre ciência e teologia desenvolveu-se só mais tarde, quando a ciência explicava mais e mais processos e fenômenos da natureza por “leis naturais”, fenômenos e processos esses que anteriormente eram considerados inexplicáveis, a não ser pela intervenção do Criador, ou por leis especiais ordenadas por Ele.
Uma diferença fundamental entre religião e ciência reside, então, no fato de que a religião usualmente consiste em um conjunto de dogmas, dogmas muitas vezes “revelados”, diante dos quais não há alternativa, nem muita flexibilidade de interpretação. Na ciência, ao contrário, as explicações alternativas são virtualmente um prêmio, e com facilidade uma teoria é substituida pela outra. A descoberta de um esquema alternativo é muitas vezes fonte de grande exultação. O valor de uma idéia científica só em pequena escala é julgado por critérios extrínsicos à ciência, porque, no seu conjunto, é arbitrado inteiramente por usa eficácia na explicação e, às vezes, na previsão.
Curiosamente, os cientistas tem sido bastante desarticulados, quanto a uma definição abrangente da ciência. No auge do empirismo e do inducionismo, o objetivo era o mais das vezes descrito como sendo a acumulação de novos conhecimentos. Em contraste, quando se lêem os escritos de filósofos da ciência, tem-se a impressão que para eles a ciência é uma metodologia. Conquanto ninguém queira pôr em dúvida a indispensabilidade do método, a preocupação quase exclusiva de alguns filósofos da ciência com o mesmo desviou a atenção do objetivo mais fundamental da ciência, que é de aumentar nosso auto-entendimento e o do mundo em que vivemos.
A ciência tem diversos objetivos. Ayala (1968) descreveu-os da seguinte forma.
1 – A ciência procura organizar o conhecimento de forma sistemática, esforçando-se para descobrir padrões de afinidade entre fenômenos e processos.
2 - A ciência empenha-se no fornecimento de explicações para a ocorrência dos eventos.
3 - A ciência propõe hipóteses explicativas, que devem ser testadas, isto é, acessíveis à possibilidade de rejeição.
Mais amplamente, a ciência procura juntar a vasta diversidade dos fenômenos e processos da natureza, sob o menor número de princípios explicativos.
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