sexta-feira, 23 de julho de 2010

Éden

Uma mulher a medir.

Uma mulher de braços estendidos
transfere comprimentos ou
proporções.

Ela calcula
o sono desse homem que nunca
mais dormirá.

É preciso que se saiba
que tudo começa
pela ampliação
fotográfica
de uma vírgula.



Isso
tece um som,

Um afrouxar
repentino,
esse líquido ladeando uma luz
para uma fotografia
em que o cinzento predomina,

Aquilo que vês é composto
de um homem e uma mulher
justamente.

Cadeirão. Sentado a um canto.
Estás sozinho na sala, Fumas
talvez, de queixo nos joelhos.

Entras
outra vez só
num
som da rua.

Vês sombras azuis
correndo
e no visor
a carne de comer.



Palavras penduradas
em que o cinzento predomina.

A gasolina pintada a cor-de-rosa
em redor de uma casa
aflui.

O jardim arde.

Uma pedra cai
e tu não és mais pesado.

Perfila-se um fim
como depois da história de uma paixão.

Mas evita-se um sentido cinético do mundo.

E a necessidade reencontrada
do isolamento.

Também
o teu cadeirão
se não articula
com o que o autor quer dizer?

Sorris. Apreendes uma separação.



Como é que se antecipa
o gaguejar,
um sistema de coordenadas?

O mundo de um filme
de longuíssima duração
não te subtrai.

Porque
este não é o mundo
que entra nos teus olhos.

É o fim do dia. É o fim das legendas.

A escuridão não tem pó
como a mulher.

Lateralmente
o fumo ondula
semelhante
a uma pulsação.

Mais tarde.

Um cansaço no quarto e na
cama o tempo é não gerado.

*Jean Daive

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