quinta-feira, 29 de julho de 2010

Anti-ode

Não ser objeto de esperança alheia
É uma opção às domesticações compulsórias.
Ex-passo de uma masmorra etérea,
Horas de uma partida irreprimível.
Nas veredas do que se vai gravando
A vontade caiu como um obelisco
E regressou em mim desenferma,
Pra tornar a cair e regressar enfim
Como tudo o que é vida e alma.

Ninguém pediu pra estar aqui, ou clamou mil vezes.
Meu corpo perdido vaga por ruas imaginárias,
Um sarcófago de mãos e impossível o leva
Aqui, ali, mais adiante e em toda parte.
Sussurro feito grito, engenho que deitou ferrugem.
A perdição é mais antiga que qualquer silêncio.
Meu Ser divido subsiste ao fascismo do possível...
Jaz a esmo o que sou, como uma rosa violentada,
Como um prisioneiro come no terror a própria carne.
Que restará desse mundo que não aconteceu?

Nós fomos criaturas extraordinárias um dia!
Talvez na suposição de alguém mais reles.
Existe um frisson obsceno nos suicidas
Homens puros, bestas indomadas.
Ninguém alcançará esse gral de entrega
Sem perder partes pelo caminho.
Qualquer morte é heróica, ou ridícula
De acordo com o gral de sedução
A que a alma vai sendo exposta.

Em tempos anteriores a esse
Os bastardos eram párias do divino.
A sombra por sobre a porta reaparece aguda
Com a intransigência de um rei antigo
A espalhar crenças abandonadas em todo canto.

Uma retina perdida a esquadrinhar o horizonte,
Contador analfabeto do incalculável
A prender o intangível como dentes ou unhas.

Você realmente nunca aprendeu a voar
Só dançava sobre fios de navalha
Enquanto seus pés ainda estavam anestesiados.
Agora a purgação vem pela carne,
Dais ao mundo o que teu nunca foi
Arremetais ao céu a turba de tua infâmia.
Eles te violentaram enquanto ainda eras um feto,
Já és livre, bebe do sangue de quem quiseres...

Que o mundo acabe em desgraça plena
Que o mundo floresça como uma primavera.
Alcalóides são mais eficazes que confissões,
Não há uma forma adequada de se pedir perdão.

E esse mar sou todos os Eus
Desmedido, tormentoso, sem termo.
O desabrigo é um estado essencialmente líquido,
Extemporaneamente em qualquer lugar vazio
Onde existir possa ser regresso e memória.
Evade, invade, flutua na canção do vento
Traga despojos a contra gosto do dono,
Serve a mesa como quem conta um segredo
No próximo piscar de olhos tudo será cinzas.


*Leandro M. de Oliveira

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