domingo, 28 de setembro de 2008

TV e Mídia, técnicas de controle ou democratização cultural?



Ao longo dos séculos o nosso modelo de sociedade sofreu de uma domínio da informação por parte de algumas instituições civis e classes sociais. Essa prática é notada desde a antiguidade clássica, onde só os membros (Cidadãos) da Pólis podiam na antiga grécia participar de discussões sobre eventos que acaso assolavam a cidade-estado, julgamentos “públicos” e etc. Assim também procederam os Romanos, onde só os cidadãos e em especial os patrícios podia gozar plenamente de direitos políticos, participando em uma forma estreita de toda a sorte de decisões a respeito de obras públicas, campanhas militares e entre outras coisas tendo acesso rápido a todos os progressos científicos da época, todo o resto da população foi massa de manobra. Chega-se então à Idade Média, onde os Senhores Feudais, sobretudo articulados em redor do que era interessante à Igreja, censuravam, escondiam, matavam (isso quando a própria Igreja não o fazia diretamente, vide “santa inquisição”, cruzadas, o fato de a leitura da bíblia ser censurada, a proibição da usura aos homens comuns enquanto o vigário de Roma morava no mais luxuoso castelo da Europa. Só pra citar alguns eventos). Na época acreditava-se que era em nome de “Deus”, mas no final esse deus se resumia apenas a um sentido aguçado de busca pela perpetuação da ignorância de muitos para o usufruto de poucos. A ciência novamente era monopolizada, assim como a informação e a educação. Vem a revolução Burguesa na França e o que acontece é em efeitos práticos que o cetro do domínio sai das mãos dos nobres e em parte do clero para as mãos dessa classe social emergente (Burguesia). Sucedem-se outras revoluções importantes como a industrial, mas praticamente todas funcionando à serviço daquela elite que tomara a bastilha anos atrás. Já em meados século XX, no segundo pós-guerra inicia-se nos E.U.A principalmente, uma produção maciça de aparelhos de TV e esse veículo de comunicação, com a promessa de informar numa maneira descomplicada invade os lares país afora, tendência essa que foi seguida pelos outros países do mundo. Hoje em vias do Século XXI, não é exagero dizer que a TV é para o homem médio uma espécie de Aiatolá, não é mais necessário ler, a TV interpreta as escrituras, não é mais necessário pensar, a TV sempre tem “especialistas” em fazer isso por nós. Desse exame surgem questões a meu ver pertinentes. Algo como, existe um sentido palpável de ética no meio televisivo? A opinião pública realmente existe? Se existe, será ela livre ou condicionada? Pra onde a mídia televisiva pretende nos guiar? O tema é extenso e minucioso, todavia, para uma primeira análise deixo o texto que se segue, com algumas conceituações e constatações acerca desse gigante do domínio informativo. 

Dos Conceitos

& Mídia advém de Medium, intermediário entre quem fala e outro que ouve (emissor e receptor). Sua efetiva realização reside em tornar possível a troca entre quem emite um sistema de sinais (imagens, sons, letras, etc.) e quem os recebe. No caso da televisão, trata-se de um intermediário eletrônico.


& Opinião vem do grego doxa, aparência, opinião. É uma derivação do verbo Dokio, conjeturar. São os sofistas (séc V a.C, Grécia antiga) os primeiros a movimentar a doxa na vida pública da cidade. Com este conceito os sofistas rompem com a teoria dos dois mundos de Platão e colocam a realidade como uma construção a partir do movimento das aparências. Com a doxa os sofistas inauguram uma nova maneira de linguagem: prática, concreta de classe, artifício de oratório para a defesa de interesses privados e públicos, política.

& Público é tudo aquilo que pode ser visto e ouvido por todos com o maior alastramento possível. É movimento contínuo das ações humanas que se mostram e engendram a cidade e suas conjunções materiais e imateriais.

Televisão e Economia de Mercado

O medium televisivo é um sistema informativo homólogo aos códigos da economia de mercado, sustenta o filosofante Muniz Sodré. A tevê funciona junto a uma indústria de bens materiais e culturais. Ela é homogênea às relações entre produtor e consumidor. Assim como os modos de produção são formados a partir de uma demanda de consumidores, o médium televisivo organiza seu sistema identificando para dividir, classificando para censurar e serializando para lucrar. Daí a estrutura deste sistema funcionar apoiado em pesquisas de opinião para selar contratos entre emissoras e empresas na venda de espaço e tempo televisivo em comerciais. O medium televisivo age de acordo com a economia de mercado à medida que faz de seu sistema informativo um modo de produção que determina consumidores, em níveis diferentes, em uma realidade constituída econômica-social.


Televisão e Informação

A dicotomia emissor/receptor da teoria da informação na televisão é inexistente. A linguagem formada na tevê não cria um espaço de diálogo, seus significantes (sempre rasteiros) são apenas transportados da realidade constituída e direcionados de forma univoca. Se o que configura as relações sociais são as trocas em seus mais variados níveis da sociedade, a tevê impede esta troca, anulando a opinião do receptor (no entanto, conserva a troca dentro dos códigos do mercado que definem produtor e consumidor). A tevê não comunica ou informa, mas impõem. Seu entendimento de comunicação e informação está dentro dos limites da produção, da disciplina e do controle social.


A Televisão e a Palavra de Ordem

O enunciado, unidade elementar da linguagem, é a palavra de ordem (Deleuze e Guattari). O que o tele-espectador recebe do sistema de sinais da tevê são imposições, não há preocupação alguma em que o tele-espectador concorde ou não com os conteúdos emitidos, mas apenas em recebê-los como ordens remetidas de outras ordens, redundância. O tele-espectador se configura como sujeito de enunciado, pois está capturado e preso aos códigos dominantes da lógica mercadológica. Os enunciados emitidos pela tevê são palavras de ordem porque fazem de seu espaço lingüístico-informativo um marcador de poder, uma função linguagem que ordena, que estabelece vereditos.

Televisão e Opinião Pública.

A tevê não emite a opinião pública. O medium televisivo faz da opinião pública uma quimera, um não ente (Espinosa). A tevê transforma a opinião pública em uma mercadoria de troca. Por isto ela é o resultado de sondagens feitas por instituições contratadas ou não (mas sempre dentro da ordem do capital) pelas próprias emissoras que organizam seu público e suas programações de acordo com a necessidade de se alcançar o ibope (medida televisiva que mensura a relação entre redes de tevê e mercado) pretendido. A opinião enquanto artifício composto pelo movimento efetivo dos encontros dos acasos no espaço público, na tevê, em razão de seu claro interesse mercadológico, torna-se impossível.


*Nos próximos posts mais sobre TV.

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