quarta-feira, 24 de setembro de 2008

Histórias de Zéfiro

Para os antigos gregos, Zéfiro era o vento do Oeste, que fecundava as éguas lusitanas e lhes tornava os potros velozes. Por estes dias, o vento parece vir de todos os lados e em nada se assemelha à brisa benfazeja, favorável, mensageira da Primavera. (A flora, que Zéfiro deveria agora afagar, anda num rodopio pelos ares...)
 
Zéfiro e Flora, de William-Adolphe Bouguereau

Mas, para os mesmos gregos, Zéfiro era ainda uma das partes de um triângulo amoroso. O belo e atlético Jacinto, por quem Zéfiro estava apaixonado, era amado também por Apolo, preferido do jovem que descuidava de todas as suas outras atividades para estar junto dele. Um dia, Apolo lançou um disco o mais alto que pôde para impressionar Jacinto. Este correu para o apanhar, mas o ciumento Zéfiro desviou-o com um sopro e o disco atingiu o jovem mortalmente. Apolo, desolado, tentou reanimá-lo, mas já nada havia a fazer. Inconsolável, aquele “Deus” rogou a todos quanto podia rogar, mas o Olimpo foi impassível com a sua dor. O amado Jacinto morreu, contudo Apolo não o deixou cruzar o estige, e fez com ele vivesse eternamente transformando-o numa flor que ganhou o seu nome.


A Morte de Jacinto, G. B. Tiepolo
 
É nítida a carga emocional dessa história, o que fornece substrato temático mais que suficiente para interessar artistas de vários quadrantes, mas por razões que me ultrapassam, ou não, as “belas artes” andaram durante muito tempo presas a um conservadorismo que fez pintores e escultores subverterem o propósito de pureza do ideal artístico, prendendo sua arte a grilhões moralistas (ou pseudo-moralistas na minha opinião). Quando Mozart compôs a ópera Apollo et Hyacinthus, aos onze anos de idade, o enredo foi "ligeiramente" alterado pelo libretista (o padre Rufinus Widl): Apolo e Zéfiro passaram a desejar Melia, irmã de Jacinto. (Que coisa não ?)

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