terça-feira, 10 de fevereiro de 2009

O despertar tardio


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O problema dos que esperam. Requer sorte e muito daquilo que é incalculável para um ser humano superior, no qual dorme a solução de um problema , chegue a agir – “irromper”, poder-se-ia dizer – no momento certo. Geralmente isso não ocorre e em todos os cantos da Terra há pessoas esperando que dificilmente sabem em que medida esperam, mas menos ainda que estão esperando em vão. Às vezes a chamada do despertar, aquele acontecimento fortuito que dá “permissão” para agir, só vem tarde demais – quando a melhor parte da juventude e a força para agir já se desgastaram na postura imobilizada; e quantos homens descobriram, para o seu horror, ao “se levantarem”, que seus membros haviam ido dormir e seu espírito já se encontrava demasiado pesado! “É tarde demais!” – disseram a si mesmos, tendo perdido a fé em si próprios e daí por diante inúteis para sempre. Poderia ser que no domínio do gênio, “Rafael sem as mãos” fosse, tomando a frase no seu sentido mais lato, não a exceção mas a regra? Talvez o gênio não seja tão raro: talvez o que seja raro sejam as quinhentas mãos necessárias à tiranização do “Kairós”, o “momento justo” – para apanhar o acaso da melhor maneira! 

*F. Nietzsche - Além do Bem e do Mal

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