1.
Só isso, a vida: um instante de prazer. Para longe, mágoas.
Se é tão breve a existência dos homens, que venha Baco
com as suas danças, coroas de flores, mulheres.
Hoje eu quero ser feliz - ninguém sabe nada do amanhã. (5.72)
2.
Fortuna que retalhaste sempre a vida,
desnaturando-lhe o vinho sem mistura,
agora que taverneira, não mais deusa,
te dedicas a misturar e a servir,
tens ofício mais conforme ao teu caráter. (9,180)
3.
Ouro, pai dos aduladores,filho da aflição e do cuidado,
não te possuir dá medo e possuir-te aflição. (9.394).
4.
Admirou-me ver, nas encruzilhadas, o brônzeo filho
de Zeus, tão invocado outrora, ora por terra,
e irado exclamei: "Oh trilunar que nos guarda dos males
e nunca foste derrotado, hoje tombaste".
Mas de noite, ao pé do leito, Héracles disse-me a sorrir:
"Embora deus, aprendi a sujeitar-me aos tempos". (9.441)
5.
A filha do gramático ajuntou-se e teve uma criança
do gênero masculino, feminino e neutro. (9.489)
6.
Muita coisa pode acontecer entre o cálice e o lábio. (10.32).
7.
Se lembrares, homem, como foste por teu pai gerado,
esquecerás as idéias de grandeza.
Platão, o sonnhador, encheu tua cabeça de empáfia
ao te chamar de imortal, planta celeste.
De barro és feito; por que a presunção? Só fala assim
quem se compraz em fingimentos vistosos.
Mas se buscas a verdade, recorda que vieste de um
ato de luxúria e de uma gota suja. (10.45)
8.
A inveja, segundo Píndaro, é melhor que a compaixão;
os invejados levam uma vida esplêndida,
enquanto aos desgraçados lamentamos. Mas eu não queria
ser rico por demais nem motivo de pena.
O meio termo é ideal, pois a opulência extremada
traz perigos e a extremada penúria insultos. (10.51)
9.
Vim nu à terra e nu irei para debaixo dela.
Por que canseiras vãs se o fim é só nudez? (10.58)
10.
A espera da morte é causa de aflição dolorosa;
dela se poupa o mortal quando perece.
Por conseguinte, não lamentes quem desta vida se foi:
além da morte não existe mais dor. (10.59)
11.
Enriqueces; e daí? Quando morreres, a riqueza por acaso
te seguirá ao te arrastarem para o túmulo?
No juntá-la gastaste o teu tempo de vida; não poderias
pagar por ela preço mais exorbitante. (10.60)
12.
Navegação perigosa, a vida: em meio às tempestades,
somos às vezes mais de lastimar que náufragos.
Tendo como piloto de nossas vidas a Fortuna,
incertamente é que vogamos no mar alto;
uns fazem boa viagem, outros ao contrário, mas
todos chegam ao mesmo porto sob a terra (10.65).
13.
Um palco, a vida, e uma comédia; ou aprendes a dançar, deixando
a sisudez de lado, ou lhe aguentarás as dores. (10.72)
14.
Acaso estamos mortos e só aparentamos
estar vivos, nós gregos caídos em desgraça,
que imaginamos a vida semelhante a um sonho,
ou estamos vivos e foi a vida que morreu? (10.82).
15.
Creio que o deus é também um filósofo.
As blasfêmias não o irritam desde logo,
mas com o passar do tempo, ele aumenta os castigos
dos mortais miseráveis e perversos. (10.94)
16.
Todos os mortais têm de pagar a dívida da morte
pois ninguém sabe se amanhã estará vivo.
Aprende bem esta lição e cuida de alegrar-te, oh homem,
que tens no vinho o esquecimento do teu fim.
Deleita-te com Afrodite nessa tua vida efêmera
e deixa a Fortuna cuidar de todo o resto. (11.62)
17.
Quem por desgraça se casou com mulher feia
vê o escuro da noite quando acende as lâmpadas.(11.287)
18.
Toda mulher desperta cólera, salvo em dois bons momentos:
um quando na cama, o outro quando na campa. (11.381).
19.
Melhor louvar, a repreensão sempre traz inimizade.
Falar mal todavia é puro mel ático.(11.341)
20.
A cólera de Aquiles foi motivo, para mim também,
de funesta pobreza ao me tornar gramático.
Prouvera com os gregos me matasse aquela cólera antes
que me arruinasse a amarga fome da gramática.
No entanto, para que Agamemnon raptasse Briseida e Páris
roubasse Helena, foi que me fiz indigente.(9.169)
*Tradução: José Paulo Paes. Fonte: Paladas de Alexandria, epigramas. São Paulo: Alexandria, 1992.
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