Um fabricador d’engenhos apanha suas invenções já inventadas, plageia a própria alma, da seu âmago ao desatento que por aqui passou. Nada é original. Todo sacrifício é vão. Criador olha com retidão a criatura, não vê senão o eco perdido do abandonado caminho. O novo é uma casa antiga cujas paredes foram caiadas, no interior o sepulcro é o mesmo de tempos sem conta. Toda produção, toda expressão, é só um murmúrio da ânsia da vida por si mesma. Da vida que deveria ter sido mas, na perdição das horas lentas e ociosas viu se achegar ao peito um pleno de impossibilidades irrevogáveis. Idealização frente a construção é deveras, uma lida de menor esforço pra alguém tão exausto de ser ele mesmo.
E assim foi, o homem d’engenhos passou todo um dia (ou seria ano?) na clausura da cela à busca da revelação derradeira. Passou à memória seu legado, como passa um general à frente da tropa, como passa o pacifista frente ao tanque de guerra. Como pudesse fazer moenda do candial da vida pra erguer com ele a argamassa da resposta, conjeturou infância e velhice, mesmo sentindo-se desde sempre imune a condicionamentos temporais. “A única liberdade é esmerar um algo inédito, com vida insuspeitada, com estatura que se note. Quero sair desse teatro pra escrever minha própria peça, essa companhia tornou-se ao longo de tantas temporadas, demasiado enfadonha.” Nisso, pensava ele resignado enquanto arquitetava seu livramento. “Quero comer sem arrotar, doer sem chorar, amar sem morrer, sangrar sem doer... Tudo será possível àquele que cresceu selvagem, que o mundo não teve tempo hábil a gravar seus sortilégios de derrota no côncavo do peito nu. Ademais; existir é invariavelmente um assombro.” Desceu enfim até as catacumbas, ambicionando que de lá emergisse seu novo, se eterno incriado.
Chegando ao átrio, eis que então, crente e desavisado aquele ser de indiferença e esquecimento confronta seu legado. Para o próprio assombro, descobre que é ele. É ele duplicado!
*Leandro M. de Oliveira
quarta-feira, 16 de setembro de 2009
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Um comentário:
Leandro:
Hoje publiquei um texto da Ana no Duelos que é inspirado neste seu post. Depois, se quiser, passa lá para conferir...
Valeu!
Abração!
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