-Verdade imutável número um: existir é um exercício tortuoso mesmo quando se está bêbado.
Se carregasse algo de profundo provavelmente escreveria um poema. Sorte escura, verdade hedionda. Ele não sabia como sentir ou pensar. Pôs-se então a caminhar na rua sem vontade ou esperança, era um andado maquinal, o cão do viúvo cruzou seu caminho num trote oblíquo: “Meu Deus como invejo esse cachorro.”. Se tivesse a memória de um Proust, nessa hora opaca poderia recordar um dia qualquer da infância, fechando os olhos tornaria a sentir o cheiro dos verdes anos. Mas não, ele não era tão meticuloso assim. Ao contrário muito modesto, e um acesso descente de nostalgia necessita algum refinamento. Seria melhor pensar em outra coisa...
Não sabia;
Não queria;
Não podia;
O instante de sonho foi perdido, a suave infância no escuro da lembrança pra sempre jaz. Ele acordou no meio da noite buscando construir um mundo novo. Mas quando olhou no espelho viu suas mãos amputadas.
*Porto Firme, 11 de abril de 2009, 09:54 hs
Um comentário:
Leandro:
Valeu ter enviado este texto para o Duelos! Já está postado!
Depois passa lá para ver como ficou.
Seja bem-vindo e volte sempre!
Um grande abraço!
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