quarta-feira, 8 de abril de 2009

Pequeno tratado das grandes virtudes: O Amor em Ágape

"Muitas coisas podem, de fato, acontecer que apresentam uma boa aparência, mas não procedem da raiz da caridade: mesmo os espinheiros têm flores.
Pelo contrário, certos gestos parecem rigorosos e até cruéis, mas são feitos para educar e são inspirados na caridade.
Aqui fica de uma vez para sempre, resumido o princípio:
Ama e faz o que quiseres:
Se tu te calares, cala-te por amor;
Se tu falares, fala por amor;
Se tu corrigires, corrige por amor;
Se perdoares, perdoa por amor;
Que a raiz do amor esteja dentro de ti, uma vez que desta raiz não pode proceder senão o bem.
A caridade não é maldosa nem preguiçosa;
Não é branda, nem tão pouco fraca;
Não é abúlica, nem permissiva.
Não te iludas pensando que amas o teu filho só porque não lhe impões uma regra de vida, ou que amas o teu próximo só porque não te queixas dele.
Isso não é caridade, mas fraqueza.
Não se ama no homem o erro, mas o homem."

(Agostinho de Hipona)

Em tempos como esses considero a mensagem de Agostinho de Hipona como algo inspirador. Não é preciso ser alguém religioso para entender, eu mesmo não o sou, quando Agostinho nos diz “ama e faz o que quiseres” ela convida a cada um de nós para contemplar a vida como um acontecimento mais profundo, desvelando além das breves formas materiais, até romper a tênue barreira e entrar no caminho que da no reino das coisas verdadeiras. A filosofia agostiniana está assentada sobre os pilares da obra de Platão, se considerarmos isso e retrocedermos aos anos 340 a.c. mais ou menos encontramos “O Banquete”, que é o discurso onde esse pensador grego debate a questão do Amor e as suas várias facetas, Eros, Philia e Àgape. Considerando por último em seu discurso que a melhor definição de Amor seria algo próximo da busca incessante pelo que é bom e pelo que é belo, Platão deixa seus ecos nas palavras de Agostinho quando esse nos chama à necessidade desse sentido ético que é a caridade (ágape), pois não pode haver beleza ou bondade na perdição e na injustiça por exemplo. Então “ama e faz o que quiseres”, assim sendo, se amar tudo te será lícito porém nem tudo te será conveniente, com efeito deve-se concluir que o limite do Amor e da Liberdade é o rosto sofrido do próximo, é a falta de sentido em usurpar algo de quem pouco tem. Nisso reside a grandeza humana, em aceitar a conexão invisível entre os seres e trabalhar pra que todos se realizem, pois essa realização é também a minha própria. Lembrai, a vida pouco vale, esse teatro a que estamos submetidos não é mais que pó na estrada da evolução.

*Espero que essa leitura tenha sido de algum proveito, minha "Constante Mítica". A você os meus melhores pensamentos e os gestos da minha mais profunda ternura.

Nenhum comentário: