Tudo
será difícil de dizer:
a palavra real
nunca é suave
Tudo será duro:
luz impiedosa
excessiva vivência
consciência demais do ser
Tudo será
capaz de ferir. Será.
agressivamente real.
Tão real que nos despedaça.
Não há piedade nos signos
e nem no amor: o ser
é excessivamente lúcido
e a palavra é densa e nos fere.
(Toda palavra é crueldade)
será difícil de dizer:
a palavra real
nunca é suave
Tudo será duro:
luz impiedosa
excessiva vivência
consciência demais do ser
Tudo será
capaz de ferir. Será.
agressivamente real.
Tão real que nos despedaça.
Não há piedade nos signos
e nem no amor: o ser
é excessivamente lúcido
e a palavra é densa e nos fere.
(Toda palavra é crueldade)
*Orides Fontela
A propósito do autor (por Contador Borges):
"Se a filosofia nunca soube ao certo o que é o ser (a metafísica ocidental só fez ocultá-lo ainda mais), em Heidegger ele ressurge iluminado pela linguagem poética.
A poesia é a “casa do ser”; só através dela é possível comemorá-lo sem perdê-lo de vista; só ela é capaz de evocá-lo em seu movimento fulgurante. O ser é uma surpresa que os poemas ajudam a vislumbrar.
Seis séculos antes de Cristo, a filosofia nasce justamente em confronto com a poesia (e seus mitos), que antes de emancipar-se como forma autônoma destinava-se à revelação do sagrado.
A idéia heideggeriana de que a poesia nos lembra o ser encontra-se em sua “Carta sobre o humanismo”, a qual se encerra com estas palavras: “na presente indigência do mundo é necessário: menos filosofia e mais desvelo do pensar, menos literatura e mais cultivo da letra”.
Orides Fontela provavelmente pensava nisso quando disse num depoimento: ‘Nossa época é terrível, somos poetas em tempo de desgraça”.
Orides se foi. Já não presencia os infortúnios de nosso tempo nem deles participa, mas sua poesia cristalina continua exercendo o “desvelo do pensar” e o “cultivo da letra”, de que fala Heidegger, provocando o ser à luz da linguagem. Aliás, do que mais se ocupam seus poemas?
Orides Fontela, como Paul Celan, é daqueles artífices que clareiam o ser ao mesmo tempo em que propõem uma indagação essencial sobre o ser da própria poesia. Ler sua obra é constatar que o ser em geral, no sentido heideggeriano, questão sempre aberta, e o ser lucífugo da poesia têm idêntica irradiação. Ambos podem nomear-se como aquilo que não se sabe ao certo o que é, mas que se deixa perceber no mesmo instante em que se furta como pedra filosofal da leitura. “Natureza ama ocultar-se”, conforme o célebre fragmento de Heráclito."
*Orides FontelaA poesia é a “casa do ser”; só através dela é possível comemorá-lo sem perdê-lo de vista; só ela é capaz de evocá-lo em seu movimento fulgurante. O ser é uma surpresa que os poemas ajudam a vislumbrar.
Seis séculos antes de Cristo, a filosofia nasce justamente em confronto com a poesia (e seus mitos), que antes de emancipar-se como forma autônoma destinava-se à revelação do sagrado.
A idéia heideggeriana de que a poesia nos lembra o ser encontra-se em sua “Carta sobre o humanismo”, a qual se encerra com estas palavras: “na presente indigência do mundo é necessário: menos filosofia e mais desvelo do pensar, menos literatura e mais cultivo da letra”.
Orides Fontela provavelmente pensava nisso quando disse num depoimento: ‘Nossa época é terrível, somos poetas em tempo de desgraça”.
Orides se foi. Já não presencia os infortúnios de nosso tempo nem deles participa, mas sua poesia cristalina continua exercendo o “desvelo do pensar” e o “cultivo da letra”, de que fala Heidegger, provocando o ser à luz da linguagem. Aliás, do que mais se ocupam seus poemas?
Orides Fontela, como Paul Celan, é daqueles artífices que clareiam o ser ao mesmo tempo em que propõem uma indagação essencial sobre o ser da própria poesia. Ler sua obra é constatar que o ser em geral, no sentido heideggeriano, questão sempre aberta, e o ser lucífugo da poesia têm idêntica irradiação. Ambos podem nomear-se como aquilo que não se sabe ao certo o que é, mas que se deixa perceber no mesmo instante em que se furta como pedra filosofal da leitura. “Natureza ama ocultar-se”, conforme o célebre fragmento de Heráclito."
**Contador Borges
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