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O silêncio às vezes é entrecortado pelos sons dum animal errante. O silêncio é um mistério inominável aos que carregam uma turba pelas ventas.Deus é som, animal, ou silêncio? Há tanta metafísica nas coisas ordinárias que a crença já não é algo mais tão seguro, os inquisidores tiraram férias... Não, não tiraram.
Apaixonar-se é ter nostalgia da perdida infância. Isso seria uma observação ou uma epígrafe? Talvez uma boa coisa pra se escrever nas paredes de um urinol público. As necessidades sempre fazem o homem parecer mais profundo. Irremediavelmente, a nostalgia tateia memórias além da memória, desce ao porão escuro agitando o pó já assentado. Na treva não há o que se contemple. La embaixo todos os sepulcros foram lacrados. Acaso existem infravermelhos pra se enxergar o escuro da alma? Na impossibilidade das respostas vou, com um cemitério na cabeça, com o universo todo por sobre os joelhos.
Conhecer do atemporal é engenho nobre. Irrelevante; debruçar-se a isso num mundo mais raso que um prato de sopa. Bem vindo à época da produção em série. Ave, triunfo burguês! Quem roubou meu cantil? Tenho sede e não há água em canto algum. Depois de certo tempo no deserto as pessoas passam a fazer parte dele. Homens de areia, mulheres de nada, paços insólitos permeiam a cidade. O mundo existe em mim como existe uma bruma a cobrir a paisagem, como existe alojada uma doença a que se quer purgar.
Prometeu amarga um perene castigo. Mandado ao Cáucaso por ser um homem bom? Bondosamente imbecil, salvar os outros é perder-se a si mesmo. O caminho e a resposta vêem de dentro. Também não sei por que cargas d’água me ponho a assim pensar, se dessa feita ocorresse, a espeleologia cuidaria de todos os vazios. Mãos ao alto ao mistério, mãos ao chão na queda. A gravidade é sempre inconstante, pode ser que estar em paz seja fechar os olhos e abrir a boca. Consumir idéias alheias é a forma mais antiética de canibalismo. Todavia fomos salvos, a TV democratizou o saber e fez com que todos soubessem as mesmas coisas. Boa noite e merda!
Depois que a mídia se tornou o nosso aiatolá, existir ficou tão colorido, tão nauseantemente simplificado que nem o vômito surte mais efeito. Tomaria alcalóides e dormiria como um xeique enfeitiçado, as garrafas estão vazias. Tenho de beber da esquizofrenia coletiva e fingir um pouco de lucidez. Onde estão meus óculos? Onde está a forma pacífica de ver as coisas? Já que tudo é guerra coloco botas de borracha e busco despojos na fossa sanitária das consciências. Estão vazias, visceralmente apartadas. Belphegor trabalha às tantas. Abençoados os que não se arrependem, amaldiçoados os que os abençoam. Discursar é uma forma de fazer com que as pessoas não reparem nossas vidraças, toda palavra é agressão. A luz apagou, a tempestade não estiou. Pra onde fugir agora? Que lugar é possível sem que hajam luzes, tempestades e memória? Fronteiras de meu reino, de tantas terras donde nunca ouvirei falar. O vento sopra a este bordo, o vento sempre soprou a mesma nota. Não escutar o arredor é ser ultrapassado pelas costas, talvez exista cera demais nos ouvidos. Quero partir em disparada mas, a letargia parece ter atrofiado meus membros.
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