sábado, 20 de dezembro de 2008

TREZE VERSOS


  E finalmente pronunciaste a palavra
    não como quem se ajoelha,
    mas como quem escapa da prisão
    e vê o sagrado dossel das bétulas
    através do arco-íris do pranto involuntário.
    E à tua volta cantou o silêncio
    e um sol muito puro clareou a escuridão
    e o mundo por um instante transformou-se
    e estranhamente mudou o sabor do vinho.
    E até eu, que fora destinada
    da palavra divina a ser a assassina,
    calei-me, quase com devoção,
    para poder prolongar esse instante abençoado.


    Anna Akhmátova, 
Poesia: 1912-1964
    Trad.:Lauro Machado Coelho

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