segunda-feira, 29 de dezembro de 2008

Guillaume Apollinaire


LIENS

Cordes faites de cris

Sons de cloches à travers 1'Europe
Siécles pendus

Rails qui ligotez les nations
Nous ne sommes que deux ou trois hommes
Libres de tous liens
Donnons-nous la main

Violente pluie qui peigne les fumées
Cordes
Cordes tissées
Câbles sous-marins
Tours de Babel changées en ponts
Araignées-Pontifes
Tous les amoureux qu'un seul lien a liés

D'autres liens plus ténus
Blancs rayons de lumiére
Cordes et Concorde

J'ecris seulement pour vous exalter
O Sens ô sens chéris
Ennemis du souvenir
Ennemis du désir

Ennemis du regret
Ennemis des larmes
Ennemis de tout ce que j'aime encore

LAÇOS

Cordas feitas de gritos

Sons de sinos badalam pela Europa
Séculos suspensos

Trilhos ligando nações
Somos só dois homens ou três
Livres de todos os laços
Vamos de mãos dadas

Chuva violenta penteia a fumaça
Cordas
Cordas tecidas
Cabos submarinos
Torres de Babel transformadas em pontes
Aranhas-Pontífices
Todos os amantes que um só laço ligou
Outros laços mais tênues
Alvos raios de luz
Cordas e Concórdia

Escrevo só para celebrar vocês
Oh meus sentidos queridos
Inimigos da memória
Inimigos do desejo

Inimigos do pesar
Inimigos das lágrimas
Inimigos de tudo que amo agora


*Guillaume Apollinaire,
escritor francês de origem polonesa, nasceu em 1880. Poeta, estudioso de artes plásticas e dramaturgo, esteve ligado aos movimentos de vanguarda do início do século XX, como o cubismo e o futurismo. Lutou na I Guerra Mundial, sendo gravemente ferido; de volta a Paris, levou vida boêmia, desregrada, tendo inclusive publicado obras pornográficas para ganhar seu pão. Faleceu em 1918, ano de conclusão do conflito bélico. A poesia de Apollinaire, inovadora (sobretudo Alcools, de 1913, e Caligramas, de 1918) adotou recursos como o verso livre, a supressão da pontuação, as "palavras em liberdade" e recursos espaciais da caligrafia ideogrâmica chinesa. Apollinaire destacou-se também como dramaturgo (As Mamas de Tirésias, 1917), crítico de artes plásticas (Os Pintores Cubistas, 1913) e ensaísta (O Espírito Novo e os Poetas, 1946 ), e é de sua autoria o termo "surrealista". De sua enorme produção, é a poesia que ocupa o primeiro plano; além das coletâneas citadas, merecem destaque o Bestiário (1911), Choix de Poésies (1946), Poèmes Secrets a Madelaine(1949) e Poèmes (1962). Apollinaire exerceu notável influência sobre os modernistas brasileiros, nos anos 20, como Mário e Oswald de Andrade.

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