Considerado gênio por alguns e louco por outros, o austríaco Wilhelm Reich foi o maior revolucionário da Psicologia deste século. Pioneiro da Revolução Sexual, precursor dos movimentos ecológicos e da psiquiatria biosocial, Reich desenvolveu também artefatos usados na cura do câncer e na diminuição dos efeitos negativos da energia nuclear. Pouco se conhece soube o pensamento de W. Reich, porque não há muitas fontes de informação e suas teses são sonegadas nas universidades de psicologia e psiquiatria. Há quem se refira a Reich por seus escritos freudianos-marxistas, outros por seus textos psicanalíticos, além de seus escritos sobre Deus e o Diabo. Durante anos, vários movimentos revolucionários recuperaram parte de sua obra, sobretudo seus escritos sócio-políticos, seguindo a tese de que não há revolução social sem revolução sexual, entendendo por sexualidade as relações afetivas, comunicantes, pessoais, etc. Reich reivindicou a função da sexualidade não como uma mera realização do coito, mas como a fusão com o outro. A vivência plena do amor e da sexualidade era vista por ele como fator indispensável para a satisfação emocional.
Todo o seu pensamento indica que é preciso uma mudança radical nas relações humanas. Associa a separação de um bebê do corpo da mãe na hora do parto com o assassinato de Cristo, com a psicose, com o fascismo e com a função do orgasmo. A complexidade de seu discurso é algo que vai além de sua época. A sua mais importante contribuição, que revolucionou toda a Psicologia, foi provar que a neurose é produzida socialmente, instalando-se em todo o corpo e não apenas na mente das pessoas. O conceito de couraça neuro-muscular do caráter mostra como a neurose se dá através da estagnação da energia vital. No livro "A Função do Orgasmo", Reich coloca que o orgasmo sexual pleno e satisfatório é o regulador biológico da harmonia vital. Militante socialista, despertou a atenção para o fato de que as neuroses eram provocadas pelo desvio da originalidade das pessoas, através de bloqueios à sexualidade e à afetividade, portanto um fenômeno sócio-político. A partir daí, passou a dar um novo enfoque a Psicologia, centrado no indivíduo, seu corpo e suas relações sociais.
Wilhelm Reich foi expulso da sociedade Psicanalítica por divergências teóricas e ligações com a política; e também do Partido Comunista por suas denúncias contra o autoritarismo reinante. Perseguido pelo nazismo, após percorrer vários países europeus, se instala nos Estado Unidos, onde passa a pesquisar fenômenos climáticos, caixas de acumulação de orgônio, etc. Em 1956, Reich é detido por se recusar a comparecer ao Tribunal para comprovar os efeitos terapêuticos dos acumuladores. Um ano após sua prisão, Reich morre na cadeia deixando um legado para as gerações futuras que ainda surpreendem-se com sua originalidade e rebeldia.
"Fui acusado de ser um utópico, de querer eliminar o desprazer do mundo e defender apenas o prazer. Contudo, tenho declarado claramente que a educação tradicional torna as pessoas incapazes para o prazer encouraçando-as contra o desprazer. Prazer e alegria de viver são inconcebíveis sem luta, experiências dolorosas e embates desagradáveis consigo mesmo. A saúde psíquica não se caracteriza pela teoria do nirvana dos iogues e dos budistas, nem pela hedonismo dos epicuristas, nem pela renúncia monástica; caracteriza-se, isso sim, pela alternância entre a luta desprazerosa e a felicidade, o erro e a verdade, o desvio e a correção da rota, a raiva racional e o amor racional; em suma, estar plenamente vivo em todas as situações da vida. A capacidade de suportar o desprazer e a dor sem se tornar amargurado e sem se refugiar na rigidez, anda de mãos dadas com a capacidade de aceitar a felicidade e dar amor."
Wilhelm Reich (1942) em "Function Of The Orgasm
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