sábado, 29 de novembro de 2008
quinta-feira, 27 de novembro de 2008
Les Saltimbanques
quarta-feira, 26 de novembro de 2008
Sobre o papel do trabalho na transformação do macaco em homem - Friedrich Engels
O trabalho é a fonte de toda riqueza, afirmam os economistas. Assim é, com efeito, ao lado da natureza, encarregada de fornecer os materiais que ele converte em riqueza. O trabalho, porém, é muitíssimo mais do que isso. É a condição básica e fundamental de toda a vida humana. E em tal grau que, até certo ponto, podemos afirmar que o trabalho criou o próprio homem.
Há muitas centenas de milhares de anos, numa época, ainda não estabelecida em definitivo, daquele período do desenvolvimento da Terra que os geólogos denominam terciário, provavelmente em fins desse período, vivia em algum lugar da zona tropical — talvez em um extenso continente hoje desaparecido nas profundezas do Oceano Índico(1) — uma raça de macacos antropomorfos extraordinariamente desenvolvida. Darwin nos deu uma descrição aproximada desses nossos antepassados. Eram totalmente cobertos de pêlo, tinham barba, orelhas pontiagudas, viviam nas árvores e formavam manadas(2).
É de supor que, como conseqüência direta de seu gênero de vida, devido ao qual as mãos, ao trepar, tinham que desempenhar funções distintas das dos pés, esses macacos foram-se acostumando a prescindir de suas mãos ao caminhar pelo chão e começaram a adotar cada vez mais uma posição ereta. Foi o passo decisivo para a transição do macaco ao homem.
Todos os macacos antropomorfos que existem hoje podem permanecer em posição ereta e caminhar apoiando-se unicamente sobre seus pés; mas o fazem só em casos de extrema necessidade e, além disso, com enorme lentidão. Caminham habitualmente em atitude semi-ereta, e sua marcha inclui o uso das mãos. A maioria desses macacos apóia no solo os dedos e, encolhendo as pernas, fazem avançar o corpo por entre os seus largos braços, como um paralítico que caminha com muletas. Em geral, podemos ainda hoje observar entre os macacos todas as formas de transição entre a marcha a quatro patas e a marcha em posição ereta. Mas para nenhum deles a posição ereta vai além de um recurso circunstancial.
E posto que a posição ereta havia de ser para os nossos peludos antepassados primeiro uma norma, e logo uma necessidade, dai se depreende que naquele período as mãos tinham que executar funções cada vez mais variadas. Mesmo entre os macacos existe já certa divisão de funções entre os pés e as mãos. Como assinalamos acima, enquanto trepavam as mãos eram utilizadas de maneira diferente que os pés. As mãos servem fundamentalmente para recolher e sustentar os alimentos, como o fazem já alguns mamíferos inferiores com suas patas dianteiras. Certos macacos recorrem às mãos para construir ninhos nas árvores; e alguns, como o chimpanzé, chegam a construir telhados entre os ramos, para defender-se das inclemências do tempo. A mão lhes serve para empunhar garrotes, com os quais se defendem de seus inimigos, ou para os bombardear com frutos e pedras. Quando se encontram prisioneiros realizam com as mãos várias operações que copiam dos homens. Mas aqui precisamente é que se percebe quanto é grande a distância que separa a mão primitiva dos macacos, inclusive os antropóides mais superiores, da mão do homem, aperfeiçoada pelo trabalho durante centenas de milhares de anos. O número e a disposição geral dos ossos e dos músculos são os mesmos no macaco e no homem, mas a mão do selvagem mais primitivo é capaz de executar centenas de operações que não podem ser realizadas pela mão de nenhum macaco. Nenhuma mão simiesca construiu jamais um machado de pedra, por mais tosco que fosse.
Por isso, as funções, para as quais nossos antepassados foram adaptando pouco a pouco suas mãos durante os muitos milhares de anos em que se prolonga o período de transição do macaco ao homem, só puderam ser, a princípio, funções sumamente simples. Os selvagens mais primitivos, inclusive aqueles nos quais se pode presumir o retorno a um estado mais próximo da animalidade com uma degeneração física simultânea, são muito superiores àqueles seres do período de transição. Antes de a primeira lasca de sílex ter sido transformada em machado pela mão do homem, deve ter sido transcorrido um período de tempo tão largo que, em comparação com ele, o período histórico por nós conhecido torna-se insignificante. Mas havia sido dado o passo decisivo: a mão era livre e podia agora adquirir cada vez mais destreza e habilidade; e essa maior flexibilidade adquirida transmitia-se por herança e aumentava de geração em geração.
Vemos, pois, que a mão não é apenas o órgão do trabalho; é também produto dele. Unicamente pelo trabalho, pela adaptação a novas e novas funções, pela transmissão hereditária do aperfeiçoamento especial assim adquirido pelos músculos e ligamentos e, num período mais amplo, também pelos ossos; unicamente pela aplicação sempre renovada dessas habilidades transmitidas a funções novas e cada vez mais complexas foi que a mão do homem atingiu esse grau de perfeição que pôde dar vida, como por artes de magia, aos quadros de Rafael, às estátuas de Thorwaldsen e à música de Paganini.
Mas a mão não era algo com existência própria e independente. Era unicamente um membro de um organismo íntegro e sumamente complexo. E o que beneficiava à mão beneficiava também a todo o corpo servido por ela; e o beneficiava em dois aspectos.
Primeiramente, em virtude da lei que Darwin chamou de correlação do crescimento. Segundo essa lei, certas formas das diferentes partes dos seres orgânicos sempre estão ligadas a determinadas formas de outras partes, que aparentemente não têm nenhuma relação com as primeiras. Assim, todos os animais que possuem glóbulos vermelhos sem núcleo e cujo occipital está articulado com a primeira vértebra por meio de dois côndilos, possuem, sem exceção, glândulas mamárias para a alimentação de suas crias. Assim também, a úngula fendida de alguns mamíferos está ligada de modo geral à presença de um estômago multilocular adaptado à ruminação. As modificações experimentadas por certas formas provocam mudanças na forma de outras partes do organismo, sem que estejamos em condições de explicar tal conexão. Os gatos totalmente brancos e de olhos azuis são sempre ou quase sempre surdos. O aperfeiçoamento gradual da mão do homem e a adaptação concomitante dos pés ao andar em posição ereta exerceram indubitavelmente, em virtude da referida correlação, certa influência sobre outras partes do organismo.
Contudo, essa ação se acha ainda tão pouco estudada que aqui não podemos senão assinalá-la em termos gerais. Muito mais importante é a ação direta — possível de ser demonstrada — exercida pelo desenvolvimento da mão sobre o resto do organismo. Como já dissemos, nossos antepassados simiescos eram animais que viviam em manadas; evidentemente, não é possível buscar a origem do homem, o mais social dos animais, em antepassados imediatos que não vivessem congregados. Em face de cada novo progresso, o domínio sobre a natureza que tivera início com o desenvolvimento da mão, com o trabalho, ia ampliando os horizontes do homem, levando-o a descobrir constantemente nos objetos novas propriedades até então desconhecidas. Por outro lado, o desenvolvimento do trabalho, ao multiplicar os casos de ajuda mútua e de atividade conjunta, e ao mostrar assim as vantagens dessa atividade conjunta para cada indivíduo, tinha que contribuir forçosamente para agrupar ainda mais os membros da sociedade. Em resumo, os homens em formação chegaram a um ponto em que tiveram necessidade de dizer algo uns aos outros. A necessidade criou o órgão: a laringe pouco desenvolvida do macaco foi-se transformando, lenta mas firmemente, mediante modulações que produziam por sua vez modulações mais perfeitas, enquanto os órgãos da boca aprendiam pouco a pouco a pronunciar um som articulado após outro.
A comparação com os animais mostra-nos que essa explicação da origem da linguagem a partir do trabalho e pelo trabalho é a única acertada. O pouco que os animais, inclusive os mais desenvolvidos, têm que comunicar uns aos outros pode ser transmitido sem o concurso da palavra articulada. Nenhum animal em estado selvagem sente-se prejudicado por sua incapacidade de falar ou de compreender a linguagem humana. Mas a situação muda por completo quando o animal foi domesticado pelo homem. O contato com o homem desenvolveu no cão e no cavalo um ouvido tão sensível à linguagem articulada que esses animais podem, dentro dos limites de suas representações, chegar a compreender qualquer idioma. Além disso, podem chegar a adquirir sentimentos antes desconhecidos por eles, como o apego ao homem, o sentimento de gratidão, etc. Quem conheça bem esses animais dificilmente poderá escapar à convicção de que, em muitos casos, essa incapacidade de falar é experimentada agora por eles como um defeito. Desgraçadamente, esse defeito não tem remédio, pois os seus órgãos vocais se acham demasiado especializados em determinada direção. Contudo, quando existe um órgão apropriado, essa incapacidade pode ser superada dentro de certos limites. Os órgãos vocais das aves distinguem-se em forma radical dos do homem e, no entanto, as aves são os únicos animais que podem aprender a falar; e o animal de voz mais repulsiva, o papagaio, é o que melhor fala. E não importa que se nos objete dizendo-nos que o papagaio não sabe o que fala. Claro está que por gosto apenas de falar e por sociabilidade o papagaio pode estar horas e horas repetindo todo o seu vocabulário. Mas, dentro do marco de suas representações, pode chegar também a compreender o que diz. Ensinai a um papagaio dizer palavrões (uma das distrações favoritas dos marinheiros que regressam das zonas quentes) e vereis logo que se o irritardes ele fará uso desses palavrões com a mesma correção de qualquer verdureira de Berlim. E o mesmo ocorre com o pedido de gulodices.
Primeiro o trabalho, e depois dele e com ele a palavra articulada, foram os dois estímulos principais sob cuja influência o cérebro do macaco foi-se transformando gradualmente em cérebro humano — que, apesar de toda sua semelhança, supera-o consideravelmente em tamanho e em perfeição. E à medida que se desenvolvia o cérebro, desenvolviam-se também seus instrumentos mais imediatos: os órgãos dos sentidos. Da mesma maneira que o desenvolvimento gradual da linguagem está necessariamente acompanhado do correspondente aperfeiçoamento do órgão do ouvido, assim também o desenvolvimento geral do cérebro está ligado ao aperfeiçoamento de todos os órgãos dos sentidos. A vista da águia tem um alcance multo maior que a do homem, mas o olho humano percebe nas coisas muito mais detalhes que o olho da águia. O cão tem um olfato muito mais fino que o do homem, mas não pode captar nem a centésima parte dos odores que servem ao homem como sinais para distinguir coisas diversas. E o sentido do tato, que o macaco possui a duras penas na forma mais tosca e primitiva, foi-se desenvolvendo unicamente com o desenvolvimento da própria mão do homem, através do trabalho.
O desenvolvimento dó cérebro e dos sentidos a seu serviço, a crescente clareza de consciência, a capacidade de abstração e de discernimento cada vez maiores, reagiram por sua vez sobre o trabalho e a palavra, estimulando mais e mais o seu desenvolvimento. Quando o homem se separa definitivamente do macaco, esse desenvolvimento não cessa de modo algum, mas continua, em grau diverso e em diferentes sentidos entre os diferentes povos e as diferentes épocas, interrompido mesmo às vezes por retrocessos de caráter local ou temporário, mas avançando em seu conjunto a grandes passos, consideravelmente impulsionado e, por sua vez, orientado em um determinado sentido por um novo elemento que surge com o aparecimento do homem acabado: a sociedade.
Foi necessário, seguramente, que transcorressem centenas de milhares de anos — que na história da Terra têm uma importância menor que um segundo na vida de um homem(3) — antes que a sociedade humana surgisse daquelas manadas de macacos que trepavam pelas árvores. Mas, afinal, surgiu. E que voltamos a encontrar como sinal distintivo entre a manada de macacos e a sociedade humana? Outra vez, o trabalho. A manada de macacos contentava-se em devorar os alimentos de uma área que as condições geográficas ou a resistência das manadas vizinhas determinavam. Transportava-se de um lugar para outro e travava lutas com outras manadas para conquistar novas zonas de alimentação; mas era incapaz de extrair dessas zonas mais do que aquilo que a natureza generosamente lhe oferecia, se excetuarmos a ação inconsciente da manada ao adubar o solo com seus excrementos. Quando foram ocupadas todas as zonas capazes de proporcionar alimento, o crescimento da população simiesca tornou-se já impossível; no melhor dos casos o número de seus animais mantinha-se no mesmo nível. Mas todos os animais são uns grandes dissipadores de alimentos; além disso, com freqüência, destroem em germe a nova geração de reservas alimentícias. Diferentemente do caçador, o lobo não respeita a cabra montês que lhe proporcionaria cabritos no ano seguinte; as cabras da Grécia, que devoram os jovens arbustos antes de poder desenvolver-se, deixaram nuas todas as montanhas do país. Essa “exploração rapace” levada a efeito pelos animais desempenha um grande papel na transformação gradual das espécies, ao obrigá-las a adaptar-se a alimentos que não são os habituais para elas, com o que muda a composição química de seu sangue e se modifica toda a constituição física do animal; as espécies já plasmadas desaparecem. Não há dúvida de que essa exploração rapace para a humanização de nossos antepassados, pois ampliou o número de plantas e as partes das plantas utilizadas na alimentação por aquela raça de macacos que superava todas as demais em inteligência e em capacidade de adaptação. Em uma palavra, a alimentação, cada vez mais variada, oferecia ao organismo novas e novas substâncias, com o que foram criadas as condições químicas para a transformação desses macacos em seres humanos. Mas tudo isso não era trabalho no verdadeiro sentido da palavra. O trabalho começa com a elaboração de instrumentos. E que representam os instrumentos mais antigos, a julgar pelos restos que nos chegaram dos homens pré-históricos, pelo gênero de vida dos povos mais antigos registrados pela história, assim como pelo dos selvagens atuais mais primitivos? São instrumentos de caça e de pesca, sendo os primeiros utilizados também como armas. Mas a caça e a pesca pressupõem a passagem da alimentação exclusivamente vegetal à alimentação mista, o que significa um novo passo de sua importância na transformação do macaco em homem. A alimentação com carne ofereceu ao organismo, em forma quase acabada, os ingredientes mais essenciais para o seu metabolismo. Desse modo, abreviou o processo da digestão e outros processos da vida vegetativa do organismo (isto é, os processos análogos ao da vida dos vegetais), poupando, assim, tempo, materiais e estímulos para que pudesse manifestar-se ativamente a vida propriamente animal. E quanto mais o homem em formação se afastava do reino vegetal, mais se elevava sobre os animais. Da mesma maneira que o hábito da alimentação mista converteu o gato e o cão selvagens em servidores do homem, assim também o hábito de combinar a carne com a alimentação vegetal contribuiu poderosamente para dar força física e independência ao homem em formação. Mas onde mais se manifestou a influência da dieta com carne foi no cérebro, que recebeu assim em quantidade muito maior do que antes as substâncias necessárias à sua alimentação e desenvolvimento, com o que se foi tomando maior e mais rápido o seu aperfeiçoamento de geração em geração. Devemos reconhecer — e perdoem os senhores vegetarianos — que não foi sem ajuda da alimentação com carne que o homem chegou a ser homem; e o fato de que, em uma ou outra época da história de todos os povos conhecidos, o emprego da carne na alimentação tenha chegado ao canibalismo (ainda no século X os antepassados dos berlinenses, os veletabos e os viltses devoravam os seus progenitores) é uma questão que não tem hoje para nós a menor importância.
O consumo de carne na alimentação significou dois novos avanços de importância decisiva: o uso do fogo e a domesticação dos animais. O primeiro reduziu ainda mais o processo da digestão, já que permitia levar a comida à boca, como se disséssemos, meio digerida; o segundo multiplicou as reservas de carne, pois agora, ao lado da caça, proporcionava uma nova fonte para obtê-la em forma mais regular. A domesticação de animais também proporcionou, com o leite e seus derivados, um novo alimento, que era pelo menos do mesmo valor que a carne quanto à composição. Assim, esses dois adiantamentos converteram-se diretamente para o homem em novos meios de emancipação. Não podemos deter-nos aqui em examinar minuciosamente suas conseqüências indiretas, apesar de toda a importância que possam ter para o desenvolvimento do homem e da sociedade, pois tal exame nos afastaria demasiado de nosso tema.
O homem, que havia aprendido a comer tudo o que era comestível, aprendeu também, da mesma maneira, a viver em qualquer clima. Estendeu-se por toda a superfície habitável da Terra, sendo o único animal capaz de fazê-lo por iniciativa própria. Os demais animais que se adaptaram a todos os climas — os animais domésticos e os insetos parasitas — não o conseguiram por si, mas unicamente acompanhando o homem. E a passagem do clima uniformemente cálido da pátria original para zonas mais frias, onde o ano se dividia em verão e inverno, criou novas exigências, ao obrigar o homem a procurar habitação e a cobrir seu corpo para proteger-se do frio e da umidade. Surgiram assim novas esferas de trabalho, e com elas novas atividades, que afastaram ainda mais o homem dos animais.
Graças à cooperação da mão, dos órgãos da linguagem e do cérebro, não só em cada indivíduo, mas também na sociedade, os homens foram aprendendo a executar operações cada vez mais complexas, a propor-se e alcançar objetivos cada vez mais elevados. O trabalho mesmo se diversificava e aperfeiçoava de geração em geração, estendendo-se cada vez a novas atividades. À caça e à pesca veio juntar-se a agricultura, e mais tarde a fiação e a tecelagem, a elaboração de metais, a olaria e a navegação. Ao lado do comércio e dos ofícios apareceram, finalmente, as artes e as ciências; das tribos saíram as nações e os Estados. Apareceram o direito e a política, e com eles o reflexo fantástico das coisas no cérebro do homem: a religião. Frente a todas essas criações, que se manifestavam em primeiro lugar como produtos do cérebro e pareciam dominar as sociedades humanas, as produções mais modestas, fruto do trabalho da mão, ficaram relegadas a segundo plano, tanto mais quanto numa fase muito recuada do desenvolvimento da sociedade (por exemplo, já na família primitiva), a cabeça que planejava o trabalho já era capaz de obrigar mãos alheias a realizar o trabalho projetado por ela. O rápido progresso da civilização foi atribuído exclusivamente à cabeça, ao desenvolvimento e à atividade do cérebro. Os homens acostumaram-se a explicar seus atos pelos seus pensamentos, em lugar de procurar essa explicação em suas necessidades (refletidas, naturalmente, na cabeça do homem, que assim adquire consciência delas). Foi assim que, com o transcurso do tempo, surgiu essa concepção idealista do mundo que dominou o cérebro dos homens, sobretudo a partir do desaparecimento do mundo antigo, e continua ainda a dominá-lo, a tal ponto que mesmo os naturalistas da escola darwiniana mais chegados ao materialismo são ainda incapazes de formar uma idéia clara acerca da origem do homem, pois essa mesma influência idealista lhes impede de ver o papel desempenhado aqui pelo trabalho.
Os animais, como já indicamos de passagem, também modificam com sua atividade a natureza exterior, embora não no mesmo grau que o homem; e essas modificações provocadas por eles no meio ambiente repercutem, como vimos, em seus causadores, modificando-os por sua vez. Nada ocorre na natureza em forma isolada. Cada fenômeno afeta a outro, e é por seu turno influenciado por este; e é em geral o esquecimento desse movimento e dessa interação universal o que impede a nossos naturalistas perceber com clareza as coisas mais simples. Já vimos como as cabras impediram o reflorestamento dos bosques na Grécia; em Santa Helena, as cabras e os porcos desembarcados pelos primeiros navegantes chegados à ilha exterminaram quase por completo a vegetação ali existente, com o que prepararam o terreno para que pudessem multiplicar-se as plantas levadas mais tarde por outros navegantes e colonizadores. Mas a influencia duradoura dos animais sobre a natureza que os rodeia é inteiramente involuntária e constitui, no que se refere aos animais, um fato acidental. Mas, quanto mais os homens se afastam dos animais, mais sua influência sobre a natureza adquire o caráter de uma ação intencional e planejada, cujo fim é alcançar objetivos projetados de antemão. Os animais destroçam a vegetação do lugar sem dar-se conta do que fazem. Os homens, em troca, quando destroem a vegetação o fazem com o fim de utilizar a superfície que fica livre para semear trigo, plantar árvores ou cultivar a videira, conscientes de que a colheita que irão obter superará várias vezes o semeado por eles. O homem traslada de um país para outro plantas úteis e animais domésticos, modificando assim a flora e a fauna de continentes inteiros. Mais ainda: as plantas e os animais, cultivadas aquelas e criados estes em condições artificiais, sofrem tal influência da mão do homem que se tomam irreconhecíveis. Não foram até hoje encontrados os antepassados silvestres dos cereais que cultivamos. Ainda não foi resolvida a questão de saber qual o animal que deu origem aos nossos cães atuais, tão diferentes uns de outros, ou às atuais raças de cavalos, também tão numerosos. Ademais, compreende-se de logo que não temos a intenção de negar aos animais a faculdade de atuar em forma planificada, de um modo premeditado. Ao contrário, a ação planificada existe em germe onde quer que o protoplasma — a albumina viva — exista e reaja, isto é, realize determinados movimentos, embora sejam os mais simples, em resposta a determinados estímulos do exterior. Essa reação se produz, não digamos já na célula nervosa, mas inclusive quando ainda não há célula de nenhuma espécie, O ato pelo qual as plantas insetívoras se apoderam de sua presa aparece também, até certo ponto, como um ato planejado, embora se realize de um modo totalmente inconsciente. A possibilidade de realizar atos conscientes e premeditados desenvolve-se nos animais em correspondência com o desenvolvimento do sistema nervoso e adquire já nos mamíferos um nível bastante elevado. Durante as caçadas organizadas na Inglaterra pode-se observar sempre a infalibilidade com que a raposa utiliza seu perfeito conhecimento do lugar para ocultar-se aos seus perseguidores, e como conhece e sabe aproveitar muito bem todas as vantagens do terreno para despistá-los. Entre nossos animais domésticos, que chegaram a um grau mais alto de desenvolvimento graças à sua convivência com o homem, podem ser observados diariamente atos de astúcia, equiparáveis aos das crianças, pois do mesmo modo que o desenvolvimento do embrião humano no ventre materno é uma réplica abreviada de toda a história do desenvolvimento físico seguido através de milhões de anos pelos nossos antepassados do reino animal, a partir do estado de larva, assim também o desenvolvimento espiritual da criança representa uma réplica, ainda mais abreviada, do desenvolvimento intelectual desses mesmos antepassados, pelo menos dos mais próximos. Mas nem um só ato planificado de nenhum animal pôde imprimir na natureza o selo de sua vontade, Só o homem pôde fazê-lo.
Resumindo: só o que podem fazer os animais é utilizar a natureza e modificá-la pelo mero fato de sua presença nela. O homem, ao contrário, modifica a natureza e a obriga a servir-lhe, domina-a. E aí está, em última análise, a diferença essencial entre o homem e os demais animais, diferença que, mais uma vez, resulta do trabalho(4).
Contudo, não nos deixemos dominar pelo entusiasmo em face de nossas vitórias sobre a natureza. Após cada uma dessas vitórias a natureza adota sua vingança. É verdade que as primeiras conseqüências dessas vitórias são as previstas por nós, mas em segundo e em terceiro lugar aparecem conseqüências muito diversas, totalmente imprevistas e que, com freqüência, anulam as primeiras. Os homens que na Mesopotâmia, na Grécia, na Ásia Menor e outras regiões devastavam os bosques para obter terra de cultivo nem sequer podiam imaginar que, eliminando com os bosques os centros de acumulação e reserva de umidade, estavam assentando as bases da atual aridez dessas terras. Os italianos dos Alpes, que destruíram nas encostas meridionais os bosques de pinheiros, conservados com tanto carinho nas encostas setentrionais, não tinham idéia de que com isso destruíam as raízes da indústria de laticínios em sua região; e muito menos podiam prever que, procedendo desse modo, deixavam a maior parte do ano secas as suas fontes de montanha, com o que lhes permitiam, chegado o período das chuvas, despejar com maior fúria suas torrentes sobre a planície. Os que difundiram o cultivo da batata na Europa não sabiam que com esse tubérculo farináceo difundiam por sua vez a escrofulose. Assim, a cada passo, os fatos recordam que nosso domínio sobre a natureza não se parece em nada com o domínio de um conquistador sobre o povo conquistado, que não é o domínio de alguém situado fora da natureza, mas que nós, por nossa carne, nosso sangue e nosso cérebro, pertencemos à natureza, encontramo-nos em seu seio, e todo o nosso domínio sobre ela consiste em que, diferentemente dos demais seres, somos capazes de conhecer suas leis e aplicá-las de maneira adequada.
Com efeito, aprendemos cada dia a compreender melhor a leis da natureza e a conhecer tanto os efeitos imediatos como as conseqüências remotas de nossa intromissão no curso natural de seu desenvolvimento. Sobretudo depois dos grandes progressos alcançados neste século pelas ciências naturais, estamos em condições de prever e, portanto, de controlar cada vez melhor as remotas conseqüências naturais de nossos atos na produção, pelo menos dos mais correntes. E quanto mais isso seja uma realidade, mais os homens sentirão e compreenderão sua unidade com a natureza, e mais inconcebível será essa idéia absurda e antinatural da antítese entre o espírito e a matéria, o homem e a natureza, a alma e o corpo, idéia que começa a difundir-se pela Europa sobre a base da decadência da antiguidade clássica e que adquire seu máximo desenvolvimento no cristianismo.
Mas, se foram necessários milhares de anos para que o homem aprendesse, em certo grau, a prever as remotas conseqüências naturais no sentido da produção, muito mais lhe custou aprender a calcular as remotas conseqüências sociais desses mesmos atos. Falamos acima da batata e de seus efeitos quanto à difusão da escrofulose. Mas que importância pode ter a escrofulose, comparada com os resultados que teve a redução da alimentação dos trabalhadores a batatas puramente sobre as condições de vida das massas do povo de países inteiros, com a fome que se estendeu em 1847 pela Irlanda em conseqüência de uma doença provocada por esse tubérculo e que levou à sepultura um milhão de irlandeses que se alimentavam exclusivamente, ou quase exclusivamente, de batatas e obrigou a que emigrassem para além-mar outros dois milhões? Quando os árabes aprenderam a destilar o álcool, nem sequer ocorreu-lhes pensar que haviam criado uma das armas principais com que iria ser exterminada a população indígena do continente americano, então ainda desconhecido. E quando mais tarde Colombo descobriu a América não sabia que ao mesmo tempo dava nova vida à escravidão, há muito tempo desaparecida na Europa, e assentado as bases do tráfico dos negros. Os homens que nos séculos XVII e XVIII haviam trabalhado para criar a máquina a vapor não suspeitavam de que estavam criando um instrumento que, mais do que nenhum outro, haveria de subverter as condições sociais em todo o mundo e que, sobretudo na Europa, ao concentrar a riqueza nas mãos de uma minoria e ao privar de toda propriedade a imensa maioria da população, haveria de proporcionar primeiro o domínio social e político à burguesia, e provocar depois a luta de classe entre a burguesia e o proletariado, luta que só pode terminar com a liquidação da burguesia e a abolição de todos os antagonismos de classe. Mas também aqui, aproveitando uma experiência ampla, e às vezes cruel, confrontando e analisando os materiais proporcionados pela história, vamos aprendendo pouco a pouco a conhecer as conseqüências sociais indiretas e mais remotas de nossos atos na produção, o que nos permite estender também a essas conseqüências o nosso domínio e o nosso controle.
Contudo, para levar a termo esse controle é necessário algo mais do que o simples conhecimento. É necessária uma revolução que transforme por completo o modo de produção existente até hoje e, com ele, a ordem social vigente.
Todos os modos de produção que existiram até o presente só procuravam o efeito útil do trabalho em sua forma mais direta e imediata. Não faziam o menor caso das conseqüências remotas, que só surgem mais tarde e cujos efeitos se manifestam unicamente graças a um processo de repetição e acumulação gradual. A primitiva propriedade comunal da terra correspondia, por um lado, a um estádio de desenvolvimento dos homens no qual seu horizonte era limitado, em geral, às coisas mais imediatas, e pressupunha, por outro lado, certo excedente de terras livres, que oferecia determinada margem para neutralizar os possíveis resultados adversos dessa economia primitiva. Ao esgotar-se o excedente de terras livres, começou a decadência da propriedade comunal. Todas as formas mais elevadas de produção que vieram depois conduziram à divisão da população em classes diferentes e, portanto, no antagonismo entre as classes dominantes e as classes oprimidas. Em conseqüência, os interesses das classes dominantes converteram-se no elemento propulsor da produção, enquanto esta não se limitava a manter, bem ou mal, a mísera existência dos oprimidos. Isso encontra sua expressão mais acabada no modo de produção capitalista, que prevalece hoje na Europa ocidental. Os capitalistas individuais, que dominam a produção e a troca, só podem ocupar-se da utilidade mais imediata de seus atos. Mais ainda: mesmo essa utilidade — porquanto se trata da utilidade da mercadoria produzida ou trocada — passa inteiramente ao segundo plano, aparecendo como único incentivo o lucro obtido na venda.
***
A ciência social da burguesia, a economia política clássica, só se ocupa preferentemente daquelas conseqüências sociais que constituem o objetivo imediato dos atos realizados pelos homens na produção e na troca. Isso corresponde plenamente ao regime social cuja expressão teórica é essa ciência. Porquanto os capitalistas isolados produzem ou trocam com o único fim de obter lucros imediatos, só podem ser levados em conta, primeiramente, os resultados mais próximos e mais imediatos. Quando um industrial ou um comerciante vende a mercadoria produzida ou comprada por ele e obtém o lucro habitual, dá-se por satisfeito e não lhe interessa de maneira alguma o que possa ocorrer depois com essa mercadoria e seu comprador. O mesmo se verifica com as conseqüências naturais dessas mesmas ações. Quando, em Cuba, os plantadores espanhóis queimavam os bosques nas encostas das montanhas para obter com a cinza um adubo que só lhes permitia fertilizar uma geração de cafeeiros de alto rendimento pouco lhes importava que as chuvas torrenciais dos trópicos varressem a camada vegetal do solo, privada da proteção das árvores, e não deixassem depois de si senão rochas desnudas! Com o atual modo de produção e no que se refere tanto às conseqüências naturais como às conseqüências sociais dos atos realizados pelos homens, o que interessa prioritariamente são apenas os primeiros resultados, os mais palpáveis. E logo até se manifesta estranheza pelo fato de as conseqüências remotas das ações que perseguiam esses fins serem muito diferentes e, na maioria dos casos, até diametralmente opostas; de a harmonia entre a oferta e a procura converter-se em seu antípoda, como nos demonstra o curso de cada um desses ciclos industriais de dez anos, e como puderam convencer-se disso os que com o “crack”(5) viveram na Alemanha um pequeno prelúdio; de a propriedade privada baseada no trabalho próprio converter-se necessariamente, ao desenvolver-se, na ausência de posse de toda propriedade pelos trabalhadores, enquanto toda a riqueza se concentra mais e mais nas mãos dos que não trabalham; de que(6)
*Escrito por Engels em 1876. Publicado pela primeira vez em junho de 1895 em Neue Zeit. Publica-se segundo com a edição soviética de 1952, de acordo com o manuscrito, em alemão. Traduzido do espanhol. Este artigo visava ser a introdução de um trabalho maior, que Engels planejava chamar Die drei Grundformen der Knechtschaft (Esboço do Plano Geral), que Engels não terminou. Nem sequer esta introdução, que se interrompe no final. Deveria ser incluída em Dialética da Natureza
ANARQUISMO (Pequena Introdução às Idéias Libertárias) - Teotonio Simões
O QUE É O ANARQUISMO
Anarquia não é confusão. Anarquista não é bagunceiro. Anarquia, do grego: an (=sem) e arché (=poder). Anarquismo: movimento que luta por uma sociedade em que ninguém tenha poder sobre ninguém.
Também podem ser chamados de ácratas, defensores da Acracia, do grego: an (=sem) e kratos (=governo). Os ácratas, ou anarquistas, querem uma sociedade em que ninguém governe ninguém.
Pela ênfase que dão à liberdade e à negação de qualquer autoridade, são também conhecidos como libertários.
REBELIÃO RADICAL
O anarquismo é a revolta radical contra a sociedade autoritária que está aí, com seus preceitos, preconceitos e negação da liberdade individual. Para o anarquismo, o único limite à liberdade de cada um deveria ser a liberdade do outro.
O anarquismo defende a democracia direta, exercida por indivíduos que se organizam voluntariamente em federações que se confederam. Uma sociedade que se organizaria de baixo para cima, sem nenhuma autoridade..
Os anarquistas não acreditam nem em democracia representativa, nem em parlamentos, nem em eleições para eleger “representantes”. Para eles, legisladores e governantes só têm um interesse: manter o poder para eles mesmos.
AÇÃO DIRETA
Defendem ações diretas como greves, boicotes, resistência pacífica, desobediência civil, desrespeito a leis e regulamentos impostos. Ignorar e desobedecer o Poder (não conquistá-lo) é para eles a forma de destruí-lo.
A maioria dos anarquistas sempre condenou a violência. Mas como alguns optaram por ela (e isso mereceu destaque por parte de seus opositores) há quem generalize, identificando anarquismo com violência.
A opção pela ação direta e a negação da sociedade burguesa levou outros libertários a porem em prática suas idéias, vivendo de acordo com seus princípios, em comunidades alternativas ou individualmente.
ANTICAPITALISMO
Para o anarquismo, a igualdade é um meio para a liberdade. Não tem sentido igualdade sem liberdade. Mas a liberdade de fato só seria possível com a igualdade de fato.
Anarquistas foram socialistas, comunistas, coletivistas, mutualistas, cooperativistas. Mas sempre negadores do capitalismo e da sociedade burguesa e a favor da gestão dos meios de produção pelos próprios trabalhadores.
Para alguns (Tólstoi, Thoureau) a simplicidade e a negação do supérfluo (o que não lhe faz falta) seria o caminho para a igualdade. Para outros (Bakunin, Proudhon) isso só seria possível com o fim da propriedade privada.
SOCIALISMO
Socialistas, marxistas e anarquistas estiveram juntos na I Internacional. Os anarquistas, que denunciaram Marx e seguidores como autoritários, por pregarem a tomada do poder e não seu fim, foram expulsos em 1872.
Os anarquistas chegaram a apoiar a revolução russa de 1917. Mas logo passaram a denunciá-la como anti-libertária, pela perseguição aos anarquistas e pelo fortalecimento do Estado.
A existência de um Estado que se dizia operário debilitou o movimento anarquista. Alguns aderiram à Internacional de Lenin (III Internacional). Entre eles, os fundadores do PCB (Partido Comunista do Brasil). Outros continuaram denunciando o regime soviético.
INDIVIDUALISMO
Para o anarquismo, indivíduos livres são a realidade primeira e final da sociedade. São eles que, superando os condicionamentos, com sua ação e sua vontade, poderiam fazer a revolução social.
O anarquismo não aceita uma natureza humana, boa ou má. Afirma que o homem pode se aperfeiçoar, sendo cada vez mais livre, ajudando outros a se libertarem, sendo solidários.
Nem Servo, Nem Senhor! Os anarquistas não aceitam que ninguém tenha poder sobre eles. Nem querem ter poder sobre ninguém. Por isso enfatizam a solidariedade, não a competição.
ORGANIZAÇÃO
Ninguém deve ser impedido de se organizar. Mas ninguém deve ser obrigado a se organizar. O anarquismo, ao colocar a liberdade individual em primeiro plano, sempre privilegiou a organização voluntária.
Multiplicade de organizações. Liberdade irrestrita de auto-organização dos invidivíduos. Nenhuma organização definitiva. O respeito irrestrito às minorias. Estas são algumas das consequências da liberdade organizacional defendida pelo movimento anarquista.
O princípio federativo, com unidades menores que se federam para gerar unidades maiores, trabalhando voluntariamente juntas, é uma das formas de organização preferidas pelos libertários.Organizações em rede, não piramidais.
INTERNACIONALISMO
O anarquismo é internacionalista. Não aceita fronteiras, nem nações. Da mesma forma que não aceita o Estado. A fraternidade de todos, na liberdade e na igualdade é um objetivo anarquista.
A não-discriminação é outra conseqüência da posição libertária. O anarquismo é contra qualquer tipo de discriminação. O respeito às opções individuais é uma conclusão lógica do respeito à liberdade de cada indivíduo...
Daí a defesa das uniões livres, da educação livre, do amor livre, da liberdade de expressão, da liberdade feminina que encontramos em obras anarquistas, como, por exemplo, as peças de Ibsen.
AUTOGESTÃO
O anarquismo é autogestionário. Como não aceita o poder de uma pessoa sobre outra, não aceita a existência de chefes, nem de patrões, nem de burocratas, mas de um trabalho livremente coordenado.
Na educação, tem como objetivo liberar as crianças de toda autoridade moral, religiosa ou política. Defende a escola laica, não religiosa. O respeito pela vontade física, moral e intelectual de cada criança.
Nas artes e na cultura, a negação das escolas e de um bom gosto oficial. A livre manifestação estética é uma posição anárquica amplamente difundida.
ANTIGA ASPIRAÇÃO
A aspiração libertária é antiga. Lúcifer é reputado como tendo sido o primeiro a se rebelar contra a autoridade e o governo divinos, trazendo luz aos homens. É comparado por alguns libertários a Prometeu. Por outros, a Hermes Trimegisto.
Aristipo (400 A.C.) dizia que o prazer só poderia ser gozado por quem nem governasse nem fosse governado. Zenão propunha uma sociedade sem governo, com as pessoas só respeitando a lei moral.
Lao Tse dizia no Tao Te King: “onde o governo for mais lento e inativo, o povo será mais próspero. Onde o governo intervém e é eficiente, o povo está descontente.”
ANARQUISTAS
“Com que deleite deve todo (...) amigo da humanidade olhar para (...) a dissolução do governo político, esse engenho estúpido que tem sido a única causa perene dos vícios da humanidade.” — William Godwin.
“Quem quer que seja que ponha as mãos sobre mim para me governar é um usurpador, um tirano. Eu o declaro meu inimigo.” — P. J. Proudhon.
“O Estado não pode desistir da idéia de que suas leis e ordens são sagradas. E o indivíduo é considerado então como um ímpio (...) que está contra o Estado.” — Max Stiner
“Em uma palavra, nós rejeitamos toda autoridade e toda influência privilegiada, licenciada, oficial e legal, mesmo vinda de sufrágio universal, convencidos de que ela só pode vir em vantagem para uma minoria de exploradores contra os interesses da imensa maioria dos sujeitos a ela. Este é o sentido em que nós somos realmente anarquistas.” — Bakunin.
“O primeiro golpe na igualdade foi dado pela propriedade. O primeiro golpe na liberdade foi dado pelas sociedades políticas ou governos. Os únicos apoios da propriedade e dos governos são as leis religiosas e civis.” — Spartacus Weishaupt
“Tornando-nos anarquistas, declaramos guerra contra esta onda de iniquidade que eles colocaram em nossos corações. Declaramos guerra contra seu modo de agir, contra seu modo de pensar. Nós não queremos ser mandados. E dizendo isso não declaramos, ao mesmo tempo, que não queremos mandar em ninguém?” —Kropotikin.
“Reconheço que o poder, seja qual for, é uma praga. É por isso que eu professo o anarquismo.” — Louise Michel
“Se há um fato inegável atestado milhares de vezes pela experiência é o efeito corruptor da autoridade sobre os que a detêm.” — Federação do Jura da I Internacional-1871
PRIMEIRO DE MAIO
Chicago, maio de 1886. A polícia intervém em manifestação pelas oito horas de trabalho. Anarquistas são presos. Quatro enforcados. Mas suas palavras ainda ressoam:
“Todo anarquista é um socialista mas todo socialista não é necessariamente anarquista.”
Adolph Fischer — discurso no tribunal após ter sido sentenciado ao enforcamento — 1886.
“Eu desprezo vocês. Desprezo sua ordem: suas leis, sua autoridade baseada na força. Enforquem-me por isso.”
Louis Lingg — 1886 — Discurso no tribunal.
“...o estado em que uma classe domina e vive às custas de outra classe e chama isto de ordem está condenado a morrer e dar lugar a uma sociedade livre, associação voluntária, fraternidade universal.”
August Spies — 1886 — Discurso no tribunal
“Governo é para escravos; homens livres se governam.”
Albert Parsons — 1886 — Discurso no tribunal
LIBERTÁRIOS NO BRASIL
A autoridade gera sua contestação. Também no Brasil. Os quilombos são exemplos citados pelos anarquistas das aspirações de liberdade, igualdade e rebeldia contra a autoridade no Brasil.
Assumindo o anarquismo, já em 28-2-1835 aparece o jornal “Anarquista Fluminense”. Em 1848, o “Grito Anarquial”. Livros e jornais anarquistas de outros países chegam ao Brasil.
Em 1890, é constituída no Paraná a Colônia Cecilia, comunidade libertária idealizada por Giovanni Rossi, em 300 alqueires cedidos por D. Pedro II. Foi liquidada (pela República!) em 1892.
COMUNIDADES
Uma comunidade formada em Guararema por Artur Camagnoli em 1888 durou até os anos 30. Além da comunidades e sindicatos, escolas e sociedades de ajuda mútua eram formadas pelos anarquistas.
No Rio Grande do Sul foi estabelecida uma comunidade por migantes russos ucranianos em Erechim (atual Getúlio Vargas!). Foi um pólo de difusão das idéias libertárias no sul do País.
Com o aumento da migração, as idéias anarquistas frutificaram, reforçadas principalmente por italianos, portugueses e espanhóis já familiarizados com a corrente libertária da Internacional, predominante em seus países.
ANARCO-SINDICALISMO
O sindicalismo brasileiro nasceu livre, anti-estatal, libertário. A corrente majoritária era a anarco-sindicalista ou sindicalista revolucionária, que introduziu questões como a total redução do Estado e da autogestão operária.
Em 1906 foi realizado o I Congresso Operário com predominância anarquista, sendo fundada a primeira central de trabalhadores no Brasil, a COB (Confederação Operária Brasileira).
De 1908 a 1915, a COB publica “A Voz do Trabalhador”, difundindo idéias libertárias, anunciando livros, encontros, espetáculos, implantação de escolas modernas, greves e outras atividades nacionais e internacionais.
REPRESSÃO
Os anarquistas e o movimento sindical revolucionário eram perseguidos. A “lei” Afonso Gordo previa a deportação de estrangeiros. Mesmo antes da “lei”, no início do século, haviam sido expulsos do Brasil Galileu Botti, diretor do jornal Gli Schiave Bianchi e assassinado Polinice Mattei.
O Brasil fazia parte do roteiro de visitas dos militantes anarquistas, como Errico Malatesta. Gigi Damiano, após ter sido expulso do Brasil, colaborou com ele no Umanità Nuova na Itália.
Anarquistas não eram só imigrantes. Anarquistas foram Fábio Luz, Martins Fontes, Rocha Pombo, Lima Barreto, Afonso Schimidt, Hélio Silva, José Oiticica, Maria Lacerda de Moura.
ANARQUISMO HOJE
No Mundo
Se nos movimentos da década de 60 ecoavam idéias libertárias, hoje elas estão presentes em Organizações Não Governamentais (ONGs), coletivos libertários, livros e comunidades. E, claro, na Internet. A propósito, você já reparou bem na letra do “Imagine” de John Lennon?
Temas centrais do anarquismo, como a negação de todo poder, de todas as leis e de qualquer Estado continuam presentes em manifestações sobre antigas questões sociais e outras, novas, como aborto, drogas, minorias e ecológicas.
No Brasil
Há um interesse crescente pelo anarquismo. Peças teatrais foram montadas, como Bella Ciao. Em 7 de abril de 1994, Suplemento Zap de “O Estado de São Paulo” publicou matéria sobre jovens anarquistas brasileiros. E, claro, eles podem ser encontrados facilmente na Internet.
*Esta pequena apresentação das idéias libertárias foi, originalmente, desenvolvida para a Secretaria da Cultura do Estado de São Paulo, como parte de um projeto de Exposições Itinerantes. Que eu saiba, foi feita uma exposição em São Caetano do Sul. Imagino que ainda esteja disponível na Secretaria da Cultura do Estado de São Paulo para Escolas interessadas. Tomar contato com as idéias libertárias foi muito importante para mim, lá no distante ano de 1968. A partir delas, não apenas me foi possível fazer uma crítica mais sólida do Sistema em que vivemos, como também do “socialismo real”, burocrático e autoritário. Desde então, o livre pensamento me conduziu ao Novo Humanismo, como uma das expressões mais atuais das idéias libertárias. Todas as páginas dão uma visão muito introdutória das principais idéias libertárias, entretanto espero que seja um ponto de partida para o aprofundamento dos que as teêm em mãos.(O Autor)
Data de publicação como RocketEdition: 11 agosto de 1999 (o dia em que o mundo não acabou:) — A reprodução parcial ou total do conteúdo e sua distribuição não comercial é autorizada e, inclusive, incentivada. Comentários podem ser enviados para teotonio@teotonio.org
domingo, 23 de novembro de 2008
Memória
Amar o perdido
deixa confundido
este coração.
Nada pode o olvido
contra o sem sentido
apelo do Não.
As coisas tangíveis
tornam-se insensíveis
à palma da mão
Mas as coisas findas
muito mais que lindas,
essas ficarão.
sexta-feira, 21 de novembro de 2008
Trajetória
Prólogo:
Ele sentou-se uma vez mais à mesa, todavia, dessa vez algo de eternidade pairava em seus olhos. Tomou um bom copo de vinho, e em pensamento conjurou assim um sortilégio misterioso: “Às pessoas que me são caras, em verdade não as posso chamar amigas, nenhuma nunca penetrou em meu ser. A vocês desejo toda a doença, desolação e indignidade que se pode ter na vida. Quero que a vossa visão escureça e que a vossa carne decomponha lentamente e quando enfim o corpo se tornar um cativeiro, exatamente aí e somente nesse instante, vós sereis homens livres!”. Ele se levantou, tomou o alforje por sobre os ombros e se foi, com aquele olhar de infinito... O que vem a seguir são relatos provavelmente inverídicos de uma vida não vivida.
I
Me pergunto se serei cingido com a marca dos justos,
Ou se meu coração é altivo demais
Pra que eu tome assento nesse tabernáculo.
Ouço ecos de terras distantes, paisagens de outrora,
Boiando à deriva em meio as marés do tempo.
E eu vejo, um a um, os pedaços de minha vida,
Caindo irremediavelmente no abismo voraz da eternidade.
O vazio de existir, a imensidão de uma mão dada...
Que pode um homem desacreditado senão cismar?
Nesses tempos dignidade é deveras, coisa rara,
A humanidade é ainda muito primitiva pra cumprir o seu propósito.
Essa é uma era de vergonha e desolação,
Meus olhos foram arrancados, a minha língua foi cortada.
Não entendo a mim, não entendo ninguém
No mundo em que criaste,
Não é permitido que mesmo a dor,
Possa definir o meu amor,
Teu corpo fecundei, alimentou-se de mim,
Mas como um estupro do que te ofereci,
A minha verdade recusaste, nesse novo lugar
Construído sobre os meus escombros.
Não posso continuar aqui, estou cansado e só,
Que venha o fim, mas que seja meu.
III
É chegado o termo das coisas, despossuído estou.
Me entendo leve como se estivesse em engano,
Me vejo em alerta como se acreditasse em algo.
Daqui parto, sem nada querer ou desejar
Minha glória é esta:
Criar desumanidade, viver em exílio.
Não posso seguir aquela estrada, embora queira,
Meu caminho é composto pela vontade de meus pés...
Que empresa me dás se não pode responder o que pergunto,
Prefiro as vias tortuosas a esse caminho reto.
Viajante em terra estrangeira, cruzado dos ideais esquecidos,
Meu tempo é quando, minha verdade é o que serei.
*Sábado 22 de novembro de 2008
Sollozos de Farewell
Desde el fondo de ti, y arrodillado,
un niño triste, como yo, nos mira.
Por esa vida que arderá en sus venas
tendrían que amarrarse nuestras vidas.
Por esas manos, hijas de tus manos,
tendrían que matar las manos mías.
Por sus ojos abiertos en la tierra
veré en los tuyos lágrimas un día.
Yo no lo quiero, Amada.
Para que nada nos amarre
que no nos una nada.
Ni la palabra que aromó tu boca,
ni lo que no dijeron las palabras.
Ni la fiesta de amor que no tuvimos,
ni tus sollozos junto a la ventana.
(Amo el amor de los marineros
que besan y se van.
Dejan una promesa.
No vuelven nunca más.
En cada puerto una mujer espera:
los marineros besan y se van.
Una noche se acuestan con la muerte
en el lecho del mar.
Amo el amor que se reparte
en besos, lecho y pan.
Amor que puede ser eterno
y puede ser fugaz.
Amor que quiere libertarse
para volver a amar.
Amor divinizado que se acerca.
Amor divinizado que se va.)
Ya no se encantarán mis ojos en tus ojos,
ya no se endulzará junto a ti mi dolor.
Pero hacia donde vaya llevaré tu mirada
y hacia donde camines llevarás mi dolor.
Fui tuyo, fuiste mía ¿Qué más? Juntos hicimos
un recodo en la ruta donde el amor pasó.
Fui tuyo, fuiste mía. Tú serás del que te ame,
del que corte en tu huerto lo que he sembrado yo.
Yo me voy. Estoy triste; pero siempre estoy triste.
Vengo desde tus brazos. No sé hacia dónde voy.
Desde tu corazón me dice adiós un niño.
Y yo le digo adiós.
*P. Neruda
Wilhelm Reich um visionário incompreendido
Considerado gênio por alguns e louco por outros, o austríaco Wilhelm Reich foi o maior revolucionário da Psicologia deste século. Pioneiro da Revolução Sexual, precursor dos movimentos ecológicos e da psiquiatria biosocial, Reich desenvolveu também artefatos usados na cura do câncer e na diminuição dos efeitos negativos da energia nuclear. Pouco se conhece soube o pensamento de W. Reich, porque não há muitas fontes de informação e suas teses são sonegadas nas universidades de psicologia e psiquiatria. Há quem se refira a Reich por seus escritos freudianos-marxistas, outros por seus textos psicanalíticos, além de seus escritos sobre Deus e o Diabo. Durante anos, vários movimentos revolucionários recuperaram parte de sua obra, sobretudo seus escritos sócio-políticos, seguindo a tese de que não há revolução social sem revolução sexual, entendendo por sexualidade as relações afetivas, comunicantes, pessoais, etc. Reich reivindicou a função da sexualidade não como uma mera realização do coito, mas como a fusão com o outro. A vivência plena do amor e da sexualidade era vista por ele como fator indispensável para a satisfação emocional.
Todo o seu pensamento indica que é preciso uma mudança radical nas relações humanas. Associa a separação de um bebê do corpo da mãe na hora do parto com o assassinato de Cristo, com a psicose, com o fascismo e com a função do orgasmo. A complexidade de seu discurso é algo que vai além de sua época. A sua mais importante contribuição, que revolucionou toda a Psicologia, foi provar que a neurose é produzida socialmente, instalando-se em todo o corpo e não apenas na mente das pessoas. O conceito de couraça neuro-muscular do caráter mostra como a neurose se dá através da estagnação da energia vital. No livro "A Função do Orgasmo", Reich coloca que o orgasmo sexual pleno e satisfatório é o regulador biológico da harmonia vital. Militante socialista, despertou a atenção para o fato de que as neuroses eram provocadas pelo desvio da originalidade das pessoas, através de bloqueios à sexualidade e à afetividade, portanto um fenômeno sócio-político. A partir daí, passou a dar um novo enfoque a Psicologia, centrado no indivíduo, seu corpo e suas relações sociais.
Wilhelm Reich foi expulso da sociedade Psicanalítica por divergências teóricas e ligações com a política; e também do Partido Comunista por suas denúncias contra o autoritarismo reinante. Perseguido pelo nazismo, após percorrer vários países europeus, se instala nos Estado Unidos, onde passa a pesquisar fenômenos climáticos, caixas de acumulação de orgônio, etc. Em 1956, Reich é detido por se recusar a comparecer ao Tribunal para comprovar os efeitos terapêuticos dos acumuladores. Um ano após sua prisão, Reich morre na cadeia deixando um legado para as gerações futuras que ainda surpreendem-se com sua originalidade e rebeldia.
"Fui acusado de ser um utópico, de querer eliminar o desprazer do mundo e defender apenas o prazer. Contudo, tenho declarado claramente que a educação tradicional torna as pessoas incapazes para o prazer encouraçando-as contra o desprazer. Prazer e alegria de viver são inconcebíveis sem luta, experiências dolorosas e embates desagradáveis consigo mesmo. A saúde psíquica não se caracteriza pela teoria do nirvana dos iogues e dos budistas, nem pela hedonismo dos epicuristas, nem pela renúncia monástica; caracteriza-se, isso sim, pela alternância entre a luta desprazerosa e a felicidade, o erro e a verdade, o desvio e a correção da rota, a raiva racional e o amor racional; em suma, estar plenamente vivo em todas as situações da vida. A capacidade de suportar o desprazer e a dor sem se tornar amargurado e sem se refugiar na rigidez, anda de mãos dadas com a capacidade de aceitar a felicidade e dar amor."
Wilhelm Reich (1942) em "Function Of The Orgasm
PORQUE É A EXISTÊNCIA HUMANA PREFERÍVEL À DE UM SEIXO?
No século dezenove, Shopenhauer, conhecido como o 'filósofo do pessimismo', chamou a atenção para o sofrimento da vida humana: queremos algo que nos falta ou temos aquilo que queremos; mas sofremos de um modo ou de outro - quer com a falta do que queremos, quer com o tédio resultante da falta de querer quando alcançamos o que queremos. (…) Se Shopenhauer está certo, não será melhor ser um simples seixo, que é imune a estas experiências? Se fôssemos apenas seixos de uma praia, todas as ondas e agitações da vida (atrevo-me ao gracejo?) escorreriam por cima de nós.Shopenhauer está errado, pelo menos nos detalhes. Em muitas coisas apreciamos simplesmente o prazer da actividade que nos faz esquecer as insatisfações. Como é costume dizer, é melhor viajar com esperança do que chegar ao destino.
É um erro pensar que quando mobilizamos os meios para atingir um fim só o fim nos importa, sendo os meios irrelevantes e sem qualquer valor em si mesmos. O nosso objectivo pode ser atingir o topo do monte Evereste, mas isso não significa que o queiramos atingir de qualquer maneira. Queremos escalar a montanha, combater as tempestades de neve, lutar escalada acima. Quando (no meu caso, é melhor dizer 'se') queremos atingir o topo, queremos atingir o nosso objectivo como deve ser. Os feitos medem-se não somente pelos resultados, mas também pelo modo como são conseguidos. Vermo-nos no cume do Evereste largados por um helicóptero ou por ter carregado num botão não teria interesse, a não ser que o feito a atingir fosse ser capaz de pilotar um helicóptero ou construir uma máquina que pudesse levar pessoas do local A para o B premindo apenas um botão.
Shopenhauer terá alguma razão no seu pessimismo, no sentido em que na maior parte das vidas humanas há mais sofrimento do que satisfações. Muitos sofrimentos parecem mais ou menos inevitáveis - mesmo para aqueles que vencem na vida. Perdemos familiares, amigos e amantes; temos consciência da crescente decadência que acompanha a velhice; com toda a probabilidade, viremos um dia a ter, durante anos, experiência directa dessa decadência - e, por fim, do sofrimento de morrer. Temos consciência de que milhões de outras pessoas sofrem, no passado, no presente e no futuro e também do sofrimento dos animais. Além disso, alguns de nós sentem-se apegados a certos objectos - um livro, um vestido, um carro muito amado - chegando por vezes a atribuir-lhes uma vida própria e sofrendo também quando eles entram em colapso. Estas reflexões podem bem levar-nos a concluir que os mais felizes são, por assim dizer, aqueles que nunca chegam a nascer.
* * *
Qual o sentido de tudo isto? Muitos não resistem a fazer esta pergunta. Há fins e propósitos na minha vida - mas qual o fim ou propósito da minha vida?
Alguns respondem explicando que as suas vidas ganham sentido ao ajudarem os seus filhos, ao trabalharem para melhorar a vida dos pobres ou ao abraçarem uma causa política. Mas isto é jogar ao jogo empurra: qual o sentido de ajudar as crianças ou de abraçar uma causa política? Qualquer que seja a resposta dada, podemos sempre continuar a fazer perguntas similares. Alguns voltam-se para a esperança de uma vida eterna no além, mas também ela não tem mais sentido do que uma vida finita. Se temos motivo para nos questionarmos genuinamente sobre o sentido de uma vida finita, também o teremos para nos questionarmos sobre o sentido de uma vida de duração infinita. Se optarmos pela resposta 'servir a Deus' ou por algo semelhante, devemos perceber que se pode perguntar: e qual o sentido de tal serviço ou da existência de Deus?
Talvez seja melhor começar a pensar que para uma coisa ter valor não precisa de ter um sentido. (…)
As vidas humanas podem ter valor especialmente porque são vidas de seres capazes de atribuir valor e que valorizam certos aspectos do universo, a vida e o viver. É verdade que as vidas acabam; mas será que poderíamos sequer enfrentar a vida eterna? A consciência da morte faz com que muitos de nós se sintam emparedados pela triste e obsessiva melancolia do 'Para quê?' Mas recordemos que pode não haver um sentido acima de todos os sentidos. Tal como as explicações, os propósitos têm de parar algures.
Todas as coisas a que damos valor e que dão sentido às nossas vidas, por mais raras ou pequenas que sejam - as amizades, os amores e as coisas absurdas; aquelas memórias de sons de fundo misturados com paixões e olhares correspondidos que por magia nos cercam e armadilham; as intoxicações dos vinhos e das palavras, os pensamentos e músicas que teimosamente nos acompanham pelas noites enevoadas e sonolentas, os nossos sentidos revitalizados por águas cintilantes, tão necessárias ao amanhecer; o espectáculo do mar enfurecido pelas ondas, os luares e imagens de mistério e os céus que se alargam obrigando os olhos a estenderem-se - acabam realmente por deixar de existir. E, curiosamente, as mais encantadoras destas coisas são muitas vezes aquelas em que nos perdemos e deixamos também de ser - no entanto, que elas existem, assim como nós, numa certa fracção de tempo, é uma verdade perene, fora do tempo. Isto é o melhor que os amantes da eternidade podem ter.
*por Peter Cave
quarta-feira, 19 de novembro de 2008
AC/DC - Black Ice
Ta aí galera, o sucessor de “Stiff upper lip”. Esse disco ta muito bom, a crítica especializada ja diz que é o melhor desde "back in black", a nossa opinião é apenas que esse "Black Ice" é mesmo do caralho, o tio Angus deu show outra vez. A fórmula continua a mesma, rock n' roll básico com timbres limpos de guitarra, talvez o segredo esteja nessa mesmice, ninguém consegue ser tão constante por tanto tempo. Nesses dias produzir um som sem afetações é coisa rara, AC/DC uma banda realmente honesta. Abaixo eu disponibilizo o link para download integral do álbum. Divirtam-se...
http://rapidshare.com/files/165531313/sonzeirananet_asds_200811_bi.zip
Pós-Modernidade e Teoria da História
INTRODUÇÃO
O norte-americano Francis Fukuyama, em 1989, declarou o fim da História, pois para ele a História havia chegado ao seu final e que todos os países do mundo se juntariam ao redor de um sistema político e econômico, chamado de democrático, a qual muitos chamam de neoliberal. O futuro da humanidade teria apenas um caminho, o pensamento único e que a História teria acabado. Segundo Carlos Barros a reação de muitos historiadores foi de hostilidade, pois além de não concordarem com Fukuyama, muitos entenderam que ele exterminou a história com "h" minúsculo, como sucessão de fatos, e não que exterminou com a História universal, com H maiúsculo[1]. Fukuyama reviu o seu trabalho e chegou a desmenti-lo, em 1998, em entrevista ao New York Times, tendo visto as várias crises econômicas que se seguiram nos anos 90.
Não acreditamos que a História tenha acabado, assim como também que a "ciência" história também. Mas que a "ciência" história passa por uma crise teórica atualmente. Esta crise de paradigma ocorre desde a década de 70 e será isto que propomos discutir nesse trabalho. Propomos expor e discutir aqui a crise existente nestas últimas décadas na teoria da história. Propomos discutir o que vem acontecendo com a teoria da história nessa Era Pós-Moderna, e talvez tentar discutir qual será o futuro da teoria da história.
A PÓS-MODERNIDADE
Podemos dizer que uma nova era na sociedade ocidental se iniciou no início dos anos 70. O fim dos movimentos culturais da década de 60, e o início de uma nova era do capitalismo geraram o que podemos chamar da sociedade pós-moderna. O historiador Nicolau Sevcenko nos diz que nos encontramos nos últimos anos no "loop da montanha russa", que seria a terceira fase da montanha russa, e pode ser considerado "a síncope final e definitiva, o climax da aceleração precipitada, sob cuja intensidade extrema relaxamos nosso impulso de reagir, entregando os pontos entorpecidos, aceitando resignadamente ser conduzidos até o fim pelo maquinismo titânico. Essa etapa representaria o atual período, assinalado por um novo surto dramático de tansformações, a Revolução da Microeletrônica"[2]. Sevcenko ainda acrescenta que o mundo vai se tornado cada vez mais imprevisível, irresistível e incompreensível. Não há, na sociedade uma esperança para o futuro, nada podemos prever. Serão nos anos 80 que entraremos de vez nessa nova era, a chamada terceira revolução industrial, ou a revolução científico-tecnológica. Será nessa década que começará a surgir a nova concepção política e econômica do mundo, a qual, na década seguinte, a de 90, viveremos o seu ápice: o neoliberalismo. As duas grande figuras políticas que deram início a essa nova concepção do capitalismo foram o ex-presidente norte americano Ronald Reagan e a ex-primeira ministra inglesa Margareth Tatcher, ou "a dama de ferro".Esses dois políticos iniciaram a política de desmonte do Estado do Bem Estar Social, criado após a Segunda Grande Guerra, e da liberalização total do mercado, sendo este, que aos poucos, determinaria todas as ações dos homens. Esse processo se espalhará por todo o mundo nas décadas de 80 e 90, e, após a queda do comunismo no final dos anos 80 será tratado como "o pensamento único", termo muito contestado. Segundo Fredric Jameson "a emergência da pós-modernidade está estritamente relacionada à emergência desta nova fase do capitalismo avançado, multinacional e de consumo"[3].
Esse novo mundo pós-moderno neoliberal gerou várias crises em vários aspectos de nossa sociedade. Criou-se um novo perfil de sociedade, bem diferente daquele existente nos anos 60; agora nos encontramos em um momento de crise de transcendência, pois assim como na virada do século XIX com o século XX, nos encontramos em um período onde as mudanças tecnológicas são tão rápidas e avassaladoras que perdemos o nosso espírito de transcendência tão discutido por intelectuais do século XX. Nos encontramos novamente em uma era de racionalidade, onde o mais importante é a técnica e o seu tecnicismo, onde o que importa é a competição entre os homens, e onde existe uma ética narcisista, onde o mercado (que parece mais uma entidade sobrenatural) regula todas as ações. Esse período em que vivemos hoje gerou várias crises vindas da crise inicial de transcendência. Uma grande crise ideológica, política e de valores se criou e seguindo à esta uma crise de sociabilidade. Os homens, perderam, principalmente nos grandes centros urbanos (como muitos intelectuais discutem), o sentido de serem um animal social; eles não mais se socializam, ou se socializam de uma forma mínima possível. Podemos dizer que não existe mais alteridade, o homens, e as massas se tornaram indiferentes uns aos outros, gerando uma espécie de niilismo pós moderno.
Desde os anos 70, essa crise ideológica, política, de valores afetaram as ciências humanas em geral. Com a história não foi diferente, tanto no seu âmbito teórico, prático e na sua função social.
A CRISE NA TEORIA E A HISTÓRIA PÓS-MODERNA
Pretendemos, neste trecho do trabalho, explicar a crise por que passa a teoria da história nas últimas três décadas, mostrando as diferentes idéias expostas por vários historiadores e filósofos.
No início dos anos 70 veio a tona uma nova corrente historiográfica, vinda da escola francesa, que se auto denominava "Nova História". Essa Nova História tinha como característica um retorno ao estudo do sujeito, e "se originou associada à Escola de Annales e que, além de lutar por uma história total, opõe-se totalmente ao paradigma tradicional da historiografia"[4]. Essa nova historiografia também foi denominada como "história das mentalidades", onde a história se preocupa com tudo, onde não há paradigmas, e a história é subjetiva, ao contrário da história tradicional. A Nova História trará muitas novas questões ao estudo da história, as quais discutiremos mais adiante, como por exemplo a não necessidade de um paradigma e a questão da narrativa.
Atualmente, a história, sem dúvida alguma, sofre uma crise de paradigmas, não possuímos nenhum "ismo" para seguir. É claro que falamos de uma maneira geral, pois os paradigmas existentes anteriormente não desapareceram por completo e ainda são praticados pela historiografia, a exemplo da história marxista. Elias Saliba nos diz que "nos encontramos meio 'embasbacados' diante do concreto, em estado de empatia constante com a singularidade. Este mundo do imprevisível parece-nos preferível do que nos alojar num sistema ordenado de fixação e explicação do real, num 'ismo' qualquer, numa teoria. Como Tântalos, procuramos uma armação teórica, mas temos medo dela, porque adivinhamos a desilusão posterior e a espécie de sofrimento psicológico daí decorrente - o que só aumenta o clima de desencanto e inutilidade de esforço"[5]. Essa falta de paradigmas para a história talvez exista devido ao desencanto, citado por Saliba, e também devido a desconfiança do futuro que há hoje em dia. Como não possuímos mais uma idéia do futuro, já que ele se tornou imprevisível, a história não é mais escrita sob um paradigma, e sim a história é escrita para o presente. Segundo Josep Fontana "esse caráter imprevisível do futuro tem sido, como já disse, a origem de boa parte de nosso desânimo e do nosso desconcerto"[6]. Essa desconfiança aumentou ainda mais com a queda do comunismo, indo por terra a escrita da história ao estilo marxista, que previa um futuro.
Então a história não possuí mais sentido? Muitos historiadores pós-modernos pensam o contrário: a história, agora, possuí muitos sentidos. Muitos historiadores julgam que não necessitamos de novos paradigmas, não precisamos achar um logo, para podermos sair da crise. Carlos Barros considera essa posição conservadora, pois perpetua somente o presente. Hayden White nos diz que a vida "será mais bem vivida se não tiver um sentido único, mas muitos sentidos diferentes. (...) precisamos de uma história que nos eduque para a descontinuidade de um modo como nunca se fez antes; pois a descontinuidade, a ruptura e o caos são o nosso destino."[7].
Podemos dizer que White está falando que a História, e a sua prática historiográfica, não necessitam de um único sentido, e sim pode possuir vários. A história tem muitas histórias, podendo-se perceber isso nas discussões da Nova História, onde tudo é história. Esse questionamento dos sentidos, demonstra um certo desprezo pela teoria da história, principalmente da questão dos paradigmas, pois não é necessário teoria se são diversos os sentidos das coisas. Muitos historiadores discordam dessa posição e acham que a história, assim como a vida, possuem um sentido e a teoria deve discuti-lo.
Uma questão das mais discutidas dentro da teoria da história pós-moderna é a questão da linguagem e da narrativa. A linguagem é colocada, muitas vezes, no centro das discussões sobre a história e a sua escrita no nosso mundo contemporâneo. Gadamer nos fala que é através da linguagem que nos aproximamos dos fatos e que é ela que nos possibilita interpretar os resultados de nossas observações[8]. A prática da história também é linguagem, e a teoria da história atual a considera de extrema importância, pois é através da linguagem que o historiador retrata as suas observações da História, daí a importância, nos estudos da teoria da história (e não só) da hermenêutica, que busca compreender, através da linguagem, como é que se produz o significado da História dentro da historiografiia..
A narrativa, e o discurso são temas muito discutidos pelos intelectuais da pós-modernidade. Segundo Linda Hutchen "o que a escrita pós-modernista, tanto da história, como da literatura nos ensinou é que tanto história quanto ficção são discursos, que os dois constituem sistemas de significação pelo qual nós fazemos sentido do passado"[9]. Hutchen está nos mostrando que a história, como a literatura se equiparam pois são discursos construídos, ou seja, para ela, a história é construída, através da narrativa e da linguagem pelos seus autores. Para Roland Barthes "o discurso histórico é essencialmente elaboração ideológica, ou para ser mais preciso, imaginário, se é verdade que o imaginário é a linguagem pela qual o enunciante de um discurso (entidade puramente linguística) 'preenche' o sujeito da enunciação (entidade psicológica ou ideológica)"[10]. Roger Chartier percorre caminho parecido dizendo que "a História é um discurso que aciona construções, composições e figuras que são as mesmas da escrita narrativa, portanto da ficção, mas é um discurso que, ao mesmo tempo, produz um corpo de enunciados científicos, se entendermos por isso, com Michel de Certeau 'a possibilidade de estabelecer um conjunto de regras que permitem controlar operações proporcionais à produção de objetos determinados' "[11]. Chartier nos traz algo importante para discutirmos, pois nos mostra que, como muito se discute hoje em dia, a história é uma narrativa, assim como a literatura, e que esta possuí um discurso montado, mas acrescenta que não é uma narrativa qualquer, pois tem as suas regras com um corpo de enunciados, sendo assim uma ciência. Peter Burke comenta sobre a forma narrativa que vem tomando a história hoje em dia, porém diz que a narrativa não pode ser a narrativa tradicional, superficial no acontecimentismo e "para tanto, é necessário densificar a narrativa, e para isso, Burke apresenta quatro soluções encontradas nas obras de outros historiadores: a micro-narrativa, narração da história de populares no tempo e no espaço, observando a presença das estruturas; utilizar várias vozes afim de captar os conflitos e as permanências; redigir de trás para frente, mostrando o peso do passado; e, finalmente, encontrar o relacionamento dialético entre acontecimento e estrutura. Burke aposta na primeira solução, não por preferência, mas por observar que a mesma já está crescendo"[12].
CONCLUSÕES
Neste trecho do trabalho pretendemos tirar algumas conclusões e opiniões sobre a teoria da história na pós-modernidade. Mas, acima de tudo, pensamos que colocaremos mais questões para serem debatidas do que respostas.
Primeiramente, discutiremos se a teoria da história realmente se encontra em uma crise pois não possui um paradigma. Será que precisamos mesmo de um paradigma, ou de paradigmas? Carlos Barros propõe um novo paradigma para a história. Ele nos diz que que o novo paradigma será digital, devido a nova era digital que vivemos, com internet, CD-ROM, etc., e desse modo a história será mais global tanto do ponto vista teórico quanto empírico. O novo paradigma será baseado nas exigências culturais e educativas e nas exigências políticas e sociais que vem ocorrendo ao final da década de 90 e no começo desse novo século. Para ele também é necessária a redefinição da história como ciência. Por fim, pensa que o novo paradigma não pode ser o simples retorno à história tradicional, mas tampouco a fuga para adiante da fragmentação pós-moderna. Ou seja, nos parece que Barros não tem um paradigma. Achamos importante a necessidade da discussão sobre como deve ser a escrita da história, mas achamos que não é necessário achar um paradigma, pois a verdade histórica, em nossa opinião não existe, ela é construída por cada historiador. Na nossa opinião a história possui vários sentidos, tanto para aqueles que a escrevem como para aqueles que a lêem.
A Pós-modernidade gerou uma dúvida na cabeça dos pensadores, a de qual e como será o nosso futuro, gerando crises historiográficas e de paradigmas. O homem possui a necessidade de conhecer o seu futuro, e as últimas décadas mostraram que ele é imprevisível. Mas será que foram somente as últimas décadas? Para nós, o futuro foi, é, e sempre será imprevisível, simplesmente porque ele é futuro. Mas, apesar de imprevisível ele pode ser construído pelas pessoas. a história, seja ela qual for (podendo ser de tudo) tem fundamental importância na construção do imprevisível futuro, pois é do estudo do passado que podemos, talvez, nos entender hoje e construir o futuro. Ao contrário do que disse uma vez Fukuyama, e parafraseando Josep Fontana: "nunca é o fim da história, somente eu sempre nos encontramos no fim de uma história e no começo de outra ou de outras cujo o curso não podemos predizer com nenhum método, por refinado e científico que seja, não só pela complexidade da previsão, como também porque a trajetória do porvir do que entre todos nós queiramos e saibamos fazer".[13]
BIBLIOGRAFIA
BARROS, Carlos. Para um novo paradigma historiográfico. Em http://www.h- debate.com/cbarros/spanish/articulos/nuevo_paradigma/hacia/tempo.htm.
BARTHES, Roland. O discurso da história. 1967.
CHARTIER, Roger. A História hoje: dúvidas, desafios, propostas. 1994.
FONTANA, Josep. História: análise do passado e projeto social. 1982, epílogo.
GADAMER, H. G.. Verité et Méthode, 1960.
HUTCHEN, Linda. "Historicizing the postmodern: the problematizing of history" in A poetics of Postmodernism: history, theory, fiction. New York and London: Routledge, 1988.
JAMESON, Fredric. "Pós-modernidade e sociedade de consumo". In: Revista Novos Estudos CEBRAP. São Paulo, nº12, 1985.
PIGNATARI, Renato. Escrevendo a história. Resenha do livro "A escrita da história" de Peter Burke publicada em www.klepsidra.net.
SALIBA, EliasThomé. "Mentalidades ou história sociocultural; a busca de um eixo teórico para o conhecimento histórico." In: Revista Margem. Nº1. São Paulo: EDUC, 1992.
SEVCENKO, Nicolau. A corrida para o século XXI: no loop da montanha russa. São Paulo: Companhia das Letras, 2001.
WHITE, Hayden. The burden of History, History and Theory. 1966.
[1] BARROS, Carlos. Para um novo paradigma historiográfico. Em http://www.h-debate.com/cbarros/spanish/articulos/nuevo_paradigma/hacia/tempo.htm.
[2] SEVCENKO, Nicolau. A corrida para o século XXI: no loop da montanha russa. São Paulo: Companhia das Letras, 2001, p.16.
[3] JAMESON, Fredric. "Pós-modernidade e sociedade de consumo". In: Revista Novos Estudos CEBRAP. São Paulo, nº12, 1985, p. 26.
[4] PIGNATARI, Renato. Escrevendo a história. Resenha do livro "A escrita da história" de Peter Burke publicada em www.klepsidra.net, p. 1.
[5] SALIBA, EliasThomé. "Mentalidades ou história sociocultural; a busca de um eixo teórico para o conhecimento histórico." In: Revista Margem. Nº1. São Paulo: EDUC, 1992, p.30.
[6] FONTANA, Josep. História: análise do passado e projeto social. 1982, epílogo.
[7] WHITE, Hayden. The burden of History, History and Theory. 1966, p.56.
[8] GADAMER, H. G.. Verité et Méthode, 1960, pp. 74-76.
[9] HUTCHEN, Linda. "Historicizing the postmodern: the problematizing of history" in A poetics of Postmodernism: history, theory, fiction. New York and London: Routledge, 1988, p. 89.
[10] BARTHES, Roland. O discurso da história. 1967.
[11] CHARTIER, Roger. A História hoje: dúvidas, desafios, propostas. 1994.
[12] PIGNATARI, Renato. Op. Cit., p. 3.
[13] FONTANA, Josep. Op. Cit., epílogo.
*por Marco Antunes de Lima