De antemão, é grato considerar as observações do autor referentes à diferença de postura em relação às expectativas acerca do homem numa sociedade aristocrática em contraposição com as perspectivas dentro de uma sociedade democrática. A aristocracia crê numa sociedade assentada essencialmente no que se poderia dizer de uma ordem natural imutável. Ela considera a possibilidade de evolução humana, porém, tão somente como uma melhora e nunca como um ganho qualitativo que possa acenar uma mudança substancial. Essa abordagem a respeito das faculdades de aperfeiçoamento do engenho humano, tem haver com a idéia de imutabilidade da ordem instituída. Significa dizer que ao aristocrata é necessária a concepção de um homem castrado, isto é, limitado em suas conquistas, para que a ordem “natural” das coisas seja mantida.
Em contraposição ao desejo aristocrático de uma manutenção perene das classes e posições sociais tornando a vida de uma comunidade política um exercício estático, a sociedade democrática aspira fundamentalmente a movimentação dos corpos em seu interior. A idéia a de que o homem está dotado indefinidamente da faculdade do aperfeiçoamento, incita a permissão aberta da livre iniciativa como talvez o laboratório máximo de erros e acertos humanos que irão mais tarde propiciar, nas palavras de Tocqueville, o encontro da grandeza imensa. Essa, pode ser traduzida em alguma medida como a promoção de uma igualdade entre homens, promovendo por força de sua presença, o fomento prosperidade geral onde os cidadãos possam se equivaler abundantemente em bens tanto materiais, como também imateriais.
Todavia, o autor coloca alguns dados que aparentemente contrariam a percepção, ou pelo menos, atacam um conceito tradicional do que seria uma sociedade evoluída nos moldes de então. Essas antíteses, apresentam-se todas na América, portanto, resta a proposta de estudar a democracia americana como algo aparte das demais experiências existentes. O fato é que pelo menos em tese, a quantificação dos avanços de uma sociedade esta identificada com o volume de descobertas científicas, de produção literária e artística de forma geral que esse corpo político é capaz de gerir. No caso dos Estados Unidos, o que se via então era uma atuação pífia nos campos da cultura em geral. Entretanto, o autor observa que as condições ímpares daquele país, geravam fenômenos não equivalentes em outras partes do mundo, assim, a América deve ser estudada em suas peculiaridades e não numa comparação equivalente com algumas sociedades européias por exemplo.
As condições da experiência democrática americana são excepcionais, não havendo paralelo com nenhuma outra até então vista. A proximidade do velho continente como forma de uma biblioteca com o acervo pronto para o estudo científico e artístico, a cultura fundada em hábitos comerciais, a origem assentada em puritanismo religioso e tantas outras facetas ímpares daquele país, levaram o povo a inclinar o espírito à lidas das coisas puramente materiais. Nesse sentido, os Estados Unidos, são uma experiência única, devendo-se assim estudá-los sem conclusões a priori. Talvez possa-se identificar, ainda que tacitamente, uma tendência de fundo nos escritos de Tocqueville que se manifesta no sentido de considerar que o avanço das ditas ciências do espírito no povo americano acontecerá impreterivelmente no momento em que esse alcançar um ápice econômico.
É um modelo mais ou menos criado em comparação às observações acerca da aristocracia tradicional européia. Essa casta, é constituída de homens que nunca necessitaram de uma afirmação social demonstrada em ganhos como os de prestígio político e financeiro. Considerado superior desde o berço, o aristocrata tem à mão todas as ferramentas às quais necessitar para a satisfação do corpo, podendo concentrar muito de seu tempo ao exame do espírito. O autor, também desse modo, deixa perceber sua crença que no momento em que alguns cidadãos forem se distanciando de outros na sociedade, esses então emergentes, estarão aptos a iniciar uma nova vanguarda de produção artística e científica. Os homens dentro de uma sociedade democrática cultivam a ciência, as letras e as artes, a única peculiaridade é que o fazem à sua maneira.
É importante salientar ainda que, num próximo momento, onde as necessidades do corpo são satisfeitas em toda a sociedade, o tempo ocioso é naturalmente voltado à alguma atividade, a tendência maior é que essa sempre esteja ligada à cultura. Então, de certa forma em Tocqueville, o caminho natural era que uma vez próspera, a sociedade americana alargasse o campo da pesquisa e da produção cultural em seu seio, o que provou-se acertado pelos anos que se seguiram.
Por fim, cita-se, a consideração feita pelo autor de que a igualdade gerada em um sistema político faz com que o homem nela imerso, busque julgar por si próprio, uma vez que as correntes da tradição, como aquela referente à idéia da existência de classes formadas por indivíduos superiores por exemplo, é inteiramente abolida e combatida. Essa tendência, de certa forma atrai o homem a uma vulgarização da ciência, livrando-a da abstração e preocupação teórica para inseri-la num campo de resultados práticos. Uma vez livre de intérpretes superiores, o homem está a vontade para codificar em si o conhecimento como bem entender.
Em se tratando do cenário americano, Tocqueville já identificava uma sedução especial pela parte teórica do conhecimento que permitisse sua imediata aplicação. Mais adiante, um álibi utilizado para o desinteresse na abstração pura, é que essa necessita meditação e tranqüilidade, ambos estados seriam virtualmente irrealizáveis numa everfescência democrática. As instituições dos sistemas democráticos levam os homens nela inseridos a agirem constantemente, isso subtrai o tempo necessário à contemplação. Nesse sentido, científica e culturalmente falando, poder-se-á dizer talvez que em Tocqueville que a sociedade americana é uma sociedade essencialmente pertencente ao porvir.
*Leandro M. de Oliveira
Em contraposição ao desejo aristocrático de uma manutenção perene das classes e posições sociais tornando a vida de uma comunidade política um exercício estático, a sociedade democrática aspira fundamentalmente a movimentação dos corpos em seu interior. A idéia a de que o homem está dotado indefinidamente da faculdade do aperfeiçoamento, incita a permissão aberta da livre iniciativa como talvez o laboratório máximo de erros e acertos humanos que irão mais tarde propiciar, nas palavras de Tocqueville, o encontro da grandeza imensa. Essa, pode ser traduzida em alguma medida como a promoção de uma igualdade entre homens, promovendo por força de sua presença, o fomento prosperidade geral onde os cidadãos possam se equivaler abundantemente em bens tanto materiais, como também imateriais.
Todavia, o autor coloca alguns dados que aparentemente contrariam a percepção, ou pelo menos, atacam um conceito tradicional do que seria uma sociedade evoluída nos moldes de então. Essas antíteses, apresentam-se todas na América, portanto, resta a proposta de estudar a democracia americana como algo aparte das demais experiências existentes. O fato é que pelo menos em tese, a quantificação dos avanços de uma sociedade esta identificada com o volume de descobertas científicas, de produção literária e artística de forma geral que esse corpo político é capaz de gerir. No caso dos Estados Unidos, o que se via então era uma atuação pífia nos campos da cultura em geral. Entretanto, o autor observa que as condições ímpares daquele país, geravam fenômenos não equivalentes em outras partes do mundo, assim, a América deve ser estudada em suas peculiaridades e não numa comparação equivalente com algumas sociedades européias por exemplo.
As condições da experiência democrática americana são excepcionais, não havendo paralelo com nenhuma outra até então vista. A proximidade do velho continente como forma de uma biblioteca com o acervo pronto para o estudo científico e artístico, a cultura fundada em hábitos comerciais, a origem assentada em puritanismo religioso e tantas outras facetas ímpares daquele país, levaram o povo a inclinar o espírito à lidas das coisas puramente materiais. Nesse sentido, os Estados Unidos, são uma experiência única, devendo-se assim estudá-los sem conclusões a priori. Talvez possa-se identificar, ainda que tacitamente, uma tendência de fundo nos escritos de Tocqueville que se manifesta no sentido de considerar que o avanço das ditas ciências do espírito no povo americano acontecerá impreterivelmente no momento em que esse alcançar um ápice econômico.
É um modelo mais ou menos criado em comparação às observações acerca da aristocracia tradicional européia. Essa casta, é constituída de homens que nunca necessitaram de uma afirmação social demonstrada em ganhos como os de prestígio político e financeiro. Considerado superior desde o berço, o aristocrata tem à mão todas as ferramentas às quais necessitar para a satisfação do corpo, podendo concentrar muito de seu tempo ao exame do espírito. O autor, também desse modo, deixa perceber sua crença que no momento em que alguns cidadãos forem se distanciando de outros na sociedade, esses então emergentes, estarão aptos a iniciar uma nova vanguarda de produção artística e científica. Os homens dentro de uma sociedade democrática cultivam a ciência, as letras e as artes, a única peculiaridade é que o fazem à sua maneira.
É importante salientar ainda que, num próximo momento, onde as necessidades do corpo são satisfeitas em toda a sociedade, o tempo ocioso é naturalmente voltado à alguma atividade, a tendência maior é que essa sempre esteja ligada à cultura. Então, de certa forma em Tocqueville, o caminho natural era que uma vez próspera, a sociedade americana alargasse o campo da pesquisa e da produção cultural em seu seio, o que provou-se acertado pelos anos que se seguiram.
Por fim, cita-se, a consideração feita pelo autor de que a igualdade gerada em um sistema político faz com que o homem nela imerso, busque julgar por si próprio, uma vez que as correntes da tradição, como aquela referente à idéia da existência de classes formadas por indivíduos superiores por exemplo, é inteiramente abolida e combatida. Essa tendência, de certa forma atrai o homem a uma vulgarização da ciência, livrando-a da abstração e preocupação teórica para inseri-la num campo de resultados práticos. Uma vez livre de intérpretes superiores, o homem está a vontade para codificar em si o conhecimento como bem entender.
Em se tratando do cenário americano, Tocqueville já identificava uma sedução especial pela parte teórica do conhecimento que permitisse sua imediata aplicação. Mais adiante, um álibi utilizado para o desinteresse na abstração pura, é que essa necessita meditação e tranqüilidade, ambos estados seriam virtualmente irrealizáveis numa everfescência democrática. As instituições dos sistemas democráticos levam os homens nela inseridos a agirem constantemente, isso subtrai o tempo necessário à contemplação. Nesse sentido, científica e culturalmente falando, poder-se-á dizer talvez que em Tocqueville que a sociedade americana é uma sociedade essencialmente pertencente ao porvir.
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