quarta-feira, 3 de novembro de 2010

Muito Além do Cidadão Kane - 17 anos depois

Com 17 anos de atraso o Soturna Primavera apresenta o documentário britânico “Muito Além do Cidadão Kane". Esse filme apresenta Roberto Marinho o então dono da mídia brasileira, como um exemplo perfeito da concentração de poder da imprensa no Brasil. O título é uma referência à personagem criada por Orson Welles no filme Cidadão Kane.

O tema central é o domínio crescente da TV Globo na imprensa brasileira no início dos anos 90, esse envolveria contratos ilegais com empresas estrangeiras, um apoio incondicional aos governos ditatoriais no Brasil e tudo o que estiver ao alcance para garantir seus interesses, incluindo-se mesmo a manipulação de debates políticos para eleger o governo, como ocorreu no caso Collor de Mello. Esse filme tem como proposta explicar de que maneira funciona a política brasileira de comunicações e os critérios arbitrários pelos quais se concedem e renovam as concessões de canais de televisão e rádio.

A manipulação da grande imprensa no Brasil tem uma longa história. Grandes jornalistas já atacavam a corrupção da imprensa na Primeira República. Rui Barbosa denunciou o primeiro presidente brasileiro, Marechal Deodoro da Fonseca, por utilizar o Banco do Brasil para calar uma redação que faria denúncias de fatos sórdidos, com a quantia, na época exorbitante, de 200 contos de réis. Essa prática continuou ao longo dos anos: em diversas ocasiões o Banco do Brasil foi pressionado pelos governantes para fazer grandes empréstimos que jamais foram pagos. Nos anos 50, jornalistas influentes como Assis de Chateaubriand recebiam tais "empréstimos" com freqüência.

Nos dias de hoje essas práticas continuam presentes, mostrando que a corrupção da imprensa além de fato é instituição nos meios de comunicação brasileiros. Porém agora, somam-se outros elementos ao jogo político da imprensa como instituições religiosas e profetas bilionários, se é que me entendem... Assim, mudam-se os atores, mas o libreto da opereta segue inalterado. Nesse sentido, esse documentário feito em 1993 é ainda muito atual. Ajudando a entender por exemplo, por que o jornal nacional e outros derivados sempre tem “explicações” pras notícias apresentadas ao invés de veiculá-las deixando livres os espectadores para se perguntarem a respeito. Sim, eles pensam por você.


Espero que apreciem.

*Leandro M. de Oliveira

Nenhum comentário: