quarta-feira, 26 de maio de 2010

Um diálogo

BURQUIO– Portanto, cheguei à conclusão rapidamente.

FRACASTORIO– O que desejo concluir é isto:que a famosa e vulgar ordem dos elementos e corpos do mundo são um sonho e vã fantasia, porque nem na natureza se verifica e nem na razão se prova e demonstra, nem por lógica deve nem por potência pode ser de tal maneira. Resta, pois, compreendida a existência de um infinito campo e espaço nele contido, no qual abarca e penetra o todo. Nele há infinitos corpos semelhantes a este, dos quais um não esta mais no meio do universo que o outro, porque o dito universo é infinito e, portanto, sem centro e sem limite, já que tais coisas ( o centro e o limite) correspondem exatamente a cada um dos mundo que estão no universo, de modo que já foi dito, particularmente quando demontramos que existem certos, demontrados e definidos meios, quais são os sóis, em torno dos quais giram todos os planetas, as terras e águas, assim como vemos girar ao redor do nosso sol estes sete corpos errantes, e quando demonstramos igualmente que cada um desses astros ou mundos, dando voltas ao redor do proprio centro, produz a aparência de um mundo sólido e contínuo que arranta a todos os astros que vemos, existem e giram em torno de si como se fosse o centro do universo. De maneira que não há um só mundo, uma só terra, um só sol, mas sim tantos mundos como quantas estrelas vemos em torno de nós, as quais estão em um unico céu, lugar e ambiente, tanto como este mundo, no qual nós existimos, está em um unico ambiente, lugar e céu. De modo que o céu, o éter infinito e imenso, tambem faz parte do universo infinito, não é, sem duvida, mundo ou uma parte de mundo, mas receptáculo e campo em que eles estão, se movem, vivem, se nutrem e levam a cabo suas transformções, produzem, alimentam, voltam a alimentar e mantêm seus habitantes e animais, e com certas disposições e ordenamentos servem evidências de uma natureza superior, trasmutando a face de um só ser superior em inumeraveis sujeitos. De modo que em cada um desses mundos são um meio em que todas as suas partes concorrem e onde se reúnem todas as coisas semelhantes, assim como as coisas deste mundo se voltam para sí de qualque parte de suas proximidades. Por isso, não havendo nada que saia do planeta que não volte de novo a ele, se não me engano. Mas disto falarei em outra ocasião detalhadamente.

BURQUIO– Assim, pois, os outros mundos estão habitados como este?

FRACASTORIO– SE NÃO ASSIM E DE MELHOR MODO, PELO MENOS IGUALMENTE, PORQUE É IMPOSSIVEL QUE UM ESPÍRITO RACIONAL E UM TANTO DESPERTO POSSA IMAGINAR QUE NÃO SEJA PARECIDOS E MELHORES HABITADOS OS INUMERÁVEIS MUNDOS QUE SE REVELAM TÃO MAGINÍFICOS OU MAIS QUE ESTE, OS QUAIS SÃO SÓIS OU NÃO RECEBEM MENOS QUE NÓS, OS DIVINÍSSIMOS E FECUNDOS RAIOS QUE RECEBEMOS QUE TANTO NOS REVELAM A FELICIDADE DE SEU PROPRIO SUJEITO, E FONTE COMO SÃO, DITOSOS A TODOS OS CIRCUNDANTES QUE PARTICIPAM DE TAL FORÇA EMANADA. SÃO, POIS, INFINITOS OS INUMERÁVEIS E PRINCIPAIS MEMBROS DO UNIVERSO, QUE TÊM IGUAL ASPECTO, ROSTO, PRERROGATIVAS, FORÇAS E EFEITOS.
*Giordano Bruno, 1584

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