Se o pensamento tivesse encontrado a Verdade, cessaria de se questionar. Porém, não é o que constatamos ao nos debruçarmos sobre o monoteísmo; nem sobre os seus fundamentos, quanto menos sobre as variações doutrinais.
O difícil é que, quem quer crer, levar uma vida de fé e seguimento do Caminho, - não pode questionar: quem quer que creia na Verdade revelada pelo próprio Deus, por difícil que seja, não pode de modo algum questioná-la. Ou bem se crê ou bem se questiona. Não se pode fazer as duas coisas ao mesmo tempo. Mas ambas podem perfeitamente se alternar numa mesma pessoa. Nesse sentido se poderia dizer que 'um crente que pensa', isto é, uma pessoa de fé que é ao mesmo tempo questionadora, é um tanto quanto esquizofrênica... No melhor dos sentidos. Suponha-se alguém que tenha fé absoluta na bondade do Criador. Se de fato acredita que Deus é Justo e Providente, necessariamente acredita que Ele tem um motivo excelente para permitir que gente inocente sofra. Alguém que realmente creia na bondade divina, enquanto crer, não se perguntará "por que motivo um Deus Bom agiria dessa forma". E se por acaso questionar, é porque naquele instante não acredita totalmente, sua fé está balançando. Isso porque a fé se opõe à razão. Ambas parecem se odiar mortalmente.
A razão não pode conduzir à fé, e nem a fé conduzir à razão. Ambas se repelem como polos idênticos de dois ímãs. Um fiel monoteísta se perguntará porque Deus permite que crianças sejam, todos os dias, no mundo inteiro e em especial nos países mais pobres, torturadas, escravizadas, estupradas, prostituídas e mortas das maneiras mais tenebrosas? É muito provável que não, mas se algo, alguém ou alguma situação lhe suscitar esse questionamento, talvez dissesse que a culpa é do pecado da humanidade. Por tal argumento, esse monoteísta clássico pretenderá ter conseguido isentar (sua idéia de) Deus da responsabilidade pelo sofrimento de quem aparentemente é inocente. Mas essa resposta satisfaria à razão? Não.
A razão se perguntaria por que Deus nos teria criado capazes de impor tanto sofrimento uns aos outros, antes de qualquer coisa. Seria um crente que se colocasse essa questão, capaz de suspender a fé no dogma de que Deus é bondoso, e assim deixar de crer? Se o fizesse, permaneceria agnóstico até encontrar na Revelação alguma resposta que o convencesse, como a de que Deus quis, exatamente por ser Bom, que o homem fosse livre.
Foi essa a explicação encontrada por Santo Agostinho. Ele diz que Deus não quis um exército de robôs pré-programados a cumprir a sua vontade automaticamente, sem escolha, para sempre. Preferiu contar com seres semelhantes a Ele, livres e capazes de tomar suas próprias decisões
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