A busca das criações anteriores parece mesmo uma senda inexorável àqueles que anseiam pelo encontro de si mesmo. O que quero dizer em outras palavras é que o homem ao longo do tempo foi construindo a transcendência como algo metódico, buscou intermediários, símbolos, lendas de passados longínquos que na maioria das vezes sequer são verificáveis, e quando o são, constantemente subvertem a história para que essa lhes sirva de escabelo ao ego. Pra que seja um andor das próprias esquizofrenias. Se não crer em igrejas e livros que não se sabe ao certo como foram construídos e escritos é acaso heresia, queimem-me agora. Esse é o tempo da não inocência, a época da distinção dos grãos que tornará o homem em eterna criança ou a criança em eterno homem.
Como conhecer a Deus? Essa questão perseguiu minhas buscas durante alguns anos, os católicos disseram que o caminho era a missa aos domingos, lá indo encontrei nos fiéis uma guerra de vaidades e no sacerdote um manancial de frases feitas, no fim conhecia todas as palavras mas, as palavras nunca me conhecerão.
Um amigo evangélico venerável entre os seus, disse a mim que a única forma era ler a bíblia, nela encontrei muitas coisas, um Deus que em grande parte do tempo vai mais preocupado com a vingança que com a compreensão de sua “prole”, uma série de abominações contra o pecado (isso nunca me foi exatamente compreensível, nesses livros quase sempre quando a pessoa se descobre livre ela está em afronta ao divino), depois aquela série de crônicas históricas sobre o trono de Israel, uma tradição que definitivamente nada tinha haver comigo que sou brasileiro e descendo de índios, escravos, e europeus.
Veio também um judeu, disse que se eu fizesse a circuncisão e deixasse de comer os animais impuros, chegaria lá, não entendo como uma mutilação e uma abstinência podem me fazer melhor, além disso, muito pior do que o que a boca consome é o que ela produz.
Entre os muçulmanos soube que Alah é grande, isso parecia bom, era um anestésico mas, veio com isso a idéia de que Meca é o lugar que nos torna dignos. Como habitar uma cidade faz diferença se o coração continua vazio? Não sei. Além disso as mulheres eram seres castrados, quase impuros, uma gama inferior da criação, quando fechava os olhos e pensava na minha mãe, na minha avó e nas outras grandes mulheres da minha vida não era difícil entender que aquilo era uma aberração.
O augusto e o bom no ser humano vai além do que existe entre as pernas de cada um. E assim se seguirão os dias, fui a muitos outros lugares, falei com muito mais gente, todos falavam, doutrinavam, ninguém explicava. Decidi-me pelo abandono, ao querer o todo, entendi que o segredo era não buscar em parte alguma. A transcendência é só uma extensão da imanência, o inferno e o paraíso, ambos podem ser terrenos e você os leva aonde for.
Nas igrejas (todas elas) estátuas, ícones, livros e técnicas fascistas operam o divino. Na natureza, química e biologia, a ciência a tudo desvela. Adiante dos mitos, donde estariam o poder e a beleza senão na impressão que tudo é vazio. A vida é infinita e cabe aqui, no termo estreito de um pensamento a esmo. O tempo nada é, além de tardança daquilo em que se espera.
*Leandro M. de Oliveira
Como conhecer a Deus? Essa questão perseguiu minhas buscas durante alguns anos, os católicos disseram que o caminho era a missa aos domingos, lá indo encontrei nos fiéis uma guerra de vaidades e no sacerdote um manancial de frases feitas, no fim conhecia todas as palavras mas, as palavras nunca me conhecerão.
Um amigo evangélico venerável entre os seus, disse a mim que a única forma era ler a bíblia, nela encontrei muitas coisas, um Deus que em grande parte do tempo vai mais preocupado com a vingança que com a compreensão de sua “prole”, uma série de abominações contra o pecado (isso nunca me foi exatamente compreensível, nesses livros quase sempre quando a pessoa se descobre livre ela está em afronta ao divino), depois aquela série de crônicas históricas sobre o trono de Israel, uma tradição que definitivamente nada tinha haver comigo que sou brasileiro e descendo de índios, escravos, e europeus.
Veio também um judeu, disse que se eu fizesse a circuncisão e deixasse de comer os animais impuros, chegaria lá, não entendo como uma mutilação e uma abstinência podem me fazer melhor, além disso, muito pior do que o que a boca consome é o que ela produz.
Entre os muçulmanos soube que Alah é grande, isso parecia bom, era um anestésico mas, veio com isso a idéia de que Meca é o lugar que nos torna dignos. Como habitar uma cidade faz diferença se o coração continua vazio? Não sei. Além disso as mulheres eram seres castrados, quase impuros, uma gama inferior da criação, quando fechava os olhos e pensava na minha mãe, na minha avó e nas outras grandes mulheres da minha vida não era difícil entender que aquilo era uma aberração.
O augusto e o bom no ser humano vai além do que existe entre as pernas de cada um. E assim se seguirão os dias, fui a muitos outros lugares, falei com muito mais gente, todos falavam, doutrinavam, ninguém explicava. Decidi-me pelo abandono, ao querer o todo, entendi que o segredo era não buscar em parte alguma. A transcendência é só uma extensão da imanência, o inferno e o paraíso, ambos podem ser terrenos e você os leva aonde for.
A propósito disso um pequeno interlúdio:
Deus habita nos altares? Não, não sei.
A criação é feita de outra essência
Que não o engenho humano.
Meu coração é uma rua entreaberta
Para cá é livre o trafego,
Para lá eternamente impedido.
Ando em becos, ruas e campas,
Ou Deus está em tudo
Ou não é coisa alguma.
Deus habita nos altares? Não, não sei.
A criação é feita de outra essência
Que não o engenho humano.
Meu coração é uma rua entreaberta
Para cá é livre o trafego,
Para lá eternamente impedido.
Ando em becos, ruas e campas,
Ou Deus está em tudo
Ou não é coisa alguma.
Nas igrejas (todas elas) estátuas, ícones, livros e técnicas fascistas operam o divino. Na natureza, química e biologia, a ciência a tudo desvela. Adiante dos mitos, donde estariam o poder e a beleza senão na impressão que tudo é vazio. A vida é infinita e cabe aqui, no termo estreito de um pensamento a esmo. O tempo nada é, além de tardança daquilo em que se espera.
Um comentário:
Yes, the name of my blog is based on 2046. It is one of my favorite film of Wong Kar Wai
Saludos!
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