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Qualquer tentativa de persuadir as pessoas de que algo é bom (ou mau) em si, e não apenas por causa dos seus efeitos, depende não de qualquer recurso a provas, mas da arte de suscitar sentimentos. O talento do pregador consiste em criar nos outros emoções semelhantes às suas - ou diferentes, se ele for hipócrita. Ao dizer isto não estou criticando o pregador, mas analisando o caráter essencial da sua atividade.
Quando um homem diz "Isto é bom em si" parece estar a exprimir uma proposição como se tivesse dito "Isto é um quadrado" ou "Isto é doce". Julgo que isto é um erro. Penso que aquilo que o homem quer realmente dizer é "Quero que toda a gente deseje isto", ou melhor, "Quem me dera que toda a gente desejasse isto". Se aquilo que ele diz for interpretado como uma proposição, esta é apenas sobre o seu desejo pessoal. Se for antes interpretado num sentido geral, nada afirma, exprimindo apenas um desejo. O desejo, enquanto acontecimento é pessoal mas, o que se deseja é universal. Penso que foi este curioso entrelaçamento entre o particular e o universal que provocou tanta confusão na Ética. (...)
Se esta análise está correta, a ética não contém quaisquer proposições, sejam elas verdadeiras ou falsas, consistindo em desejos gerais de uma certa espécie, nomeadamente naqueles que dizem respeito aos desejos da humanidade em geral - e dos deuses, dos anjos e dos demônios, se eles existirem. A ciência pode discutir as causas dos desejos e os meios para os realizar mas, não contém quaisquer frases genuinamente éticas, pois esta diz respeito ao que é verdadeiro ou falso.
A teoria que estou defendendo é uma forma daquelas que é conhecida pela doutrina da "subjetividade" dos valores. Esta doutrina consiste em sustentar que, se dois homens discordam quanto a valores, há uma diferença de gosto, mas não um desacordo quanto a qualquer gênero de verdade. Quando um homem diz "As ostras são boas" e outro diz "Eu acho que são más", reconhecemos que nada há para discutir. A teoria em questão sustenta que todas as divergências de valores são deste gênero, embora pensemos naturalmente que não o são quando estamos a lidar com questões que nos parecem mais importantes que as das ostras. A razão principal para adotar esta perspectiva é a completa impossibilidade de encontrar quaisquer argumentos que provem que isto ou aquilo tem valor intrínseco. Se estivéssemos de acordo a este respeito, poderíamos defender que conhecemos os valores por intuição. Não podemos provar a um daltônico que a relva é verde e não vermelha, mas há várias maneiras de lhe provar que ele não tem um poder de discriminação que a maior parte dos homens tem. No entanto, no caso dos valores não há qualquer maneira de fazer isso, e aí os desacordos são muito mais frequentes que no caso das cores. Como não se pode sequer imaginar uma maneira de resolver uma divergência a respeito de valores, temos de chegar à conclusão de que a divergência é apenas de gostos e não se dá ao nível de qualquer verdade objetiva.
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