domingo, 31 de janeiro de 2010

Entartete Kunst, o crime nazi contra a arte

Entartete Kunst - literalmente Arte Degenerada - foi a designação que o regime nazi da Alemanha deu genericamente à arte moderna, a toda aquela que não fosse figurativa, imitativa, realista ou tradicional. Nesta classificação incluíam-se sobretudo as obras vanguardistas da pintura e da escultura de caráter abstrato, surrealista ou expressionista. Os autores destas "aberrações" eram, segundo os nazis, alegadamente judeus bolcheviques - uma ameaça, portanto - e, consequentemente, sujeitos a sanções de várias ordens, como interdição de expor, de dar aulas, de vender as suas obras, etc. Estamos falando de artistas como Wassily Kandinsky, Marc Chagall, Max Ernst, Paul Klee, para citar apenas alguns dos mais conhecidos. Tratou-se de uma tentativa sistemática de dilapidação da alma simbólica de uma época suprimindo a produção dos artistas modernos que exprimiam as incertezas do então século XX pós primeira guerra mundial.
Dentro de um grande ideal nazi que era o mito do corpo do povo alemão, onde difundiu-se a idéia de que a massa de pessoas formava uma espécie de sistema circulatório, sendo assim o elemento básico para a purificação da raça. Josef Goebbels trabalha artífices para o expurgo das pragas e doenças que impediam esse corpo de se manter totalmente são e prosperar na criação de um reich de mil anos. A arte bolchevique era uma das piores doenças incutidas nas artérias do “corpo” alemão, então era dever do estado eliminar essa praga visual e ideológica que nublava o siso das pessoas impedindo o encontro do arquétipo do homem verdadeiro (ariano). Essa foi a justificativa para alguns dos piores crimes praticados contra a expressão artística do mundo na história.
A expressão Arte Degenerada foi habilmente difundida pelo ministro da propaganda de Hitler, Goebbels, numa imensa campanha de descrédito da produção modernista. Em 1937, uma comissão por ele nomeada ficou incumbida de confiscar dos museus e coleções particulares todas as obras consideradas "subversivas" - ao todo mais de 5000. A maioria era de artistas alemães mas, entre elas também se encontravam telas de Matisse, Picasso e até van Gogh. Com este imenso lote montou-se então uma exposição para ridicularizar a arte moderna e tentar incutir nos seus visitantes repulsa pelas expressões artísticas que na ótica dos seus organizadores, maculavam a genuína cultura alemã. Como era de prever Entartete Kunst foi o nome dessa exposição.
Em 19 de Julho de 1937 cerca de 650 pinturas, esculturas, gravuras, etc. foram mostradas ao público num decrépito edifício de Munique. A forma propositadamente desordenada, amontoada e tendenciosa como as obras se encontravam patentes juntavam-se slogans "pedagógicos" que pretendiam explicar o seu significado aos visitantes: Revelação da alma racial judia, Insulto às mulheres alemãs, Natureza vista por mentes perturbadas, Troça do Divino, etc. A exposição viajou ainda por mais algumas cidades da Alemanha e da Áustria.
O crime nazi então se alargou a proporções dantescas pois, enquanto decorria este evento Goebbels ordenou a apreensão de mais obras de arte degenerada, um número que se pensa ter chegado a mais de 16.000! Depois da exposição várias obras integraram as coleções particulares de alguns membros do partido nazi que sabiam bem o que valiam (Hermann Goering foi um deles) enquanto outras foram enviadas para a Suíça para serem leiloadas. Só assim puderam sobreviver até hoje.
Curiosamente, esta campanha de descrédito teve um reverso da medalha e um desenlace irônico. Ao mesmo tempo os nazis promoveram outra enorme mostra destinada a divulgar a arte oficial, caucionada pelo regime. Chamaram-lhe pomposamente Grosse deutsche Kunstausstellung (Grande Exposição da Arte Alemã) e alojaram-na no magnífico Haus der Kunst, em Munique. Após o seu término verificou-se que tinha sido visitada por pouco mais do que um quarto das pessoas que visitaram a Entartete Kuns, fato engraçado é que o adquirente de quase a totalidade das obras expostas em Grosse deutsche Kunstausstellung foi Adolf Hitler...
*Leandro M. de Oliveira

Um comentário:

Edna Fadinha disse...

Que bom que conseguiram salvar algumas obras de arte.
Tenha uma boa semana!
Bjs