“Mas, tratando-se da natureza em seu conjunto, o irracional maravilhoso sempre estará presente, pois o infinito excede a razão. No seio da enormidade do tempo e do espaço, num ponto da natureza infinita, ou talvez infinitamente infinita, como quer Espinosa, o homem tem o sentimento do Englobante e do sem limites como de um mistério insondável, diante do qual a razão se detém.
Decerto a filosofia é obra da razão, do “bom senso”, como diz Descartes. Mas ao contrário da razão científica que passa ao lado do maravilhoso e do mistério sem o ver, a razão filosófica reconhece, identifica o irracional, o maravilhoso, o mistério. Seu fracasso, sua impotência em apreender os arcanos das coisas lhe revelam mistérios impossíveis de desvendar: o mistério da natureza insondável e infinita, o mistério da morte e do sentido, ou do não-sentido, do homem. Não há, aqui, “problemas” que o filósofo poderia resolver. A filosofia não resolve nenhum problema. Não existe, a bem da verdade, problema filosófico. O papel da filosofia é, para além do racional nos fazer tomar consciência do demônico que age na natureza, do mistério que envolve todas as coisas, e revelar o homem a si mesmo como enigma: enigma do qual resulta a liberdade radical da escolha filosófica. Pois a filosofia repousa não numa “revelação” qualquer, ou em alguma necessidade demonstrativa, mas na liberdade.
Abstração feita da experiência religiosa que, dizem, revela-lhe o sagrado e o coloca em relação com o Tu absoluto, o homem está sozinho. Não há ninguém para escutar suas questões e sua queixa. A “luz natural” serve principalmente para acentuar, de todos os lados, as sombras. Resta-lhe, tendo abandonado o sagrado no caminho, assumir sua solidão. Filosofar é isso.”
*Marcel Conche
Decerto a filosofia é obra da razão, do “bom senso”, como diz Descartes. Mas ao contrário da razão científica que passa ao lado do maravilhoso e do mistério sem o ver, a razão filosófica reconhece, identifica o irracional, o maravilhoso, o mistério. Seu fracasso, sua impotência em apreender os arcanos das coisas lhe revelam mistérios impossíveis de desvendar: o mistério da natureza insondável e infinita, o mistério da morte e do sentido, ou do não-sentido, do homem. Não há, aqui, “problemas” que o filósofo poderia resolver. A filosofia não resolve nenhum problema. Não existe, a bem da verdade, problema filosófico. O papel da filosofia é, para além do racional nos fazer tomar consciência do demônico que age na natureza, do mistério que envolve todas as coisas, e revelar o homem a si mesmo como enigma: enigma do qual resulta a liberdade radical da escolha filosófica. Pois a filosofia repousa não numa “revelação” qualquer, ou em alguma necessidade demonstrativa, mas na liberdade.
Abstração feita da experiência religiosa que, dizem, revela-lhe o sagrado e o coloca em relação com o Tu absoluto, o homem está sozinho. Não há ninguém para escutar suas questões e sua queixa. A “luz natural” serve principalmente para acentuar, de todos os lados, as sombras. Resta-lhe, tendo abandonado o sagrado no caminho, assumir sua solidão. Filosofar é isso.”
Um comentário:
Filosofia e o Haiti.
As imagens do Haiti,
Apocalipticas imagens,
entram no inconsciente
coletivo, do nosso globo,
terra que flutua
na expansão sem fim...
Tudo pode ser autoconhecimento!
Filosofar é preciso.
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