segunda-feira, 26 de outubro de 2009

Marx e a ruptura

As acusações contra o comunismo que são levantadas sobretudo a partir de pontos de vista religiosos, filosóficos e ideológicos, não merecem discussão pormenorizada. Será preciso uma inteligência profunda para compreender que com as relações de vida dos homens, com as suas ligações sociais, com a sua existência social, mudam também as suas representações, intuições e conceitos, numa palavra, muda também a sua consciência?
Que prova a história das idéias senão que a produção espiritual se reconfigura com a material? As idéias dominantes de um tempo foram sempre apenas as idéias da classe dominante.
Fala-se de idéias que revolucionaram uma sociedade inteira; com isto exprime-se apenas o fato de que no seio da velha sociedade se formaram os elementos de uma sociedade nova, de que a dissolução das velhas idéias acompanha a dissolução das velhas relações de vida.
(…)
Mas dirão, as idéias religiosas, morais, filosóficas, políticas, jurídicas, etc., modificaram-se certamente no decurso do desenvolvimento histórico. A religião, a moral, a filosofia, a política, o direito, mantiveram-se sempre nesta mudança.
Além disso existem verdades eternas, como Liberdade, Justiça, etc... que são comuns a todos os estádios sociais. Mas o comunismo abole as verdades eternas, abole a religião e a moral em vez de as configurar de novo contradiz portanto, todos os desenvolvimentos históricos até aqui. A que se reduz esta acusação? A história de toda a sociedade até aqui moveu-se em oposições de classes, as quais nas diversas épocas foram diversamente configuradas.
Mas fosse qual fosse a forma assumida, a exploração de uma parte da sociedade pela outra é um fato comum a todos os séculos passados. Não é de admirar, por isso, que a consciência social de todos os séculos, a despeito de toda a multiplicidade e diversidade, se mova em certas formas comuns, em formas de consciência que só se dissolvem completamente com o desaparecimento total da oposição de classes.

A revolução comunista é a ruptura mais radical com as relações de propriedade legadas; não admira que no curso do seu desenvolvimento, se rompa da maneira mais radical com as idéias legadas.
*Karl Marx

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