segunda-feira, 12 de outubro de 2009

Desdobramento

Um dia ele mergulhou num sono profundo e lá permaneceu por eras incontáveis, no escuro da caverna sedimentou o seu sonho. Todavia, num desse golpes da natureza como que fosse ânsia de vida por si própria, aquele homem acordou. Sua pele não era como a de outros homens ou mulheres, começava a si mudar em forma de uma espécie de couraça, delgada porém de resistência incomum. Darwin tenha um bom lugar no céu! A lei de sobrevivência foi embrutecendo-lhe ante os perigos da sombra, ainda que inconsciente do abismo a evolução brotou-lhe como a primavera em campo aberto. Ergueu-se finalmente daquela cama de campanha, tumular, ineditamente após mil ciclos da lua metafórica viu-se fora da caverna. O sol queima-lhe tanto a tez como os olhos, a essa altura inabituados com qualquer espasmo de claridade. Muito porém, o desconforto daquela hora fora suprido por revelação mais grave, os pulmões inflavam sem que doessem as costelas, os pés caminhavam sem que houvesse ranger de correntes. “Meu Deus! Estou livre!” Sussurrou em espanto, aquele momento capital de sol a pino e agressão ocular convertera-se em verdade, no momento da descoberta última. Era como se pudesse rasgar com as mãos o quadro do tempo e repintá-lo a seu modo. Aquele homem teve a benção de escolher o próprio caminho. O arrefecido de mitos pretéritos fora reduzido a não mais que isso, alegoria da ignorância ou roupa que não mais se usa. Foi-se o tempo e o assombro, o degelo chegou, o inverno desfaleceu. Compartilhou entre as pessoas, cantou entre os homens, fornicou com as mulheres. Tudo era possível pra alguém sem passado. Caminhava só e tão preenchido de si que era ele mais uma multidão singular, que um alguém a carregar coisa por dentro. Mas a vida tem seus desvarios, ele erra em medos cotidianos, e se não há respostas pula a janela da frente e caminha descalço na chuva. O alto cosmo não é de estrelas fixas, para o algo além é necessária a vida de planeta andarilho. Não há modos de se acomodar.

Como aquele homem, meto a mão na consciência quando existir é grave e se ela nada me diz, meto o pé na lama e caminho como um animal a pasto. Mas há um empecilho aqui, esse homem é uma ficção! Ele existe como alegoria, daquilo que sei e do que eternamente suponho. Mais uma vez eu; a usar a máscara do futuro sonhado, a estar ainda em contradição por desprezar o tempo que me leva sem saber. Que posso saber de uma vida nova? Só tenho minhas hipóteses e meu convencimento. Se falar de um novo começo fosse simples como gritar ou esquecer, teria eu mais méritos nisso. “Sorry” minh’alma, muito prazer, até mais. Fui abominado por não crer na família. Acontece que mesmo não admirando o status quo, suspeito que as pessoas de bem devem estar alheias ao crime organizado.

E o quarto continua avesso a realidade, apenas um cômodo em aparência, muito mais em perspectiva. E eu continuo avesso ao que penso crer, de fora um dogma em construção, de dentro a sombra do precipício. Súbito isso me bate, e me arrepio e cismo. Sou estrangeiro na terra que me deram. Posto aqui, sobrevivo como um personagem que habita clandestinamente dentro de mim.
*Leandro M. de Oliveira

5 comentários:

Monica disse...

E tudo isso,nossos desdobramentos,
existindo na superficie de um planeta
que flutua na imensidão sem fim,
o mistério que permeia tudo
e nos,expansão a fora,decodificando
decifrando,perambulando,sofrendo,
se alegrando também,carentes de amor...

Hoje, 12 de outubro,coletivos em
romarias...pedindo bençãos,
estabelecendo outros elos,

"É de sonho e de pó
o destino de um só
feito eu perdido
em pensamentos
sobre meu cavalo
................
Nossa Senhora de Aparecida
ilumina a mina escura
e funda o trem da
minha vida.."

Dona Fernanda disse...

Dia das crianças! sê feliz!
um selinho de bola ploc

Paula disse...

Oi Leandro, fiquei chocada com a foto inicial do seu blog. N~ao sei o que eu esperava. Suas fotos s~ao lindas e este texto "Desdobramento" muito interessante, bem diferente do que costumo ler. Bacana, parab'ens.

Edna Fadinha disse...

Oi Leandro
Meu feriado foi tranquilo,não viajei para a terra do nunca e nenhum outro lugar rsrsrs.Eu nunca falei no blog mas minha fadinha preferida é a Sininho (fofa e teimosa).
A sua cidade parece ser muito bonita,conheço somente São Thomé das letras.Mas quero fazer uma viagem para conhecer as cidades históricas de Minas.Meu marido é de Governador Valadares e tem familiares em BH.
Espero que tenha uma boa semana!
Bjs

Leandro disse...

Obrigado pela atenção!
Às amigas de sempre e ao povo que vem chegando. Fico feliz em saber que gostam das minhas bobagens, abraços a todas.