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E a cada dia um novo messias propõe as fantasias mais obscenas ao povo, venha ele em forma de pessoa, ideologia ou sistema político. A observação empírica mostra, durante o amanhecer até mesmo um anão projeta grandes sombras. Vivemos em uma era ainda muito primitiva, a fantasia domina, o avaro é seguido como tendência de moda. Por quê se preocupar? Mais algum dinheiro no cesto e alguns minutos de joelho são suficientes, amanhã estaremos todos no paraíso. A redenção tornou-se tão prática quanto macarrão instantâneo. Enquanto a maioria faz apoteose aos mistérios desvelados, sinto náuseas toda a vez que se me os oferecem. Pode ser que o preço da liberdade seja o vômito involuntário.
Enquanto isso nas escolas, nos quartéis, nas igrejas e nas casas as pessoas vão mentindo a si mesmas. Tudo pela prosperidade do pacto social, aquele mítico documento do qual ninguém nunca me apresentou um linha do conteúdo. Agostinho de Hipona foi um homem foi uma pessoa difícil, ao se acovardar do próprio intelecto disse a célebre frase: “Credo quia absurdum” isso ecoa com gravidade em nossos tempos. De qualquer forma há um mistério insondável, o fato do ente humano preferir acreditar no absurdo e no improvável em prejuízo à análise do óbvio. Será a transição do macaco para o homo sapiens uma feita inconclusa? Talvez eu seja um pássaro que perdeu as asas, talvez uma estrela decaída. Tente não pensar nisso, tente não comer tanta coisa industrializada. A vida é mais que isso e menos que qualquer outra coisa. Ouso por ser efêmero, sou imortal por acreditar no agora. Ninguém vai te salvar por piedade, procure oferecer algo em troca. Não quero a onipotência de um velho sentado em um trono, não preciso do estático do sempre. Quero a vida, quero o rastro do que se esvai à medida em que os instantes vão passando. Pra mais tarde, quem sabe se reinventar ou ainda, se perder no oco do tempo de uma vez por todas. E disso sou feito, de delírio e sonho. De delírio crença na diferença, de sonho espera no agora. Enquanto os outros riem pelas planícies eu grito no alto dos montes. A esquizofrenia é meu veneno tanto quanto meu antídoto. Sou normal? Não, não quero ser. Prefiro estar apenas liberto. Prefiro acordar de noite e dormir de dia.
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