sábado, 28 de março de 2009

Nietzsche acreditava no sistema?

O homem ativo, agressivo, violento, está sempre cem passos mais próximo da justiça do que o homem reacionário. Porque, precisamente, não tem necessidade de depreciar com falsidade e preconceito o seu objeto, como faz - como é obrigado a fazer - o homem reacionário. E é por isso que, de fato, em todas as épocas, o homem agressivo - o mais forte, o mais corajoso, o de maior nobreza - teve sempre pelo seu lado um olhar mais livre e uma melhor consciência; e, por oposição, é fácil adivinhar quem tem na consciência o peso da invenção da "má consciência"... o homem do ressentimento! Interrogue-se, enfim, a história: qual o terreno em que até hoje a posse do direito e a própria necessidade do direito mostrou estar deveras na sua pátria? Terá sido no terreno do homem reacionário? Nem por sombras...Pelo contrário, foi sempre na esfera do homem ativo, vigoroso, espontâneo, agressivo. Para desagrado do agitador acima citado (que um dia fez sobre si próprio a seguinte confissão: "A doutrina da vingança é o fio condutor da justiça que atravessa todos os meus trabalhos e todos os meus esforços.", diga-se que, historicamente o direito representa sempre a luta contra os sentimentos reacionários, a guerra que as forças ativas e agressivas lhes moveram usando uma parte do seu vigor para conter a torrente do pathos reativo dentro de limites comportáveis e para lhe impor um compromisso.Seja onde for que exista o exercício do direito, em qualquer parte do mundo onde reine a justiça, o que se observa é que um poder mais forte, na sua relação com um poder mais fraco (seja o de grupos, seja o de indivíduos), trata de procurar os meios necessários para pôr termo à fúria sem sentido do ressentimento, em parte arrancando o objeto do ressentimento às garras da vingança, em parte subsituindo ele mesmo a vingança pela guerra aberta contra os inimigos da paz e da ordem, em parte, inventando, propondo ou, se necessário impondo compromissos, em parte ainda estabelecendo normas relativas às compensações de danos, de modo a conseguir, de uma vez por todas, remeter para elas o ressentimento.

*Friedrich Nietzsche in Genealogia da Moral

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