terça-feira, 27 de abril de 2010

Sexo, Freud e essas coisas

Segundo Freud, o alvo do desejo sexual é “a união dos órgãos sexuais no ato conhecido como cópula, que conduz à libertação da tensão sexual e à extinção temporária do instinto sexual – uma satisfação análoga ao saciar da fome”. Esta imagem científica do desejo sexual originou, na altura própria, o relatório Kinsey, e faz agora parte da mercadoria padronizada do desencantamento.

O que é exatamente o prazer sexual? Assemelha-se ao prazer de comer e beber? Ao de repousar num banho quente? Ao de olhar a nossa criança a brincar? É claramente como todos eles e diferente de todos eles. É diferente do prazer de comer no fato do seu objetivo não ser consumido. É diferente do prazer do banho no fato de envolver ter prazer numa atividade, e na outra pessoa que se junta. É diferente do de olhar a nossa criança a brincar no fato de envolver sensações corporais e uma entrega ao desejo físico. O prazer sexual assemelha-se no entanto, num ponto crucial, ao prazer de olhar algo: tem intencionalidade. Não é apenas uma sensação de formigueiro; é uma resposta a outra pessoa, e ao ato em que se está envolvido com ele ou ela. A outra pessoa pode ser imaginária: mas é na direção de uma pessoa que os nossos pensamentos estão orientados, e o prazer depende do pensamento.

Esta dependência no pensamento significa que o desejo sexual pode ser enganado, e que cessa quando o engano é conhecido. Apesar de eu ser um pateta se não saltar de um banho relaxante depois de me ter sido dito que o que tomei por água é na realidade ácido, não é por ter cessado de sentir sensações agradáveis na minha pele. No caso do prazer sexual, as descobertas de que é uma mão indesejada que me toca extingue de imediato o meu prazer. Uma mulher que faz amor com o homem que se disfarçou de seu marido não deixa de ser vítima de violação, e a descoberta do seu engano pode levar ao suicídio. Não é simplesmente por o consentimento obtido por fraude não ser consentimento; mas porque a mulher foi violada, no próprio ato que lhe causou prazer.

O que torna um prazer num prazer sexual é o contexto da excitação. E excitação não é o mesmo que intumescência. É uma “propensão para” o outro, um movimento na direção do ato sexual, que não pode ser separado, nem dos pensamentos em que é fundado nem do desejo a que conduz. A excitação é uma resposta ao pensamento do outro como um agente consciente de si, que está consciente de mim, e que é capaz de ter “intenções” em mim.

*Roger Scruton

Um comentário:

Monica disse...

Intenções a parte,observo,sinto
que; Quando o amor elege dois
seres para amar,o encantamento
vem...e também se manifesta no
prazer sexual, no fazer amor,
ai, a fusão acontece,não tem eu,
só entrega e o sem sentido, fica
com total sentido,não tem talvez
amor, acolhe, recebe, doa...
e o sexo pode começar,como uma
gota de agua,que vai se
transformando num oceano...
num oceano...