terça-feira, 16 de março de 2010

A problemática do egoísmo

Devemos, pois, perguntar o seguinte: Pode um racista apontar uma diferença entre, digamos, brancos e negros que possa justificar tratá-los de maneira diferente? Os racistas tentaram por vezes fazer isso descrevendo os negros como estúpidos, falhos de ambição, e outras coisas que tais. Se isso fosse verdade, poderia justificar-se tratá-los de forma diferente, pelo menos em algumas circunstâncias, (este é o propósito de fundo dos estereótipos racistas, oferecer as "diferenças relevantes" necessárias para justificar as diferenças de tratamento). Mas naturalmente isso não é verdade, e de fato não há tais diferenças genéricas entre as raças. Portanto, o racismo é uma doutrina arbitrária, pois advoga o tratamento diferenciado das pessoas, apesar de não haver entre elas diferenças que o justifiquem.

O egoísmo é uma teoria moral do mesmo gênero. Advoga que cada pessoa divida o mundo em duas categorias de pessoas nós e todos os outros - e que encare os interesses dos do primeiro grupo como mais importantes que os interesses dos do segundo grupo. Mas, pode cada um de nós perguntar, qual é afinal a diferença entre mim e todos os outros que justifica colocar-me a mim mesmo nesta categoria especial? Serei mais inteligente? Gozarei mais a minha vida? Serão as minhas realizações mais notáveis? Terei necessidades e capacidades assim tão diferentes das necessidades e capacidades dos outros? Em resumo, o que me torna tão especial? Ao não fornecer uma resposta, o egoísmo ético revela-se uma doutrina arbitrária, no mesmo sentido em que o racismo é arbitrário. Além de explicar a razão pela qual o egoísmo ético é inaceitável, isto lança também alguma luz sobre a questão de saber por que devemos importar-nos com os outros.
*James Rachels

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