
Porém, logo em seguida, percebi que, ao mesmo tempo em que eu queria pensar que tudo era falso, fazia-se necessário que eu, que pensava, fosse alguma coisa. E, ao notar que esta verdade: eu penso, logo existo, era tão sólida e tão correta que as mais extravagantes suposições dos céticos não seriam capazes de lhe causar abalo, julguei que podia considerá-la, sem escrúpulo algum, o primeiro princípio da filosofia que eu procurava.
(.........)
“Depois, havendo refletido a respeito daquilo que eu duvidava, e que, por conseguinte, meu ser não era totalmente perfeito, pois via claramente que o conhecer é perfeição maior do que o duvidar, decidi procurar de onde aprendera a pensar em algo mais perfeito do que eu era; e descobri, com evidência, que devia ser de alguma natureza que fosse realmente mais perfeita. No que se refere aos pensamentos que eu formulava sobre muitas outras coisas fora de mim, como a respeito do céu, da Terra, da luz, do calor e de mil outras, não me era tão difícil saber de onde vinham, porque, não notando neles nada que me parecesse torná-los superiores a mim, podia julgar que, se fossem verdadeiros, seriam dependências de minha natureza, na medida em que esta possuía alguma perfeição; e se não o eram, que eu os formulava a partir do nada, ou seja, que existiam em mim pelo que eu possuía de falho. Mas não podia ocorrer o mesmo com a idéia de um ser mais perfeito do que o meu; pois fazê-la sair do nada era evidentemente impossível; e, visto que não é menos repulsiva a idéia de que o mais perfeito seja uma conseqüência e uma dependência do menos perfeito do que a de admitir que do nada se origina alguma coisa, eu não podia tirá-la tampouco de mim próprio. De maneira que restava somente que tivesse sido colocada em mim por uma natureza que fosse de fato perfeita do que a minha, e que possuísse todas as perfeições de que eu poderia ter alguma idéia, ou seja, para dizê-lo numa única palavra, que fosse Deus.

2 comentários:
Salve Leandro!
As suas postagens,seus escritos
sempre me instigam,ocasionam
reações,me fazem pensar...
e muitas vezes trago um
comentário, procurando
uma energia complementar..
Gosto muito daquela imagem
a dos macacos na cochoeira
em estado de encantamento...
puro instinto!!
Aproveito esse momento
e ofereço uma poesia
do Mestre Fernando Pessoa.
"Segue o seu destino"
“Segue teu destino
Rega as tuas plantas,
Ama as tuas rosas.
O resto é sombra de árvores alheias.
A realidade
Sei que é mais ou menos
Do que nós queremos
Só nós somos sempre
Iguais a nós próprios.
Suave é viver só.
Grande e nobre é sempre
Viver simplesmente.
Deixa a dor nos aras
Como ex-voto aos deuses.
Vê de longe a vida.
Nunca a interrogues.
A resposta está além dos deuses.
Mas serenamente
Imita o Olimpo
No teu coração.
Os deuses são deuses
Porque não se pensam.”
Ricardo Reis
um abraço,
Monica
Inspirador o teu blog! Passarei por aqui, é como se fosse um celeiro de provocações, conteúdos e densidade filosófica.
Parabéns!
Postar um comentário