segunda-feira, 23 de novembro de 2009

Wagner

A algum tempo venho estudando o mundo de Wilhelm Richard Wagner (Leipzig, 22 de maio de 1813 — Veneza, 13 de fevereiro de 1883) e me achei na obrigação de citar algumas coisas a respeito. Mulherengo, aproveitador, cínico, vaidoso mas, sobretudo gênio. Foi ele o maior compositor clássico do povo alemão no gênero ópera, revolucionando aquele cenário musical de então com uma proposta inédita. Nessa época as óperas em sua maioria tinham temas leves, feitas somente para entreter, ou ainda possuíam argumentos que vislumbravam a decadência humana numa tradição próxima da tragédia grega, todavia, isso era realizado de um prisma mais individual. Wagner amplificou isso, com o auxílio de lendas do seu povo e alguns personagens históricos ele cria uma música que ambicionava unir o povo alemão em torno de um espírito comum. Exaltando-os como uma grande raça descendente direta dos míticos árias pais de Siegfried, Wotan e todos os outros heróis da gnose germânica. Além de músico, Wagner também era maestro, poeta, teórico musical e ensaísta. Alguns dos homens mais influentes da Alemanha vieram dar com ele mantendo relações estreitas como o filósofo Friedrich Nietzsche que chegou a considerar-se seu pupilo, além do rei Ludwig II da Bavária, o qual foi seu maior patrono e nutria por ele a admiração de um peregrino ante o sacrário. Apoiando-o ilimitadamente e sendo submisso a todos os seus caprichos. Mas talvez o que chame a atenção na obra de Wagner foi o fascínio que ela despertou sobre um homem já no século XX, seu nome era Adolf Hitler.

Ao assistir Rienzi, a ópera sobre o dilema histórico do revolucionário Cola di Rienzo, ele teve um insight e no pequeno teatro de sua modesta cidade Linz vislumbrou o que seria anos mais tarde a ideologia que deixaria enfeitiçado todo a Alemanha. Essa peça que tanto o inspirou é ambientada na Roma Medieval, Rienzi, porta-voz do povo, opõe-se à aristocracia. Ele quer retroagir um século e restabelecer a República da Antiguidade. Ele passa a ser o porta-voz do povo e os convoca a uma luta pela soberania frente ao tirano rei. Hitler comoveu-se profundamente com Rienzi, e supondo-se como uma espécie de versão alemã do herói, ele traça planos para seu futuro e para o futuro do seu povo. Mais tarde diria: ''Foi naquela hora que tudo começou”. Além disso há outras passagens onde Hitler afirma por exemplo: ''Só entende o Nazismo, quem conhece Wagner''. Ocorre que nosso compositor era também um anti-semita radical. E esse fato associado à história de Hitler faria Wagner parecer o idealizador do nazismo no século XIX, o que não é verdade. Na época de Wagneriana, os judeus eram o bode expiatório da sociedade alemã, se algo não dava certo o lugar comum era culpar judeus por isso. Nesse sentido, ter idéias anti-semitas era considerado normal. Tão normal que o nazismo hitlerista emergeria anos depois como uma continuidade dessa linha de pensamento. Mas o fato é que politicamente correto ou não, amante da causa humanista ou não, Wagner foi grande.

Sua música é difícil, como ele mesmo dizia.
Para ouvir uma ópera italiana basta estar relaxado ou despretensioso, já a experiência de Wagner é tensa, traz uma busca pelo resgate da glória, como aceitar um escultor remodelando seus sentidos às marteladas. Abaixo deixo aqui alguns vídeos, de partes da ópera favorita de Hitler. Sua fantástica abertura e a bela “oração de Rienzi” onde ele pede forças aos Deuses para recompor o passado glorioso de seu povo, essa ária vai interpretada pelo tenor alemão René Kollo em setembro de 1986 na ópera de Berlim, espero que gostem.



*Leandro M. de Oliveira.

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