quinta-feira, 18 de junho de 2009

A crença e o conhecimento

Tipos de Conhecimento

No quotidiano (…) falamos acerca do “conhecimento” de coisas. Dizemos também que certas crenças estão “fortemente apoiadas por provas”; que elas estão “justificadas” ou “bem confirmadas”.(…)
A epistemologia tenta avaliar a idéia do senso comum de que possuímos (frequentemente, senão sempre) realmente conhecimento e que as crenças que temos estão (frequentemente, senão sempre) racionalmente justificadas. Alguns filósofos tentaram defender com argumentação filosófica estas idéias do senso comum. Outros desenvolveram uma posição filosófica que nega estas idéias do senso comum. Um filósofo que sustenta que não temos conhecimento, ou que as nossas crenças não têm justificação racional, está a defender uma versão de cepticismo filosófico. (…)

Três tipos de conhecimento

Antes de perguntarmos a nós mesmos se conhecemos alguma coisa, temos de tornar claro o que é o conhecimento. Para focar idéias, quero distinguir três diferentes sentidos em que podemos falar de conhecimento. (…)
Considere-se a diferença entre as declarações seguintes, relativas a um sujeito, a quem chamarei S (o sujeito):

(1) S sabe andar de bicicleta.
(2) S conhece o Presidente dos Estados Unidos.
(3) S sabe que as Montanhas Rochosas ficam na América do Norte.

Chamo conhecimento proposicional ao tipo de conhecimento apresentado em (3). Note-se que o objeto do verbo em (3) é uma proposição — uma coisa que é verdadeira ou falsa. Existe uma proposição — as Montanhas Rochosas ficam na América do Norte — e (3) afirma que S sabe que essa proposição é verdadeira. As frases (1) e (2) não têm esta estrutura. O objeto do verbo em (2) não é uma proposição, mas uma pessoa. O mesmo tipo de conhecimento estaria envolvido se eu dissesse que S conhece Chicago. A afirmação (2) diz que S está ou esteve na presença de uma pessoa, de um lugar ou de uma coisa. Por isso, direi que (2) descreve uma instância de conhecimento por contacto.(…)
Consideremos agora o tipo de conhecimento descrito na afirmação (1). Chamar-lhe-ei conhecimento de saber fazer. Que significa dizer que sabemos fazer qualquer coisa? Penso que esta idéia tem pouco a ver com o conhecimento proposicional. O meu filho Aaron sabia andar de bicicleta aos cinco anos. Isso significa que ele tinha certas aptidões – sabia como manter o equilíbrio, como pedalar, e por aí fora. Se perguntar a um físico para descrever o que Aaron fazia para poder andar na bicicleta, ele poderia pôr por escrito um conjunto de proposições. Estabeleceria fato acerca da gravidade, do movimento para frente, do equilíbrio de forças. Porém, Aaron, com a idade de cinco anos, não era um físico. Não conhecia as proposições que o físico especifica. Aaron obedece aos princípios que o físico descreve – o seu comportamento está em conformidade com o que aqueles dizem. Mas não o faz aprendendo as proposições em questão. Aaron possui um conhecimento de saber-fazer, mas pouco conhecimento do tipo proposicional. Conversamente, um físico que tem um conhecimento detalhado dos princípios físicos que descrevem como se deve andar de bicicleta pode, não obstante, não saber como andar de bicicleta. (…) Não necessitamos de conhecimento proposicional para saber executar uma tarefa, nem ele é suficiente para tal.

Dois Requisitos para o Conhecimento: Crença e Verdade

Devemos fazer notar desde já duas idéias que fazem parte do conceito de conhecimento. Primeiro, se S sabe que p, então tem de acreditar que p. Segundo, se S sabe que p, então p tem de ser verdadeira. O conhecimento requer tanto a crença quanto a verdade. (…)
A segunda idéia requer alguma explicação. As pessoas dizem às vezes que sabem coisas que mais tarde se revelam falsas. Ora, isto não quer dizer que sabem coisas que são falsas, mas que pensavam que sabiam coisas que, de fato, se revelaram falsas.
O conhecimento tem um lado subjetivo e um lado objetivo. Um fato é objetivo se a sua verdade não depende da mente das pessoas. É um fato objetivo que as montanhas rochosas estão a 3000 metros acima do nível do mar. Por outro lado, um fato é subjetivo se não é objetivo. O exemplo mais óbvio de um fato subjetivo é uma descrição do que acontece na mente de alguém. Se uma pessoa acredita ou não que as montanhas rochosas estão a 3000 metros acima do nível do mar é uma questão subjetiva, mas se a montanha tem realmente essa propriedade é uma questão objetiva. O conhecimento requer tanto um elemento subjetivo como um elemento objetivo. Para que S conheça p, p tem de ser verdadeira e o sujeito, S, tem de acreditar que p é verdadeira.

*Elliott Sober

Nenhum comentário: