sexta-feira, 12 de dezembro de 2008

Nosso tempo: Sociedade do Espectáculo (O parecer em detrimento do ser)


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A sociedade que repousa sobre a moderna indústria não é fortuitamente espectacular ou superficialmente espectacular, ela é fundamentalmente "espectalista". No espectáculo, imagem da economia reinante, a finalidade não é nada, o desenvolvimento tudo. O espectáculo não quer vir a ser outra coisa senão ele mesmo.

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Enquanto adereço indispensável dos objetos produzidos, enquanto exposição geral da racionalidade do sistema, enquanto setor econômico que forma diretamente uma multidão de imagens/objetos, o espectáculo é a principal produção da sociedade.

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O espectáculo submete os homens vivos na medida em que a economia já os submeteu totalmente. Não há mais nada senão economia desenvolvendo-se a si mesma. O espectáculo é o reflexo fiel da produção das coisas, e a objetivação infiel dos produtores.

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A primeira fase da dominação da economia sobre a vida social acarretou na definição de toda a realização humana uma degradação evidente, degradação do ser no haver. A presente fase da ocupação total da vida social através dos resultados acumulados da economia, conduz a um deslizamento generalizado do haver no parecer, do qual todo o haver efetivo deve tirar o seu prestígio imediato e a sua última função (parecer). Ao mesmo tempo, toda a realização individual tornou-se social, diretamente dependente da força social, formada por ela. Aqui, quando nada é, permitem-lhe aparecer.


*Guy Debord, La société du Spectacle (Gallimard, Paris 1992).

Retirando o tom apologético e datado na forma como simplifica as relações sociais e econômicas de modo a obter um produto discursivo inflamante , a leitura de Debord não deixa de fazer todo o sentido e obrigar-nos a pensar de novo este produto imagem/espectáculo onde as verdadeiras motivações do sistema são apagadas ou elididas. Um sistema que se mostra e autopromove a todo o momento numa espécie de máquina histórica que submete as relações individuais e sociais, mesmo aquelas que supostamente se queriam marginais, a um efeito promocional; de fato à luz desta leitura nenhum discurso parece poder escapar a este efeito de globalização.

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