sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

Onde Dormem os Trovões?

(...)Onde dormem os trovões? Onde estão
as chamas que bebemos? Onde foram
as crianças despojadas das suas têmporas,
as ânforas sem vísceras, as serpentes
de olhos como fuzis, as dulcíssimas
úlceras? Por que não encontra nunca a água
o seu limite? Por que é descontínua
a rocha, por que existe só a rajadas,
a dentadas, quando antes percorria
o vasto labirinto da pulsação?

Nada escapa à fuga: nem os dedos,

que tão longe estão das esferas;
nem a mãe, que esquece o seu baptismo;
nem os lábios, fincados no inerte;
nem o vento, demolido.
Quando morri?
Por que se oxidou o mar?
Para onde foram

as leis, as sementes, as retinas
construídas com mãos e sondas?

A razão não perdura. Os irmãos

não nascem. Dissolve-se a unidade
do amor, reúnem-se os seus vazios,
desmoronam-se, intactos, os seus jardins(...)

*Eduardo Moga

Um comentário:

Van disse...

Lindo, essencial, visceral e maravilhoso tudo isso. Reflete na alma ! Beijuuusssss