quarta-feira, 8 de julho de 2009

O Sal da vida

Escuta que quero te falar em segredo
Escuta bem, quero falar baixo,
Porque o sussurro é tão mais belo que o grito
E a palavra dita com cuidado mais esmerada.
Ouve e guarda como um selo o que te digo.
Guarda em teu lembrar somente,
Porque o que direi não mudará nada,
Sequer a mim.
Escuta meu silêncio de planície,
Minhas mãos desertas, meu sonho perdido...
Nunca se muda aquilo que não se permitiu mudar.
Escravo caí de joelhos ante a rocha silenciosa
O oráculo hediondo se me afigurou,
E eu me vi moço e eu me vi desesperado.
Tempo tem seu próprio tempo,
E o tempo do tempo foi veloz demais
Para nosso passo vacilante.

Escuta as rugas de minha alma
Elas são vales e rios, montanhas e planícies.
Quero teu amor suicida!
Amor que se mata e torna a viver
E torna a sofrer e a morrer d’enganos.
Porque sob minhas asas
Não houve acomodação à tua dor,
E agora em meus olhos não há espaço
Senão para o teu vulto sorrateiro.
*********
Ignora minhas palavras, o verbo confunde.
Eu falo do não foi vivido ou do que tenha sido há tanto,
Que não foi possível nenhuma sinapse de lembrança.
Aguarda no silêncio das colinas sombrias,
No oco das cavernas que somos nós.
Quero escavar a terra com os dentes,
Tragar o mar com minha boca e estômago,
Quero estuprar o útero da terra
Pra que eu a veja renascer dele.
Minha memória é uma nau perdida
A navegar oceanos de tempo e espaço.

Minhas velas desfraldadas
Buscam a esmo teu norte,
Minha boca de pasmo e exaustão
Já não sabe dizer o teu nome.
*********
Agora que tudo se perdeu em nós
O mundo soa remoto,
O ar soa espesso.
Se eu fosse um cão
Talvez teria mais afeições com a vida.
Mas sou homem
E dessa deficiência estou fadado.
Minha eterna amiga,
Meu corpo sem vida,
Minha vida sem termo.
Embora o mundo seja desfigurado
Ante ao espelho, comigo sempre estás...

Escuta minhas palavras que não querem eco
Além do silêncio de tua ausência.
Escuta como a canção mais elevada
Como a dor de homem que homem não quer ser,
Como um beijo de fúria em teu peito
Resoluto.
Que essas palavras não valem nada,
Que essas palavras valem tudo.
Elas são o sal da língua
A semente da vida nova.

*Leandro M. de Oliveira
**Dedicado à minha grande amiga, dizem que partiu no dia 27 do último mês. Mas eu não entendo. Como pode estar ausente, se está dentro de mim? Não sei se posso crer na morte quando ainda existe tanta vida. Minha princesa atordoada, a você os meus carinhos e as minhas alegrias perdidas. Te encontro breve, te encontro sempre...

5 comentários:

Dona-f disse...

lê, ficou lindo o texto, uma bela homenagem. Mas que a tua vida tenha na língua sabor mais doce daqui pra frente. Não se pode brigar com as perdas, elas estarão sempre cercando a nossa existência. Assim é a vida, e como é amargo perder a quem se ama. bjo

shintoni disse...

Leandro:
Este seu texto já foi postado no Duelos, com a mensagem, como você solicitou. Está muito bonito. Faço minhas as palavras de Dona-f.
Um grande abraço.

Unknown disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Unknown disse...

Leandro:
Depois de ler esta sua poesia no Duelos, vim aqui para deixar um recado a você neste momento. Deixo uma parte de algo que escrevi por ocasião do Natal passado, que é um pedaço do que penso em relação à falta de alguém que amamos e que gostaria de dizer a você hoje.

Se seu mal é de saudade,
se há uma pessoa ausente,
tente fazer o seguinte:
pense que ela está presente.

Diga coisas amorosas,
reviva os bons momentos,
deseje Feliz Natal,
abrace-a em seu pensamento.

Passe a noite com ela,
ligue a quem de direito,
depois vá dormir tranqüilo,
sonhando o amor perfeito.

Neste sonho, sem lamentos,
ela lhe aparecerá,
dizendo que ainda vive
e que sempre está a te olhar.

Sentindo-se renovado,
ao acordar no outro dia,
verá que o Natal foi bom
e a casa não está vazia,

porque você permitiu
saber que em sua alma habita
a certeza de outra alma
que, em sonhos, te visita.

E que embora não palpável,
é capaz de ainda ter
sentimento tão profundo
que fez você perceber

que a falta nós criamos
por sermos cegos demais,
já que amor não morre nunca
e não abandona jamais.

Um beijo, Leandro.
Ana

Leandro disse...

Olá Ana, mais uma vez muito obrigado. Pelo carinho e pela atenção.
Valeu mesmo