Vivemos numa sociedade competitiva, de mercado, periférica ao capitalismo central, subdesenvolvida econômica e espiritualmente que só consegue encontrar "saídas" - raras, raríssimas - para indivíduos. E o indivíduo que consegue libertar-se, não raro desonestamente, de toda a opressão imposta, tende a reificá-la transformando-se em opressor também. E esta secular e perversa estrutura individualista se reproduz como um câncer, obliterando a razão, as emoções e os sentimentos das pessoas. Quer-se, acima de tudo, o "bem" para si próprio - seja lá o que for que isto signifique dentro de um contexto humano! Raramente se pensa ou se trabalha em prol da coletividade, e isso mesmo dentro do meio político, com situacionistas e oposicionistas acusando-se mutuamente de utilização privada do espaço público! Como regra geral as pessoas buscam individualmente uma saída qualquer para a escravidão, a miséria, a loucura em que o século XX se enfiou. Em sua luta individual pela libertação, o homem se esquece de fatores fundamentais, como o fato de haver mais gente em igual situação e a ação coletiva tenderia a ser muito mais eficaz que a busca solitária. Ou há liberdade para todos ou ela não existe de todo! As poucas liberdades individuais conseguidas em raríssimas ocasiões são aquelas em que o "prego" passa a ser martelo mas a pancadaria continua. Que "liberdade" é essa, afinal? Além desta loucura institucionalizada, há mais, talvez até em decorrência disto: clientelismo, analfabetismo, desemprego, frustrações, ignorância, prostituição, violência, miséria... Para onde se volte o olhar, vemos o mesmo quadro. Estamos devastando o mundo, agredimos a natureza e agredimos a nós mesmos ao agredirmos outras formas de expressão da natureza além da sociedade humana. A sociedade industrial encontra-se aparatada para estraçalhar a Vida, que, apesar de tudo, segue subversivamente existindo, vivendo, amando. O tremendo e quiçá inconsciente suicídio coletivo que a sociedade humana está em vias de cometer e foge à percepção da maioria é de tal modo absurdo que mal dá para acreditar! Desta maneira, encontrar uma forma de inserção social no mundo que agrida o menos possível o que de mais inocente e nobre existe em cada um é dificílimo, mas fundamental. O homem, já nos aponta José Carlos Mariátegui em O Homem e o Mito é um "animal metafísico": não se vive fecundamente sem uma concepção metafísica de vida. Estou convencido de que a forma de inserção no mundo que todos temos, como pulsão básica a reger nossas vidas, como uma alternativa ou probabilidade de saída da loucura é a religião em seu sentido mais sublime. Há a religião cristã, a muçulmana, a judaica, a hindu, a budista... Há também a "Incrível Religião do Individualismo" que, hoje, conglomera o maior número de seguidores jamais imaginado como possível! Enfim, quando os homens defendem seus pontos de vista frente a outros homens, freqüentemente utilizam-se do artifício de "disfarçar" o nome da proposta para não assustar seu ouvinte. Com a proliferação das seitas pseudo-cristãs, do tipo templo é dinheiro, há aqueles que pregam coisas como: "Não é religião, é Cristo!" Os defensores da incrível religião individualista apresentam-se, de fato, em seus discursos anti-humanistas como "defensores da livre-iniciativa". No ritualismo demente da Incrível Religião do Individualismo, o burguês médio acende uma vela para si mesmo e outra para Mammon. Aquele que, contra a natureza, correu sozinho até a liberdade, agrediu tanto a sua própria alma que hoje precisa de um "médico de almas". E a religião individualista apresenta orgulhosa seus novos sacerdotes: é o psicólogo, o psicanalista, o psiquiatra, psi... E o poder individual, o Führerprinzip da sociedade moderna encontra plenas justificativas aqui nestas novíssimas ciências. Ainda assim há o homem. O ser humano natural, sepultado debaixo de grossas camadas de hipocrisia com que se protege do seu próprio medo e do ódio dos demais. Por trás disso tudo não há mais que uma criança inocente, boa, alegre mas muito assustada. O homem natural busca satisfações naturais a seus anseios naturais. A cultura, saber coletivo, é tão natural para o homem quanto sua herança genético-bilógica. O desvio da cultura (saber coletivo) "para dentro" é tão incrivelmente despropositado quanto as guerras. Já temos tantos problemas na domesticação da natureza, na humanização das forças naturais que o desvio das considerações intelectuais humanas na direção da destruição tecnológica de outros seres humanos é, evidentemente, um despropósito! A criação ou o surgimento de uma cultura individualista é uma fantástica contradição, só crível porque existente. Pior: hegemônica! Urge superar a violência da sincrética religião burguesa/individualista e criar um mito novo, fundado no Amor, na livre imaginação, nos sonhos e na Verdade. Isto só pode fazer sentido, claro, numa atuação coletiva em busca de uma nova forma de convivência social que liberte os seres humanos do medo e do ódio, fundando novas formas de relacionamento que abalarão até os fundamentos de uma sociedade assim absurda! Na sociedade do futuro, fraternidade, liberdade, igualdade serão mais do que meras bandeiras levantadas por escassos idealistas ou mesmo por intelectuais que sequer conseguem sair da academia para a rua em busca de unir-se ao povo em suas justas reivindicações. Na sociedade do futuro, o bem-estar físico e mental de todos os seres humanos do planeta estará erguido à posição prática coletiva daquilo que se pode chamar, com licença da Teologia da Libertação, de Construção do Reino de Deus na Terra.
*Lázaro Curvêlo Chaves
**Gracias "Dona F"
terça-feira, 21 de julho de 2009
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2 comentários:
olá rapaz, o autor deste trabalho é o Lázaro Curvêlo Chaves, tem outros textos dele de igual valor em um site denominado culturabrasil.pro.br
espero ter te ajudado.
bjo
A consciencia é interna, unica,individual e imovel. Consciencia coletiva é utopia. Nunca teremos a mesma consciencia. Mas sim podemos fazer a mesma Açao, pq temos os mesmos principios e fins,que fazem parte da CULTURA: externa, plural, coletiva e movel. Mas que Açao buscamos? Que Açoes nos prometem? Que Açoes cumpriram? Que principios temos? Que fim queremos?
Hoje estamos em uma especie de sociedade nihilista beirando o hedonismo. Nos escondemos atras de pseudoideologias embustidas em partidos que pregoam como fariseus no deserto uma verdade coletiva, para que no final o Eu prevaleça sobre o Nós. Disfrutamos o logro coletivo como individual e rejeitamos o prejuizo individual como coletivo. Se a economia cresce, UM comemora como se fosse as maquinas macroeconomicas. Se a Economia quebra, a culpa é dos OUTROS.
É isso que queremos? Nao sei, mas como minimo aceitamos isso, pois vivemos neste mundo, e é só nao ter medo de admitir. Claro que queremos algo mais. Isso se aplica nesta cultura hedonista quase uniforme que existe no mundo ocidental de hoje. Mas, queremos mudar? Siguiremos com o retrato sem marco, torto e SUJO, ou colocaremos uma foto sem alma, em em marco com crucifixos e tambem SUJO.
Os dois quadros sao feios, esnobes e futeis. Mas na amplitude da sala ninguem vai notar mesmo que eles estao ali. A mudança nao muda nada, em quanto nao mudemos nossa cultura. Mas, como mudar?
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