sexta-feira, 29 de agosto de 2008

Poema Seguido de Conjeturas



RITORNO

Da questa lontananza
io parlo.

Parlo cieli parlo uomini
che cacciano l'inizio.

Non ritornerò
da questa colma distanza.

Ho la consistenza del silenzio
primigenio.
Quindi aspetto la fioritura degli arrivi.

Sono partita per sempre,
assieme alle storie
dimentiche di tutti gli inverni.

RETORNO

Dessas distâncias
eu falo.

Digo céus digo homens
que caçam a origem.

Não voltarei
dessa plena distância.

Tenho a consistência do silêncio
primeiro.
Pois espero a floração das chegadas.

Parti para sempre,
com as histórias
órfãs de todos os invernos.

(Prisca Agustoni)

Um pequeno porém muito simbólico texto de Prisca Agustoni, uma jovem escritora suíço-italiana de obra multilíngüe. Pra mim particularmente, esse poema tem o cheiro de um lugar do passado que tão perfeito era, soa hoje como imaterial, como uma dessas fábulas que se cria pra existência ter uma justificação menos miserável do que a cotidiana; mas os tributos cobrados pela vida são irremediáveis, e como sempre, o caminho do encontro é a despedida. O que é em verdade o estado passional senão o afã de momentaneamente reaver os dons que são
por nós descartados com essas vidas de mentira... Eu não sei...
... o importante é que no final, o outro deve mesmo ser apenas uma meta, uma projeção que nasce de uma carência aguda de si mesmo. Ele não existe em verdade.
Se partiu, é porque nunca pertenceu a esse lugar.
Mas o ser humano é deveras um animal viciado pela auto-piedade e sempre busca reciclar o seu lixo por um preço muito maior do que realmente vale.

Um comentário:

Fairy disse...

.. como ela, tb eu anseio pela floração das chegadas.. ainda devo estar no entorpecente estado passional, ciente da inexistência do "outro" fruto dos meus desejos, ms aguardando o que se foi na despedida... talvez seja eu que nunca estive realmente aqui...
inverno longo seria prenúncio de soturna primavera?!?! ... ainda cultivo o jardim...