Levei-te a minha casa mas nenhum de nós dois foi capaz de me encontrar tu por ser já talvez um pouco tarde eu pelos anacronismos do costume
Por isso amada se apesar de tudo nem sempre fomos só iguais a nada teremos de arranjar novo teatro onde a verdade logre melhor lume
mais capaz de a si próprio se tornar esse instante de cada instante único em que o instante ou só passa ou a passagem mais que só consumir-se nos consuma
pois nem o tempo pode outro lugar que não nos falte ou exceda onde nos une
II
Que sabes tu do inferno de onde estou a telefonar-te agora? Mas também como haverias tu de o saber se nem eu sei já onde estou nem bem quem sou?
Porquê tentar de resto que o soubesses em vez de te falar dessa promessa nisso mostrando já melhor cabeça que seria qualquer sítio onde estivesses
por acaso e eu chegasse por acaso e depois sucedesse que em me vendo quisesses cavalgar o tanto atraso de quanto até então eu fora sendo?
E o rio cuja agonia ao fundo estancas singraria as tuas mãos nas minhas ancas *Miguel Serras Pereira
Durante milênios o mundo foi semelhante a essas pinturas italianas da Renascença onde, sobre as lajes frias, são torturados homens enquanto outros olham para outro lado na distração mais perfeita. O número dos “desinteressados” era vertiginoso em comparação com o dos interessados. O que caracterizava a história era a quantidade de pessoas que não se interessavam pela desgraça dos outros. Algumas vezes os desinteressados também se tornavam vítimas. Mas passava-se tudo no meio da distração geral e uma coisa compensava a outra. Hoje toda a gente faz menção de se interessar. Nas salas do palácio as testemunhas voltam-se de súbito para o flagelado.
Deslocações de ar, de palavras, partes do corpo deslocações de sentido nas partes do corpo.
As ribeiras tremem na base das montanhas — geladas, de costas, as montanhas tremem sobre as águas deslocadas de repente.
Os animais apoiam-se no seu próprio sangue. As flores apoiam-se na sua própria cor. As idades apoiam-se na sua própria memória. E o sono desloca-se da terra para o coração.
Vive-se com o coração a tremer como uma montanha sobre ribeiras de luz — e depois a treva desloca-se da idade para o coração como um lugar inteiro.
E um dia os animais passam junto aos lençóis estendidos, e a sua passagem queima a brancura exposta a todas as deslocações.
Então candeias e papoulas deslocam-se sobre imagens cheias de patas — e fechamos os olhos para a terrível dor da carne, respiramos mal, trememos apoiados no nosso próprio terror.
(...)
O dia apoia-se no seu próprio movimento. O peixe apoia-se na sua própria submersão.
O amor apoia-se no seu próprio êxtase.
E as vozes apoiam-se no seu próprio som. Apenas as flores se apoiam no perfume veloz. Apenas os corpos se apoiam nas flores que eles próprios são — atados como ramos de um cego e amargo e monstruoso e veloz perfume, como um perfume de corpos.
As ribeira de luz respiram a prumo. As ribeiras de treva respiram a prumo. Vive-se a tremer com o pavor e a glória. Vive-se de uma ponta à outra o extremo amor, o amor, e a solidão como um lugar inteiro.
(...)
Alguém ferve pela luz adiante até entrar nas trevas e ficar respirando nas trevas.
Um perfume de esperma. Um perfume de salsa. Um perfume de enxofre que estonteia.
Aos parceiros do "Duelos Literários" os gestos do meu mais profundo agradecimento.
Friedrich Nietzsche
"Aquele que não quer ver o que é elevado num ser humano olha com tanto maior acuidade para o que é nele baixo e superficial - e com isso denuncia a si mesmo."
Porto Firme - MG
Uma cidade não é grande por seu tamanho, riqueza ou história, a medida das cidades é a do espaço que conseguem ocupar em nossos corações...
Neruda
"Yo me voy. Estoy triste; pero siempre estoy triste. Vengo desde tus brazos. No sé hacia dónde voy. Desde tu corazón me dice adiós un niño. Y yo le digo adiós..."