sexta-feira, 1 de maio de 2009

Crepúsculo vespertino ou da vida livre I

Um dia o velho sentou-se do lado de fora da casa, como não costumara mais fazer, a essa altura perdera seu nome original, era chamado apenas velho. Começou a lembrar-se de seus dias em outrora, da época de seu triunfo. Nesse tempo, dizia ele, houverão muitas vitórias. Ele lembrara da mulher e da promessa, da sensação que houve por um segundo de que tudo poderia ser melhor. E assim começou a se questionar:
"Será mesmo que um encontro como aquele, realmente existiu? Não! Claro que não. Nós o idolatramos, em nossas cabeças fizemo-lo melhor que ja foi um dia. Eu confiei nos homens e em suas palavras, mas o que resultou disso não foi mais que o cheiro fétido de corpos decompostos. No teatro das boas intenções o aleijo esconde o que falta, o deformado maqueia sua deformidade. O que são os outros além de imagens projetadas? As pessoas passam seus dias em busca da criação de significados maiores que a própria vida, para justificarem a existência a si próprios, isso não passa de sofisma e loucura deliberada. Viver não é mais que ser abortado pela natureza.
O mundo é representação! Ninguém é belo ou poderoso demais sem que um dia lhe aconteça uma desgraça, Édipo furou os próprios olhos ao descobrir que matara seu pai e desposara sua mãe, Héracles um dia após a campanha de Tebas foi punido pela loucura, mantando seus três filhos. Realizar-se é aceitar o fluxo da barbárie, se perder nele. O contrário fatalmente será empresa malsucedida. A história é feita de eventos abomináveis. Não ha beleza além daquela que imaginamos. O homem foi erigido por sob a cal da dor e da frustação, supor que pode ser diferente significa aceitar o fado de eterno prometeu. Não ha futuro, porque o passado foi algo que eternamente não se pode realizar. Esses são tempos de demência. Esperar acreditando num futuro que ha de nascer do útero estéril de um passado sem alma é a maior das insídias. É preciso invocar as mil mão necessárias à tiranização do presente. A esperança é deveras um conceito de escravos! "

As palavras do velho me fizeram estremeçer. Depois daquilo ele levantou-se serenamente, e retornou esquecido à sua cela.

*Leandro M. de Oliveira
**Espero que tenha bastado por momento, envie notícias

2 comentários:

shintoni disse...

Visitei seu blog e gostei muito do que você escreveu. Já está nos meus Favoritos!
Por isso, gostaria de convidar você a participar do blog “Duelos Literários”, no qual as pessoas criam textos sobre temas de sua escolha e os textos são postados no próprio blog.
Passe por lá e, se gostar da proposta, participe!
http://duelosliterarios.blogspot.com/
Um abraço, ótimo domingo e parabéns pelo seu blog!

shintoni disse...

Leandro:
Hoje foi postado este texto. Muito bom!!!!
Valeu mesmo!
Um grande abraço!